O enredo da classificação dos adolescentes do Brasil para a final do Mundial Sub-17 lembrou demais a reação dos homens da Seleção na final da Copa das Confederações de 2009, na África do Sul. Há 10 anos, os comandados de Dunga foram para o intervalo perdendo por 2 x 0 para os Estados Unidos. O título parecia perdido. Porém, dois gols de Luis Fabiano e um do zagueiro e capitão Lúcio decretaram a eletrizante reviravolta no Estádio Ellis Park, em Johannesburgo, e o Brasil faturou o troféu.
O triunfo sobre a França não é heroico apenas devido ao terrível retrospecto contra a França em todas as categorias. Perdemos ouro olímpico eles nos Jogos de Los Angeles-1984, a decisão da Copa do Mundo de 1998 por 3 x 0 e tombamos em duas quartas de final — 1986 e 2006. No Mundial Sub-17 de 2001, a geração de Diego caiu nas quartas de final.
A operação caça-fantasmas no Bezerrão teve o que falta faz tempo à Seleção e a muitos clubes do futebol brasileiro: alma, coração, gana, raça. Quando não dá na bola, na inspiração, tem que ser na transpiração, mesmo. O Brasil poderia ser mais forte, sim, com os talentos de Reinier e Talles Magno. Mas este grupo comandado pelo competente Guilheme Dalla Déa parece predestinado a mostrar a que tanto depende de Neymar que um time também se faz com time, ou seja, futebol coletivo — algo raro na história de uma escola viciada em se escorar no talento individual. Que se gaba de Romário ter levado o Brasil nas costas ao tetra; e Ronaldo, ao penta. Os últimos quatro campeões da Copa do Mundo — Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018) mostram que a fórmula mudou.
Os adolescentes que brigarão pelo tetra domingo contra o México, no Bezerrão, às 19h, passaram o vexame de não se classificar em campo para o torneio. Com Reinier e tudo, foram reprovados na fase de grupos do Sul-Americano Sub-17. Então, houve a reviravolta. Anfitrião original do Mundial, o Peru não cumpriu o caderno de encargos da Fifa. Coube ao Brasil dar uma forcinha ao presidente Gianni Infantino e organizar o torneio com sucesso a toque de caixa. Consequentemente, o Peru perdeu a vaga na competição para o novo hóspede.
Quando Guilherme Dalla Déa esperava contar com força máxima para provar que o vexame no Sul-Americano não passou de um acidente, vieram as notícia das perdas aparentemente irreparáveis de Reinier, vetado pelo Flamengo; e de Talles Magno, que se machucou nas oitavas de final contra o Chile, no Bezerrão. Haja poder de superação…
Apesar das baixas, cada menino assumiu papel de homem. Uns assumiram a responsabilidade de titular. Outro aguardar a hora chegar. João Peglow herdou com louvor a 10 de Reinier. Como joga para o time! Pedro Lucas brilhou nas quartas de final contra a Itália. Nesta quinta-feira, Lázaro saiu da discrição no banco de reservas para a noite mais feliz da vida de um moleque. A joia do Flamengo jamais esquecerá o chute que decretou a virada por 3 x 2 sobre a França. Repito: desfecho idêntico ao daquela final da Copa das Confederações 2009. Do 0 x 2 para 3 x 2.
Na história do Mundial Sub-17, apenas um anfitrião conquistou o título. Exatamente o México na edição de 2011. Derrotou o Uruguai por 2 x 0 no Estádio Azteca diante de 98.943 pagantes. Por sinal, público recorde na história da competição. É justamente no México que o Brasil precisa se inspirar para dar a volta olímpica no Bezerrão. O tetracampeonato, que parecia perdido desde o Sul-Americano Sub-17, nunca esteve tão perto dos meninos que viraram homens no Mundial.
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