Não sou setorista do Flamengo, não vivo o dia a dia do clube no Rio, mas colegas que respiram profissionalmente 24 horas o Ninho do Urubu dificilmente fariam perguntas aleatórias nas entrevistas coletivas do técnico Renato Gaúcho. Cabe a quem analisa de longe, como tento fazer no blog, chamar a atenção para as entrelinhas de algumas respostas.
Uma dessas perguntas aconteceu depois do empate por 1 x 1 com o Red Bull Bragantino, no estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista. Renato Gaúcho foi questionado pelo Canal Rafla Mello sobre o excesso de lesões musculares no elenco rubro-negro. Talvez tenha passado despercebido, mas a resposta de Renato indicou ruído no relacionamento com o departamento médico.
O técnico do Flamengo ficou desconfortável. Ficou um certo climão no ar. “As decisões estão certas. É a sequência de jogos, é o desgaste muito grande. Você vê que tem clubes que jogam uma vez na semana e tem jogador no departamento médico. Imagina o Flamengo, que disputa três competições. Então, pode ficar tranquilo, que a gente sempre procura quatro, cinco cabeças que pensam melhor do que uma. A gente sempre procura tomar as decisões corretas”, disse Renato Gaúcho na FLATV depois do empate com o Bragantino.
O trecho mais relevante da resposta de Renato Gaúcho permite reflexões especificamente sobre a situação do departamento médico. “E lá pro final do ano se a gente achar que algum departamento precisa ser mudado, não sei se eu vou estar aqui ou não, mas pode ter certeza que as pessoas lá de cima estão atentas”, concluiu o treinador rubro-negro.
Se para um bom entendedor meia palavra basta, o ruído causado pela lesão do centroavante Pedro aparenta ser mais um capítulo de uma crise que andava incubada no Ninho do Urubu. Renato elogiou as decisões da comissão técnica lidera por ele em conjunto com o departamento médico, mas, ao mesmo tempo, dá a entender que havia, sim, algo de podre no reino rubro-negro ao afirmar que “as pessoas lá de cima estão atentas”.
Antes mesmo do duelo com o Bragantino, Renato Gaúcho desabafou com Vágner Mancini, então técnico do América-MG, sobre os problemas enfrentados no clube. “Meu time tá todo quebrado. Cansados, machucados”, reclamou. Talvez, quem sabe, a declaração flagrada pela tevê Globo depois do empate por 1 x 1 não tenha repercutido bem no departamento médico rubro-negro. Ali pode ter começado o problema.
Rogério Ceni caiu, entre outras razões, por causa de problemas internos. A comissão técnica e o departamento de análise e desempenho não falavam mais a mesma língua e a corda arrebentou para o lado mais fraco. Naquele episódio, era Ceni. Desta vez, o departamento médico comandado pelo doutor Márcio Tannure está no olho do furacão depois das revelações de Renato Gaúcho na coletiva posterior à derrota por 3 x 1 para o Fluminense.
“A única vez que poupei jogador desde que cheguei ao Flamengo foi contra o ABC, depois de ganhar por 6 x 0. Hoje, nós estamos pagando pelo Bruno Henrique, porque deveria ter sido poupado, vinha se queixando muito do adutor. Colocamos para jogar no meio dessas críticas. Estourou. O Pedro estava com dores muito fortes no joelho. Levamos para jogar contra o Athletico correndo um risco. Jogou 15, 20 minutos e agravou a lesão”, revelou.
Um outro sintoma de que a crise interna é grave foi o cancelamento da entrevista coletiva do vice de futebol Marcos Braz na tarde desta terça-feira. O que ele tinha a dizer? Não se sabe ainda. O conteúdo do discurso seria bombástico? Teria efeitos colaterais nos preparativos do time para o duelo de volta das semifinais da Copa do Brasil nesta quarta-feira contra o Athletico-PR, no Maracanã? Ao menos hoje, o conteúdo foi abafado.
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