Pelé, 80 anos | Memórias de Antonio Carbajal, o goleiro recordista de participações em Copas

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A lista de goleiros vazados pelo aniversariante do dia, Edson Arantes do Nascimento, na história dos Mundiais é variada. Nosso personagem poderia ser o galês Jack Kelsey, primeira vítima do rei do futebol em 1958; o francês Claude Abbès, que sofreu três em uma só partida nas semifinais; o sueco Karl Svensson, humilhado por Pelé na finalíssima; o búlgaro Gheorghe Naidenov; o tcheco Ivo Viktor; o romeno Steve Adamache; ou o italiano Enrico Albertosi. Mas nenhum deles é o escolhido.

O preferido mora na América. É mexicano, divide com o alemão Lothar Matthaus o recorde de participações em Copas (5) e orgulha-se de dizer ao planeta bola: “Sou um homem feliz por ter sofrido um gol do jogador de futebol mais perfeito que já vi jogar”, brincou em entrevista ao blog, em 2010, o goleiro Antonio Felix Carbajal Rodríguez, camisa 1 da seleção azteca nas Copas de 1950 a 1966. O bate-papo era para falar sobre os 70 anos do Rei, que nesta sexta-feira chegou aos 80. Naquela conversa por telefone, Carbajal tinha 81 anos. A lenda mexicana superou as nove décadas de vida. Tem 91.

QUEM É ELE

Nome: Antonio Felix Carbajal Rodríguez

Nascimento: 7/6/1929 (91 anos)

Local: Cidade do México (México)

Posição: ex-goleiro

Clubes: España e León

Jogos em Copas: 11

Gols sofridos: 25

Carbajal mora na cidade de León, em Guanajuato, um dos 31 estados do México. Lúcido, divertido e objetivo nas respostas, o goleiro aceitou entrar no túnel do tempo e recordar o gol marcado por Pelé, aos 28 minutos do segundo tempo, em 30 de maio de 1962, no Estádio Sausalito, em Viña del Mar, na Copa do Mundo do Chile.

“Hoje, quando lembro daquele jogo, sinto-me um torcedor privilegiado. Não paguei ingresso. Estava no melhor local, ou seja, debaixo das traves, e caí sentado depois de ser hipnotizado pela beleza do futebol de Pelé”, encanta-se o goleiro mexicano.

42 goleiros sofreram pelo menos um dos 77 gols de Pelé pela Seleção

A reconstituição do gol na memória de Carbajal começa com um certo exagero. “Ele (Pelé) driblou seis dos nossos jogadores e chutou no canto direito do meu gol”, recordou. Enquanto ele narrava, acompanhava o lance do gol no YouTube. Lembrado de que, na verdade, Pelé passou por quatro mexicanos antes de finalizar, Carbajal soltou uma gargalhada e disparou: “Dois foram driblados de uma só vez, o terceiro perdeu a dividida, o quarto foi driblado e os outros dois que estavam à minha frente, também. Não pelas pernas dele, mas pelo olhar traiçoeiro de Pelé. Ele não passou pelos últimos dois, mas os enganou usando tão somente a visão espetacular. Ninguém esperava um chute tão rápido”, lembra.

A estreia de Carbajal em Mundiais foi em 24 de junho de 1950, no Maracanã, contra o Brasil. Diante de 81.649 torcedores, o mexicano sofreu os quatro gols marcados por Ademir (2), Jair e Baltazar.

Maravilhado, Carbajal defende que o lance do gol é um resumo do que foi o jogador Pelé. “Primeiro, ele me impressionou por ter lançado a bola de um lado e retomado do outro diante de dois jogadores nossos (o famoso drible da vaca). Na continuação do lance, mostrou força ao dividir a bola com um terceiro jogador. Mesmo desequilibrado e quase caído, passou por um quarto e diante de mais dois zagueiros teve fôlego, equilíbrio e técnica para acertar o meu canto direito chutando com a perna esquerda. Só vi Diego Armando Maradona fazer isso aqui no México, na Copa de 1986”, comparou.

Questionado se Maradona foi tão bom quanto Pelé, Carbajal deixou o bom-humor de lado e alterou a voz. “Pelé é único. É rei. É deus. Maradona é um mal educado, prepotente, usou drogas”, lamenta. “Pelé nunca precisou recorrer a essas coisas para ser gênio. É uma classe de pessoa, civilizado, um grande ser humano respeitado até hoje, como vi na África do Sul em nosso último encontro. Abaixo dele, só vejo Di Stéfano, outro fenômeno que coloco acima de Maradona e abaixo de Pelé”.

Um bate-bola com Carbajal, goleiro-ídolo do México

Como foi o seu último encontro com Pelé?

Estivemos juntos na Copa do Mundo da África do Sul. Tentamos almoçar, mas foi impossível. Eu estava ao lado dele caminhando. Conversávamos um segundo e tínhamos de parar. Muita gente pedia autógrafo, queria tirar foto com ele. O que mais me chamou a atenção é que, ao contrário de algumas estrelas do futebol atual, ele parava para atender a todos com muita simplicidade. Mas aí chegou um ponto que quem desistiu de andar fui eu (risos).

O que mais te chamava a atenção no jeito dele jogar?

A maneira como Pelé cabeceava. Achava incrível como ele tinha tanto poder de colocação, impulso e força para finalizar de cabeça. Eu estava no Azteca (palco da final da Copa de 1970) quando o vi saltar e cabecear como se fosse um torpedo para dentro do gol do Albertosi. Parecia que ele tinha parado no ar como um canhão para fuzilar o gol da Itália.

Até que ponto chegou a sua amizade com Pelé?

A ponto dele me pedir conselhos para repassar ao filho dele (Edinho) que tinha decidido ser goleiro. Isso aconteceu na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994. Nos encontramos e eu dei várias dicas, entre elas treinar muito forte e ser um líder. Goleiro precisa ser um líder. Mais tarde, ele (Pelé) me procurou muito triste para falar do problema do filho com drogas, mas não quero falar sobre isso.

Mandou um suéter verde para o Edinho?

Não, não, o suéter verde que eu usava quando era goleiro era uma marca minha, só minha (risos).

Qual é a sensação de ter sofrido um gol do Rei?

Quando você joga não é nada agradável. É doloroso. Banks, eleito merecidamente o protagonista da melhor defesa da história das Copas, e outros, como Mazurkiewicz, conseguiram evitar, mas eu me orgulho de ter sofrido pelo menos um. Por isso sou lembrado, por isso você me ligou (risos).

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Marcos Paulo Lima

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