Sim, são situações diferentes. A Juventus começou a Série B do Campeonato Italiano com -9 pontos na temporada 2006/2007 devido ao rebaixamento causado pelo escândalo Calciopoli (esquema de manipulação de resultados). Condenado à segunda divisão em campo, o Cruzeiro largou com -6 no último sábado por causa de débitos com o Al Wahda dos Emirados Árabes Unidos relativos ao empréstimo do volante Denílson. Há algo em comum entre as crises do passado da Velha Senhora e do presente do time celeste: a necessidade de uma arrancada nas primeiras rodadas para zerar a pontuação em busca de tranquilidade para o retorno à elite.
O Cruzeiro venceu o Botafogo-SP na estreia por 2 x 1. Desceu de -6 pontos para -3. Se derrotar o Guarani na noite desta terça-feira, às 20h30, no Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, o time celeste finalmente começará do zero a maratona por uma das quatro vagas para a primeira divisão. Como a Série B está prevista para terminar em 30 de janeiro de 2021, o acesso seria o presidente de 100 anos do clube – celebrado 28 dias antes, em 2 de janeiro.
A situação do Cruzeiro é mais confortável que a da Juventus. Há 14 anos, uma das penas impostas ao clube italiano era começar a segunda divisão com -30 pontos. A diretoria recorreu e caiu para -17. Insistiu na Justiça e derrubou a pena para -9.
Tapetão à parte, a Juventus comprou a briga dentro das quatro linhas quando a bola rolou para a temporada 2006/2007 da Série B do Italiano. Tropeçou na estreia contra o Rimmini ao empatar por 1 x 1, mas depois venceu oito partidas consecutivas, saiu do vermelho e ficou no azul na classificação geral da segunda divisão. Um alento para brigar pelo troféu. Foram necessários quatro jogos para o time sair do negativo.
A largada da Juventus na Série B 2006/2007
- A Velha Senhora começa com -9
- Rimmini 1 x 1 Juventus (-8)
- Juventus 2 x 1 Vicenza (-5)
- Juventus 4 x 0 Modena (-2)
- Piacenza 0 x 2 Juventus (1)
- Termina campeã com 85 pontos, seis à frente do vice Napoli
Sob o comando do técnico francês Didier Deschamps, que levou a França ao bicampeonato mundial na Copa da Rússia em 2018, a Velha Senhora conquistou o título por antecipação e retornou à elite. Claro: a diferença financeira em relação aos outros 21 concorrentes era absurda. O elenco contava com o goleiro Gianluigi Buffon, o zagueiro Giorgio Chiellini, Alessandro Del Piero, David Trezeguet e Pavel Nedved. Não há comparação com o limitado elenco do Cruzeiro liderado por Enderson Moreira.
A Juventus conquistou o título da segunda divisão com 85 pontos, seis a mais do que o vice Napoli. Foram 28 vitórias, 10 empates e 4 derrotas. Marcou 83 gols e sofreu 30. Campanha incontestável. De volta à elite na temporada 2007/2008, fechou o Campeonato Italiano em terceiro lugar numa prova definitiva de que o gigante havia despertado da queda.
Não basta ao Cruzeiro se inspirar na Velha Senhora de 122 anos. A Raposa quase centenária precisa se reinventar com juízo, o que tem faltado – e muito – ao clube mineiro. No início do ano, mostrei numa entrevista com o técnico que resgatou o River Plate da Série B como a reconstrução do clube argentino também pode motivar o projeto celeste. Agora, cito a Juventus. Enderson Moreira e o elenco precisam de paz para cumprir a missão possível até 30 de janeiro.
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