O duelo entre Chile e Brasil, às 22h, no Estádio Monumental, em Santiago, pela nona rodadas das Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022, virou mais do que um jogo entre duas das últimas três seleções campeãs da Copa América. O confronto convida a Fifa e seus 211 países filiados ao debate para correções e aprimoramentos dos processos de naturalização a fim de minimizar ou evitar o assédio, condutas antiéticas e situações constrangedoras como as protagonizadas pelo volante brasileiro Matheus Nunes e o atacante estadunidense Robbie Robinson, cuja trajetória foi contada em um post publicado na última quarta-feira aqui no blog.
Campeão português pelo Sporting na temporada passada, o carioca Matheus Nunes foi convocado por Tite para a rodada tripla das Eliminatórias, mas não se apresentou. Há duas versões para ausência do jogador. Uma delas diz que ele ainda não completou o ciclo vacinal de imunização contra a covid-19 e isso prejudicaria o retorno dele a Lisboa e o consequente aproveitamento dele contra o Ajax na primeira rodada da Uefa Champions League. Outro bastidor indica que ele não veio ao Brasil porque escolheu aguardar um oportunidade na seleção portuguesa. Matheus Nunes foi morar no país aos 13 anos.
“Antes da convocação, o Juninho Paulista (coordenador técnico da Seleção) conversou com ele (Matheus Nunes), eu estava ao lado, também conversei com ele, inclusive dei parabéns pelo aniversário dele. Ele tinha muito orgulho de vir para a Seleção Brasileira. Depois conversamos mais uma vez, e ele disse que o fato da vacinação e o período de quarentena impediam de ele ir e vir e para os seus jogos subsequentes”, afirmou Tite.
Segundo o jornalista português Pedro Sepúlveda, o técnico lusitano Fernando Santos também ligou para Matheus Nunes prometendo chamá-lo para Portugal. O treinador desconversou na entrevista anterior à vitória contra a Irlanda nas Eliminatórias da Europa. “Há os momentos certos para falar sobre esses assuntos”, driblou Fernando Santos.
O Chile também passou por situação constrangedora. Nascido nos Estados Unidos, o atacante Robbie Robinson, filho de mãe chilena, havia optado por representar La Roja. Até treinou para estrear contra o Brasil nesta quinta-feira. A poucas horas do jogo, abandonou a concentração sob a alegação de que está em dúvida sobre qual país representar. Especula-se que o treinador dos EUA, Gregg Berhalter, deseja contar com ele na seleção.
“Quero agradecer aos torcedores, jogadores, comissão técnica e funcionários de La Roja pelo caloroso recebimento quando tive a honra de me juntar à seleção. Realmente desfrutei de treinar com vocês e me sinto honrado pela forma como me trataram. Decidi voltar ao sul da Flórida para tirar um tempo para avaliar qual seleção vou representar, enquanto ajudo o Inter Miami a chegar nos playoffs (da Major League Soccer)”, justificou Robinson.
O Chile arrisca perder o atacante para os Estados Unidos, mas abriu as portas recentemente ao inglês Ben Brereton. Campeão da Eurocopa Sub-17 em 2017, o atacante disputou a última Copa América pelo Chile e só não se apresentou para a rodada tripla das Eliminatórias para a Copa porque joga no Blackburn. O time inglês não o liberou para jogar.
Em entrevista ao blog, o advogado Eduardo Carlezzo, especializado em justiça desportiva, destacou os pré-requisitos para um jogador defender um país diferente do qual nasceu. É o caso do volante Jorginho, por exemplo. O catarinense eleito o melhor jogador da Europa na temporada 2020/2021 é brasileiro, mas conquistou a Eurocopa pela Itália.
Carlezzo desta que qualquer jogador que deseje assumir uma nova nacionalidade e não tenha particionado de competições oficiais de seleções anteriormente está apto a solicitar o registro por outra federação nacional, desde que preencha as seguintes condições:
(a) Ele nasceu no território da federação em questão;
(b) Sua mãe biológica ou pai biológico nasceu no território de desta federação;
(c) Sua avó ou avô nasceu no território desta federação;
(d) Ele viveu no território da federação:
(i) para jogadores que começaram a viver no território antes dos 10 anos: pelo menos três anos;
(ii) para jogadores que começaram a viver no território com idade entre 10 anos e 18: pelo menos cinco anos;
(iii) para jogadores que começaram a viver no território a partir dos 18 anos: pelo menos cinco anos.
Em setembro do ano passado, a Fifa relaxou as regras e passou a reversão da solicitação de mudança em certas circunstâncias específicas. “Alteramos as regras de elegibilidade para seleções nacionais porque é importante em um mundo globalizado em que os jogadores podem ter duas ou três nacionalidades diferentes para escolher seu país ou para mudarse certas condições estritas forem atendidas. Precisávamos lidar com situações de dificuldades particulares e isso que nos fez seguir nessa direção”, explicou o presidente Gianni Infantino.
A Fifa adicionou três exceções para o jogador trocar de seleção:
1. O jogador tinha a nacionalidade de sua nova federação no momento de sua primeira apresentação oficial pela primeira seleção nacional;
2. O jogador atuou no máximo três jogos competitivos sênior antes dos 21 anos;
3. O jogador não disputou a fase final de um torneio oficial como a Copa do Mundo, Eurocopa, Copa América e outros torneios;
4. Pelo menos três anos se passaram desde a última aparição do jogador na seleção principal.
Um exemplo é o centroavante Diego Costa. O jogador do Atlético-MG defendeu o Brasil nos amistoso contra Itália e Rússia em 2013, desistiu da Seleção, escolheu vestir a camisa da Espanha e esteve na Copa de 2014 com a Fúria. Neste caso, ele não pode pedir reversão.
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