Poucos times têm capacidade de transformar volantes em artilheiros como o Corinthians. Foi assim na Era Mano Menezes com Jucilei e Elias. Na gestão de Tite, Paulinho funcionava como homem surpresa. Os quatro pontos conquistados contra o Boca Juniors na fase de grupos da Libertadores tiveram cães de guarda do meio de campo no papel de protagonistas.
Maycon desequilibrou na vitória por 2 x 0 no primeiro turno ao fazer os dois gols, na Neo Química Arena. Du Queiroz pisou na área, no Estádio La Bombonera, e balançou a rede pela primeira vez na carreira com a camisa do Corinthians. Abriu o placar, mas a expulsão do colega colombiano Cantillo deixou o time sob pressão e o sobrecarregou até o apito final.
Du Queiroz entrou na vibe dos volantes-artilheiros. Danilo tem balançado a rede no Palmeiras. Willian Arão virou talismã do Flamengo. O cabeça de área do Corinthians finalmente cum a promessa de feita ao pai de fazer gol com o manto do Corinthians. Incomodado, chegou a dizer em tom bem humorado que seu velho enchia o saco nas cobranças.
“Muito feliz pelo gol, estava amadurecendo. Veio meus pais na cabeça, só eu e eles sabemos o que passamos para estar aqui. Graças a Deus conseguimos. Feliz, sabíamos que seria um jogo difícil, mas ponto importante”, discursou, com elogios ao técnico. “Vítor Pereira foi uma peça importante para mim. Está me fazendo evoluir, fazendo trabalhos à parte. Estou numa crescente, tenho muito a evoluir e aprender”, disse Du Queiroz na entrevista coletiva.
Uma das virtudes do Corinthians é o estilo camaleão adotado pelo técnico Vítor Pereira. Além de ser bem sucedido no rodízio, o treinador surpreende os adversários com diferentes planos de jogo. Nesta terça-feira, configurou o time no sistema 5-3-2. A blindagem ao goleiro Cássio funcionou devido ao gol marcado cedinho, aos 16 minutos, na única finalização da equipe alvinegra na partida inteira. Em vez de aproveitar para se impor, a equipe alvinegra recuou.
Ao abrir mão da bola, o Corinthians deixou o Boca Juniors crescer dentro do alçapão. Aceitou as provocações de um anfitrião inferior tecnicamente, teve Cantillo e Vítor Pereira expulsos, viu Benedetto igualar o placar, mas soube sofrer com um jogador a menos até o apito final. Encaminhou a classificação para as oitavas e sustentou a série de sete jogos de invencibilidade.
Vítor Pereira deu mais uma prova de personalidade. Iniciou jogo grande com jovens no time e Gil, Renato Augusto, Giuliano e Róger Guedes no banco de reservas. Outros treinadores não abririam mão da experiência. Entre os mais rodados, só mandou a campo Fábio Santos, Jô e Willian para pressionar a saída de bola do Boca. Quando o gás acabou diante da forte pressão, trocou atacantes por marcadores e armadores para sustentar o placar no meio de campo. Mais aí, Cantillo, que havia entrado no lugar de Maycon, comprometeu a mudança de rumo tático.
O Corinthians encerrou a partida com 25% de posse de bola. A prova de que, mesmo saindo à frente no placar, abriu mão de jogar e permitiu que a partida se transformasse em uma espécie de Batalha de La Bombonera, exatamente o que pretendia o time xeneize. No fim, a vitória fez parte do processo de amadurecimento de um trabalho em evidente evolução.
Ao que parece, cada um sabe o seu papel e comprou as ideias de Vítor Pereira. O clássico do fim de semana contra o São Paulo, na Neo Química Arena, será um excelente teste para o líder do Brasileirão, classificado para as oitava da Copa do Brasil e com vaga encaminhada para o mata-mata da Libertadores. Ou alguém duvida de uma vitória em casa sobre o Always Ready?
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