A vitória do Flamengo contra o Corinthians neste domingo pela sétima rodada do Campeonato Brasileiro lembra aquele trecho da canção Epitáfio do Titãs: “(…) o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído (…)”. Jorge Sampaoli teve mais sorte do que juízo no duelo tático com Vanderlei Luxemburgo, no Maracanã. O argentino foi travado pela marcação quase impecável do time alvinegro, pagou caro pelas más escolhas antes e durante a partida e viu o gol do zagueiro machucado Léo Pereira, improvisado de centroavante, abafar os gritos de “burro”.
Sim, não é fácil perder Éverton Ribeiro e Arrascaeta antes de qualquer partida. Contra o Corinthians, então, independentemente da fase, é ainda mais grave. A questão é como o técnico lidou com a dificuldade. As escolhas se mostraram ruins. Gerson e Victor Hugo tiveram uma dificuldade imensa de encontrar espaço contra um Corinthians plantado no campo de defesa à espera dos contra-ataques. Por sinal, eles apareceram e foram desperdiçados pelo adversário.
Você pode gostar ou não, mas tenho uma tese sobre o trabalho do Jorge Sampaoli. Dizem que um time é o espelho do técnico. A andação do comandante rubro-negro de um lado para o outro à beira do campo é uma ansiedade incontrolável que passa para dentro do campo, contagia. As equipes lideradas por ele quase sempre são agoniadas como ele. Extremamente ansiosos. Assim como ele, circulam a bola para lá e para cá, de um lado para o outro e… nada! Isso precisa ser tratado individualmente por Sampaoli e coletivamente pelo elenco do Flamengo. A Argentina, por exemplo, sofreu muito com esse jeitão do Sampaoli enquanto esteve sob a batuta dele.
O Flamengo foi um time ansioso durante todo o duelo com o Corinthians. Rodou a bola de um lado para o outro como se fosse o Jorge Sampaoli caminhando à beira do campo. Faltava objetividade dentro e fora das quatro linhas. O que explica um time ostentar 65% de posse de bola e finalizar 10 vezes contra 15 de um adversário que controlou apenas 35% da partida?
Uma das justificativas é o excelente plano de jogo do técnico Vanderlei Luxemburgo. Ciente das dificuldades do time, o professor alternou as configurações 4-4-2 e 4-5-1. Nunca me esqueço de uma daquelas frases de efeito do velho Luxa. Houve uma época em que ele adorava comparar as equipes dele ao extrato de tomate. Afirmava que os jogadores deveriam atuar concentrados, compactador, em blocos quase intransponíveis. Pois assim se comportou o Corinthians.
Impotente para invadir a área adversária com a bola no chão, o Flamengo isolou o centroavante Pedro. Como a bola não chegava até ele, Sampaoli trocou o camisa 9 pelos dribles do arisco Éverton Cebolinha na tentativa de quebrar linhas. Não conseguiu porque o Corinthians dobrava a marcação em cima dele. Além disso, ninguém se aproximava do ponta. Nem mesmo o lateral Ayrton Lucas encostava para auxiliá-lo porque vigiava os contra-ataques da trupe paulista.
A incapacidade de arrombar a fechadura do Corinthians levou o Flamengo a cruzar bolas para dentro da área, mas Pedro havia deixado o campo. Quem cabecearia? Gerson trocou temporariamente a função de armador pela de falso nove. Sampaoli queria alguém alto para disputar a bola com Gil e Murilo. Não vingou, até que a sorte sorriu para os donos da casa. Léo Pereira sentiu dor muscular. Não se aguentava em campo.
O técnico havia queimado todas as substituições. A solução foi corrigir o erro de ter sacado Pedro. Sampaoli mandou o zagueiro para dentro da área e teve êxito. Gerson, de volta ao papel de meia, aciona Éverton Cebolinha na esquerda e o ponta, em vez de arriscar o drible, cruza milimetricamente na cabeça de… Léo Pereira. Mais sorte do que juízo.
Castigado pelo lance crucial, o Corinthians segue atolado na zona do rebaixamento. Mesmo assim, o time apresentou pequenas evoluções. Luxemburgo está claramente arrumando o time de trás para a frente. A defesa começa a apresentar solidez. A presença de Paulinho como primeiro volante é uma bela sacada. Melhora muito a saída de bola. O sistema aguarda pelo retorno de Renato Augusto para assumir o papel de articulador e facilitar a vida da dupla de ataque formada por Yuri Alberto e Róger Guedes. Ambos precisam colaborar e acertar o pé.
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