Algumas mentiras repetidas várias vezes viram verdades quase absolutas, mas estamos atentos aqui para desmenti-las. Fala-se, por exemplo, que os técnicos de ponta de clubes, como Pep Guardiola, Carlo Ancelotti, Diego Simeone, Luis Enrique, Jorge Jesus, Abel Ferreira, entre outros em atividade na Europa e no Brasil, não curtem a ideia de trabalhar em seleções.
As principais potências do mundo provam o contrário. Até mesmo os badalados Pep Guardiola e José Mourinho manifestaram um dia interesse em degustar uma nova experiência.
A questão é apresentar um projeto de trabalho a curto, médio e longo prazo minimamente organizado, confiável, sustentável e capaz de encantar.
Qual é o plano da CBF para a Seleção nos próximos 10 anos? Existe? Não se sabe desde o fim da Era Tite o que se quer para a Seleção Brasileira. Os estilos desejados desde 2023 simplesmente não combinam. Não há elo entre Ramon Menezes, Fernando Diniz, Dorival Júnior, Carlo Ancelotti, Jorge Jesus ou Abel Ferreira.
A França tem projeto e respeita a palavra-chave: processos. A Seleção é comandada por Didier Deschamps desde 2012. Caiu nas quartas de final na Copa de 2014 no Brasil, amargou o vice em casa na Euro-2016, conquistou o Mundial em 2018 na Rússia, voltou a fracassar na Euro-2020, foi vice na Copa em 2022, perdeu a Euro-2024, mas o trabalho persiste para 2026. A Alemanha fez o mesmo com Jürgen Klinsmann e Joachim Löw no período de 2004 a 2018. Foram 14 anos de respeito ao planejamento.
Didier Deschamps era técnico de clube. Levou o Mônaco ao vice na Liga dos Campeões de 2003/2004. Ganhou a Ligue 1 com o Olympique de Marselha, a Série B da Itália pela Juventus e aí, sim, topou assumir a seleção. Foi finalista das últimas duas Copas do Mundo. Ganhou uma contra a Croácia e perdeu a outra na decisão épica nos pênaltis contra a Argentina.
A Inglaterra convenceu Thomas Tuchel a largar o dia a dia em times de ponta da Europa como Borussia Dortmund, Paris Saint-Germain, Chelsea e Bayern de Munique por encontros em datas Fifa com a seleção da Inglaterra.
Por sinal, a FA deu aula para a CBF. Foi discretíssima nas negociações com o alemão vice-campeão da Champions League em 2020 com o PSG e campeão em 2021 com o Chelsea. Os vazamentos e a falta de destreza de alguns emissários teriam irritado Florentino Pérez e minaram a contratação de Carlo Ancelotti.
Luciano Spalletti não tinha o perfil de técnico de seleção até ser convidado a assumir a Itália. Acumulou bons trabalhos e títulos na Roma, no Zenit São Petersburgo da Rússia e no Napoli, onde conquistou o Campeonato Italiano na temporada de 2022/2023 e consolidou o passo decisivo para assumir a Squadra Azzurra. O Napoli não era campeão italiano desde 1990.
Julian Nagelsmann trocou recentemente a vida de técnico de times para abraçar a causa da seleção da Alemanha no ciclo para a Copa de 2026. O jovem treinador de 37 anos havia colecionado títulos no Bayern de Munique, como a Bundesliga em 2021/2022 e o bicampeonato da Copa da Alemanha em 2021 e em 2022.
Marcelo Bielsa é um técnico híbrido. Transita com facilidade no campo dos treinadores de time e de seleção. Foi campeão no Newell ‘s Old Boys, no Vélez Sarsfield, no Leeds United e na Argentina no inédito ouro em Atenas-2004. El Loco trocou o ambiente de clubes pelos desafios de uma seleção do naipe do bicampeão Uruguai.
O Brasil não seduz técnicos de ponta porque não tem projeto — e muito menos respeitaria os processos. A CBF é vulnerável ao primeiro mau resultado. Os seis anos e meio de Tite no cargo de 2016 a 2022 foram um ponto fora da curva. Enquanto não houver um programa de resgate da Seleção Brasileira, como fizeram Espanha, Alemanha e França, aguardamos por milagres aleatória como o que aconteceu com a Argentina no tricampeonato conquistado em 2022. O projeto era orbitar em torno de Messi, o camisa 10 correspondeu e deu bom.
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