As Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Qatar-2022 começam nesta quinta-feira comprovando o que testemunhamos, há duas temporadas, no Brasileirão: o sucesso dos técnicos lusitanos e argentinos, e o escanteamento dos profissionais do nosso país.
Das 10 seleções candidatas a quatro vagas diretas ao Mundial, e a uma para a repescagem, sete são comandadas por treinadores estrangeiros. Três apostam em profissionais argentinos (Peru, Paraguai e Equador), duas nos portugueses (Colômbia e Venezuela), uma em colombiano (Chile) e outro em venezuelano (Bolívia). Argentina (Lionel Scaloni), Brasil (Tite) e Uruguai (Óscar Washington Tabárez) continuam fiéis ao produto nacional.
Lamentamos a ausência de técnicos brasileiros na Europa, mas, hoje, somos incapazes de exportar profissionais para uma das nove seleções concorrentes do Brasil nas Eliminatórias.
O Brasileirão explica a desvalorização. Atual campeão da Série A, Libertadores, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Carioca, o Flamengo empilhou cinco títulos comandado pelo português Jorge Jesus. Vice em 2019, e líder em 2020 com cinco pontos de vantagem, o argentino Jorge Sampaoli pode quebrar 49 anos de jejum do Atlético-MG. O segundo lugar é do compatriota dele: Eduardo Coudet, maestro do Inter — em abstinência desde 1979.
Depois de quebrar tabu de 16 anos e classificar o Peru para a Copa de 2018, o argentino Ricardo Gareca tentará repetir o feito de 1978 e 1982, quando os peruanos disputaram dois mundiais consecutivos. Ricardo Gareca é aquele que foi demitido pelo Palmeiras, em 2014.
A nacionalidade dos comandantes
Argentina: Lionel Scaloni
Bolívia: Cesar Farias (Bolívia)
Brasil: Tite
Chile: Reinaldo Rueda (Colômbia)
Colômbia: Carlos Queiroz (Portugal)
Equador: Gustavo Alfaro (Argentina)
Paraguai: Eduardo Berizzo (Argentina)
Peru: Ricardo Gareca (Argentina)
Uruguai: Óscar Washington Tabárez (Uruguai)
Venezuela: José Peseiro (Portugal)
O Paraguai ficou fora da Copa em 2014 e 2018. A esperança de voltar ao torneio está nas mãos de outro argentino, o ex-zagueiro Eduardo Berizzo. A última classificação para o Mundial foi conquistada justamente por um técnico argentino: Gerardo Martino, em 2010.
Antes da pandemia, o Equador apostava em Jordi Cruyff, filho do lendário Johan Cruyff. O holandês deixou o cargo. O argentino Gustavo Alfaro, ex-Boca Juniors, assumiu a prancheta.
Há quem culpe o idioma pela falta de oportunidade para os técnicos brasileiros. Saiba você que dois portugueses, que também falam a língua de Camões, cruzaram o Oceano Atlântico para trabalhar na América do Sul orientando em espanhol. O badalado Carlos Queiroz, ex-Real Madrid, comanda a Colômbia. José Peseiro é o responsável por classificar a Venezuela pela primeira vez para a Copa. É o único país da América do Sul que jamais conseguiu o feito.
Mais duas seleções apostam em gringos. O Chile é guiado pelo colombiano Reinaldo Rueda, ex-Flamengo. Adversária do Brasil, a Bolívia é treinada pelo venezuelano Cesar Farias.
Não adianta posar de negacionista. Técnicos brasileiros precisam dar um F5 na carreira para reconquistas mercados tão próximos como a América do Sul ou mais distantes como a Europa.
*Artigo publicado na edição impressa desta terça-feira do Correio Braziliense
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