Conmebol Messi participou da trama do gol de Papu Gómez na noite em que alcançou recorde. Foto: Conmebol Messi participou da trama do gol de Papu Gómez na noite em que alcançou recorde. Foto: Conmebol

Regulamento bizarro da Copa América transforma noite histórica de Lionel Messi em vitória blasé

Publicado em Esporte

Lionel Messi jogou uma partida especial, a 147ª dele com a camisa da seleção principal da Argentina, como se fosse mais uma. Não era. O jogador eleito seis vezes melhor do mundo igualou o recorde de Javier Mascherano. É o jogador que mais vestiu o uniforme pesado dos bicampeões mundiais. Já era faz tempo o maior artilheiro com 73 gols depois de deixar para trás o excelente Gabriel Batistuta. Agora, virou também um dos mais fominhas. Começaria a partida no banco e foi a campo alcançar marcas.

Depois da vitória por 1 x 0 sobre o Paraguai contada pelo nosso repórter Pedro Marra no site do Correio, Messi escreveu nas redes sociais: “Outra vitória importante para continuar evoluindo. Orgulhoso por ter vestido a camisa alviceleste tantas vezes como o meu amigo Masche (Mascherano), por quem tenho respeito e admiração”, publicou o astro, ainda no vestiário do Estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Na capital da burocracia no Brasil, Messi agiu como os nossos burocratas. Protocolar, entrou em campo para carimbar o país dele nas quartas de final com duas rodadas de antecipação. O regulamento esdrúxulo da Copa América permite que seleções de ponta joguem preguiçosamente. Simulem produtividade. Façam o chamado meio expediente, tão comum por essas bandas. A Argentina jogou bola um tempo só. E olhe lá…

Afinal, para quê se esforçar? Das cinco seleções do grupo, apenas uma não avançará às quartas de final. O bom senso recomenda que o correto seria um regulamento idêntico ao da Copa América de 1989, também realizada no Brasil. Há 32 anos, o torneio teve dois grupos com cinco combinados nacionais, igualzinho a 2021, mas apenas os dois melhores avançavam ao quadrangular final. As partidas eram bem mais interessantes, competitivas. Havia risco de passar vergonha. Ao que parece, os cartolas sul-americanos do passado eram mais inteligentes do que os engravatados pós-modernos.

 

 

Há quem desdenhe da Argentina nessa Copa América e encare o Brasil como favoritaço. Para quem pensa assim, lembro o seguinte: à exceção do Brasil, óbvio, as seleções mais fortes do torneio (estou sendo bonzinho) estão justamente no grupo dos hermanos: Uruguai, Chile e Paraguai. O único adversário mamão com açúcar é a Bolívia. Logo, se a Argentina avançar em primeiro, empurrará as cascas de banana para o lado do Brasil e tem tudo para nadar de braçada até a finalíssima.

Hoje, por exemplo, o Brasil arrisca enfrentar o Uruguai nas quartas de final. A Argentina sentiu isso na pele em 2011. Anfitriã daquela edição, cruzou com o Uruguai nas quartas, em Santa Fé, e foi eliminada precocemente em casa. É clássico. Simples assim. O Brasil também pode enfrentar o Paraguai. Fácil? Não! O Brasil encarou o Paraguai em três das últimas quatro quartas de final. Foi eliminado duas vezes nos pênaltis (2011 e 2015), e avançou, também nos pênaltis, na edição passada, em 2019, na Arena do Grêmio. Sim, o Brasil sobra no continente, mas na próxima fase é mata. Um dia ruim e a dignidade vai para o ralo.

A Argentina joga para o gasto nesta primeira fase para ter a tabela a seu favor. Se a fase de grupos terminasse hoje, por exemplo, um lado da chave ficaria com Colômbia, Paraguai, Brasil e Uruguai. O outro finalista sairia entre Chile, Peru, Argentina e Venezuela. Em tese, um caminho bem mais fácil do que o do Brasil. Com a garantia de que só encontraria Neymar e companhia em 10 de julho, na decisão marcada para o Maracanã.

Lionel Scaloni não veio ao Brasil para jogar bonito. A Argentina e Messi carregam um fardo de 28 anos. A seleção não ganha nada desde a Copa América de 1993, no Equador. Messi empilha vices vestindo a farda albiceleste. Perdeu as finais do torneio continental em 2007, 2015 e 2016, e amargou o segundo lugar na Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

Portanto, que o Brasil não se iluda. A Argentina pode até estar apresentando um futebol fraquinho, de fato está, mas enquanto a Seleção é desafiada a proporcionar diversão e arte a fim de reconquistar a torcida, a “vibe” de Messi e companhia é outra: conquistar esse título a qualquer custo para aliviar a pressão, jogar as Eliminatórias um pouco mais leve e desembarcar confiante no Qatar, em 2022, para a caça ao tricampeonato. Hoje, vejo a tabela da Copa América muito mais favorável ao sucesso da Argentina do que ao deca do Brasil. Como diria Lulu Santos, “há pedras no caminho (da Seleção), que ainda assim é belo”.

 

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