Dezesseis anos separam tempos de abundância de talento da Seleção nas oitavas de final da Copa de 2006 contra Gana em uma vitória por 3 x 0 sob o comando de Carlos Alberto Parreira; da era de escassez do Brasil em outro triunfo pelo mesmo placar diante do adversário africano nesta sexta-feira, em Le Havre, na França, no penúltimo amistoso da família Bachi antes do anúncio da lista final e da estreia contra a Sérvia no Catar, em 24 de novembro.
Em 27 de junho de 2006, um favorito Brasil despachava Gana da Copa com uma formação que era um deboche perto da escalação de hoje do competente Tite. Parreira tinha ótimos nomes em todas as posições. O goleiro era Dida. Os laterais, Cafu e Roberto Carlos. A zaga contava com Lúcio e Juan. Emerson e Zé Roberto formaram o par de volantes naquele jogo. Do meio para a frente havia o quadrado mágico: Kaká, Ronaldinho Gaúcho e dois centroavantes temidos: Ronaldo, o fenômeno, e Adriano, o imperador.
Aquele Brasil, sim, tinha obrigação de conquistar o hexa. As seleções de 2010, 2014, 2018 e essa ajustada por Tite a 58 dias do início da Copa pagam por aquele desperdício. Lembrando: aquele timaço no papel foi reduzido a timinho por Zidane nas quartas de final.
De lá para cá, Dunga, Luiz Felipe Scolari e Tite convivem com a escassez de jogadores fora de série. Friso: acima da média. O time da vitória de hoje diante de Gana tem goleiro. Alisson é excepcional. A dupla de zaga formada por Thiago Silva e Marquinhos impõe respeito. Mas há carências nas laterais. Éder Militão começou na posição, mas compôs a lateral direita como zagueiro para suprir a falta de um Cafu, o que Parreira desfrutava em 2006. O reserva do capitão era simplesmente Cicinho. Na outra banda, Roberto Carlos! Sem o titular Alex Sandro, Tite iniciou a partida com Alex Telles, ou seja, nada demais.
Do meio para a frente há bons jogadores, mas não como em 2006. Casemiro seria titular no Brasil que eliminou Gana em 2006 e nesse da vitória de hoje. Lucas Paquetá é ótimo, mas não excelente. Raphinha, Vinicius Junior e Richarlison seriam reservas, como foram Fred e Robinho naquele Mundial. Neymar, sim, ameaçaria as titularidades de Kaká ou Adriano. Ronaldinho Gaúcho era o melhor do mundo à época. Ronaldo, o astro da companhia.
A comparação entre o Brasil que venceu Gana por 3 x 0 em 2006 e esse que repetiu o placar de hoje dá a dimensão do esforço de Tite para tornar esse grupo vitorioso no Catar. O torcedor nem sempre tem a conexão desses ciclos entrelaçados de Copa do Mundo. A partir de 24 de novembro, sentará no sofá em frente à tevê para cobrar, xingar e transformar em meme quem não agrada. Ignora times castigados duramente pelo pecado cometido por Carlos Alberto Parreira e seu quadrado mágico há 16 anos, na Alemanha.
De volta ao presente, a vitória de 2022 contra Gana provou que o Brasil será competitivo no Catar. Não sabemos ainda contra os europeus Sérvia e Suíça. Nem possivelmente diante de Portugal nas oitavas. O bom é saber que, ao contrário de 2018, Tite tem diferentes versões de time. Na de hoje, Éder Militão ajudou a defesa a mostrar um posicionamento camaleônico. Posicionou-se em linhas de três, quatro e cinco no bom primeiro tempo.
O meio de campo e o ataque mostraram alternâncias na criação. Houve ataques iniciados pela direita, investidas pelo meio, bons lances na canhota iniciados por Vinicius Junior e muita movimentação de Lucas Paquetá e de Neymar. Para mim, bela partida do camisa 10. Pressionado por Pedro, Matheus Cunha, Firmino e Gabriel Jesus, este garantidíssimo na Copa do Mundo para mim, Richarlison colocou duas bolas na rede no papel de camisa 9 e reservou assento na aeronave verde-amarela rumo ao Catar.
Dos seis jogadores colocados em campo durante a partida, Fabinho é o único garantido. Reserva imediato de Casemiro. Bremer, Éverton Ribeiro, Antony, Matheus Cunha e Rodrygo tiveram direito a minutos de fama. Para mim, o jogador do Real Madrid irá ao Catar. E o Pedro? O centroavante da moda será titular na terça-feira contra a Tunísia.
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