A pátria de chuteiras virou a pátria de prancha. Do skate de Rayssa Leal e de Kelvin Hofler. Do surfe de Ítalo Ferreira. De um Brasil que põe o pé na tábua para torcer por modalidade radicais novatas nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Do país que descobre outros esportes além do bretão.
A conquista de Ítalo Ferreira nesta madrugada no Brasil, tarde no Japão, não chama a atenção apenas por se tratar de uma medalha dourada. Coloca em foco o Nordeste. Nosso herói dos mares nasceu em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte. É potiguar. Começou surfando em tampas de isopor. Talvez por isso não tenha sentido falta da prancha quando ela se espatifou no início da decisão. Sem a preferida, andou sobre as águas com a reserva e teve uma exibição brilhante, sem dar chance para o adversário japonês.
Na véspera da glória de Ítalo, uma criança de Imperatriz, no Maranhão, conquistou medalha de ouro no skate street. Outra nordestina no pódio. Sem vergonha das origens. Com voz de gente inocente, pura, de apenas 13 aninhos.
Ítalo Ferreira e Rayssa Leal provam que o esporte não está apenas nos grandes centros do país. É preciso continuar investindo em uma região tão importante do nosso país. Um celeiro de atletas de ponta. Há expectativa pelo baiano Isaquias Queiroz, o conterrâneo dele Daniel Alves, capitão da Seleção de futebol masculino, pela alagoana Marta e tantos outros nordestinos que fazem do esporte um contra-ataque ao preconceito.
O Nordeste deu ao Brasil oito medalhas nos Jogos do Rio-2016. Já são duas em Tóquio. Uma de ouro e outra de prata. Desempenho digno de aplausos. O Brasil precisa aprender muito com a simplicidade de todos os nossos atletas, medalhistas ou não, mas, principalmente, com Rayssa e Ítalo Ferreira. Os pés deles estão só um pouquinho acima do chão na prancha do skate ou do surfe. O suficiente para não perder o foco, fazer história e subir ao pódio.
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