O “jeitinho marroquino” do Botafogo de Luis Castro na liderança isolada do Brasileirão

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Antes de falar do Botafogo, você lembra da campanha do Marrocos na Copa do Mundo do Catar em 2022? A seleção africana termina a competição em quarto lugar tendo menos posse de bola do que todos os adversários: Croácia, Bélgica, Canadá, Espanha, Portugal, França e novamente a Croácia na decisão do terceiro lugar. Nas oitavas de final, o time de Wahid Regragui teve 23% contra 77% diante da Espanha, mas suportou o tempo regulamentar, a prorrogação e avançou nos pênaltis. Havia marcação, intensidade, velocidade na transição e consciência de que era preciso aproveitar o mínimo espaço concedido pelo adversário para lacrá-lo. Controlar o jogo sem ter a bola — e superá-lo — também é uma arte. Das mais desafiadoras!

Líder do Brasileirão pela segunda rodada consecutiva, o Botafogo lembra Marrocos até na largada surpreendente. Quem apostava na classificação na fase de grupos contra Bélgica, Croácia e Canadá? Alguém diria que o Glorioso estaria em primeiro lugar na quarta volta da Série A com 100% de aproveitamento? Pois a realidade é essa. Com jeitão marroquino. Se o goleiro Bono era um dos caras do Marrocos com intervenções miraculosas, Lucas Perri é um dos protagonistas do Botafogo. Uma das travas de segurança da defesa.

O Botafogo enfrentou o São Paulo na estreia. O técnico tricolor ainda era Rogério Ceni. Os times do ex-goleiro gostam de ficar com a bola. O Alvinegro não se sentiu minimamente incomodado com isso. Conseguiu se adaptar ao jogo e fez muito com tão pouco. Venceu por 2 x 1 tendo apenas 32% de posse contra 68% do adversário.

Na segunda rodada, foi até Salvador enfrentar um Bahia recém-incorporado ao City Group, a multinacional dos Emirados Árabes Unidos que banca clubes como o Manchester City de Pep Guardiola. Uma das filosofias do principal braço da companhia é ter a bola nos pés. O time comandado pelo portugês Renato Paiva perdeu para o Botafogo por 2 x 1 ostentando 60% de posse. O visitante construiu o resultado com 40% e saiu contente de Salvador.

Menos posse, mais vitórias, 100% de aproveitamento

  • Botafogo (32%) x (68%) São Paulo
  • Bahia (60%) x (40%) Botafogo
  • Flamengo (74%) x (26%) Botafogo
  • Botafogo 39% x 61% Atlético-MG

Jorge Sampaoli assumiu o Flamengo cobrando respeito à bola. Atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, o elenco mais caro e badalado da América do Sul teve a bola nos pés durante 74% do jogo. O Botafogo precisou de 26% para triunfar por 3 x 2.

O adversário na quarta rodada era duríssimo. O Atlético-MG segue a linha de trabalho do técnico Eduardo Coudet de ter a bola, o controle da partida e criar ações ofensivas. O Galo saiu do estádio Nilton Santos com posse de 61%, mas quem ganhou três pontos na classificação foi novamente o Botafogo. Vitória por 2 x 0 com apenas 39% de controle.

Lembro-me de ter acompanhado uma das coletivas do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa, em Doha. O tema era justamente a incrível posse de bola da Espanha. Os ex-técnicos Arsène Wenger e Jurgen Klinsmann criticaram a troca de bola excessiva. Até mesmo o técnico do Marrocos desabafou sobre as cobranças pela posse de bola antes de enfrentar a França na semifinal da Copa do Catar. “É incrível como vocês jornalistas gostam de posse de bola. Mas de que vale a posse de bola se você finalizar só duas vezes?”, questionou.

Regragui acrescentou: “Se (o presidente da Fifa, Gianni) Infantino começar a dar pontos por posse de bola, aí será diferente. Guardiola foi meu ídolo, referência por muito tempo. Fiquei louco, queria ter posse de bola e tudo. Mas, quando você tem jogadores como De Bruyne, Bernardo Silva, fica mais fácil, você tem que ter a bola. Não queremos percentual, queremos vencer”, avisou na véspera da derrota para a França na semifinal da Copa. Guardadas as devidas proporções, o Botafogo lembra muito Marrocos. Resta saber como se comportará quando o adversário deixar o Botafogo mais tempo com a bola nos pés. A ver…

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Marcos Paulo Lima

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