Até quando insistiremos em apontar o dedo indicador para os vizinhos sul-americanos, principalmente uruguaios, chilenos, paraguaios e argentinos, e insistiremos naquele discurso de que violentos são eles, brigões são eles, catimbeiros são eles, que gostamos e queremos jogar futebol e eles não permitem, que na casa deles nossos times cobram escanteios e laterais blindados por escudos da polícia. Esse é o velho e batido discurso dos brasileiros.
Aí vem o primeiro Gre-Nal na história da Libertadores e expõe aquela batalha campal com pontapés e oito expulsões para a América do Sul ver. Nós, os civilizados, guardiões do jogo bonito (até estava até o pau quebrar), deixamos a bola de lado e partimos para o confronto físico. Foi uma vergonha. Sobretudo porque a confusão partiu dos próprios jogadores.
Em 2015, detonamos a intolerância da torcida do Boca Juniors ao lanças gás de pimenta em direção aos jogadores do River Plate, que retornavam ao gramado do La Bombonera para o segundo tempo nas oitavas de final da Libertadores. Desordem provocada por torcedores. Criticamos ainda o péssimo comportamento dos hinchas do River Plate antes da partida de volta da final da Libertadores de 2018. O ônibus do Boca Juniors foi apedrejado a caminho do Estádio Monumental de Núñez e a decisão foi parar no Santiago Bernabéu, em Madri. O tempo fechou nos dois casos por causa da torcida. No Gre-Nal, a culpa é tão somente dos jogadores, protagonistas de um vexame mundial em um dia tão lindo para a história do clássico.
A última impressão deixada no clássico é lamentável porque o jogo estava bom. Um dos mais equilibrados e bonitos dos últimos tempos. Ah, mas não saiu gol, dirão alguns. Os goleiros, os excessos de capricho nas finalizações, como no lance do centroavante tricolor Luciano, e, principalmente, as traves, não permitiram que a rede balançasse na Arena do Grêmio.
Mais lamentável do que o quebra-pau e o empate por 0 x 0 é a entrevista coletiva pós-jogo do técnico Renato Gaúcho. Com sangue quente, prometeu segundo round no Beira-Rio. Na bola? Não! No braço se for necessário. “Se os caras baterem, meu time vai olhar? Não tenho time de freiras”, avisou na bancada depois deixar o ringue da Arena do Grêmio.
Do outro lado, o argentino Eduardo Coudet era quem sentia vergonha. “Não é algo que gostaríamos. Muitas pessoas olhavam, crianças. A intensidade que se vive numa partida dessas, se passa um pouco mais. Na minha carreira, é a primeira vez que termino com sete na linha. O campo fica muito grande”, lamentou o treinador do Internacional.
Enquanto o próximo Gre-Nal não chega daqui a oito dias pelo Campeonato Gaúcho, provavelmente com times mistos, os dois elencos deveriam ir para o quartinho do castigo refletir sobre a lambança no primeiro duelo pela fase de grupos da Libertadores. Tomara que os dois lados tratem apenas de jogar futebol no Beira-Rio. Afinal, enquanto quiseram, eles mostraram que podem oferecer bem mais do que rivalidade dentro das quatro linhas.
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