Os vira-casacas de um Fla-Flu que virou a casaca

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Os amigos imaginários de Nelson Rodrigues jamais perdem um clássico. Quem dirá um Fla-Flu! O Sobrenatural de Almeida, o Gravatinha, a Grã-Fina das narinas de cadáver e outras figuras criadas pelo escritor tricolor vão estar — nem que seja em espírito — em algum lugar do Pacaembu prontos para usar seus poderes. Mas o personagem real do clássico deste domingo, às 16h, pela segunda rodada da Taça Guanabara, pode ser outro: o vira-casaca. O técnico Muricy Ramalho, o atacante Emerson Sheik, o meia Diego Souza, o lateral Wellington Silva e o diretor executivo rubro-negro, Rodrigo Caetano, conhecem o peso das duas camisas no clássico mais charmoso do país. Até a rivalidade mudou de lado ao fazer a ponte aérea e trocar mais uma vez o Rio por São Paulo — em 1942, o Pacaembu também recebeu um Fla-Flu.

Lamartine Babo diz no hino rubro-negro que “no Fla-Flu é um ai, Jesus”. Muricy Ramalho, por exemplo, já pediu demissão depois de um deles. Em três clássicos à frente do tricolor, venceu o Flamengo por 2 x 1 e empatou por 3 x 3 no Campeonato Brasileiro de 2010. Mas foi o 0 x 0 de 13 de março de 2011, justamente pelo Carioca, que marcou Muricy. Ele pediu demissão depois do Fla-Flu no Engenhão. “Tomei esta decisão há alguns dias, mas, devido ao clássico, achei correto esperar o jogo. Quando cheguei, foram prometidas duas condições: uma equipe para ser campeã e a melhoria na estrutura física do clube. A primeira foi conquistada com o título brasileiro de 2010, e a segunda, a melhoria na estrutura, não foi realizada”, alegou. O vira-casaca Muricy saiu das Laranjeiras reclamando que tinha até rato nas Laranjeiras. Em 21 de fevereiro, Muricy conheceu o outro lado da moeda ao derrotar o Fluminense à frente do Flamengo por 2 x 1, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.

O Fluminense tem na prancheta dois jogadores com passagem pelo Flamengo. Revelado em Xerém, o camisa 10, Diego Souza, foi campeão da Copa do Brasil em 2006 vestindo o “manto” rubro-negro. Porém, se desapegou do clube da Gávea. Não perdeu oportunidades de alfinetar o Flamengo no Vasco e até na passagem pelo Sport. Chegou a jogar de goleiro no Maracanã contra o clube, fez gol e provocou ao festejar. “A comemoração vai para a torcida do Sport, que vibra bastante e tem essa rivalidade de 1987 com o Flamengo. Mas 1987 é nosso”.

O antídoto do Flamengo é Emerson Sheik. Autor do gol do título brasileiro do Fluminense em 2010 diante do Guarani, o atacante deixou as Laranjeiras depois de uma polêmica. O atacante cantou dentro do ônibus tricolor o hit Bonde do Mengão sem freio, funk que embalou a conquista do título carioca do Flamengo em 2011. “Cantei, mas não cantei sozinho. Outros jogadores cantaram também, mas só eu paguei o pato”, reclamou, atribuindo a Fred a saída das do clube. “Eu não tenho culpa de ter feito o gol do título (brasileiro) em 2010. Mas tem gente que não gostou”, disse na volta ao Flamengo. Questionado sobre a relação com Fred nos tempos de Fluminense, o Sheik afirmou: “A gente não teve uma relação de amigos fora de campo”.

Cotado a ser o sucessor de Leonardo Moura no Flamengo, Wellington Silva virou a casaca em 2013. Hoje, é o dono da lateral direita tricolor, praticamente um dos intocáveis na defesa, mas quase teve o mesmo destino de Emerson Sheik no Fluminense. O jogador assistiu à final da Copa do Brasil entre Flamengo e Atlético-PR na casa do rubro-negro Vágner Love e postou uma foto ao lado do amigo nas redes sociais. “Conversamos com ele e fizemos uma cobrança. O Wellington Silva fez suas ponderações. Qualquer punição, se houver, ficará no âmbito interno”, disse à época Rodrigo Caetano — hoje diretor executivo de futebol de quem mesmo? Do Flamengo!