Análise: maior mérito do Flamengo na campanha do bicampeonato foi superar ausência da torcida

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Os 20 times da Série A jogaram sem torcida, óbvio. Mas para o Flamengo, bicampeão nesta quinta-feira eletrizante com a derrota para o São Paulo por 2 x 1, no Morumbi, e o empate do Internacional com o Corinthians por 0 x 0, no Morumbi, disputar o Campeonato Brasileiro sem a presença da “nação” em 18 mandos no Maracanã e um no Mané Garrincha foi mais do que uma prova de superação.

Empurrado pela “nação”, o Flamengo teve aproveitamento de 92,9% como mandante em 2019. Foram 17 vitórias e dois empates em casa. Nesta campanha do bicampeonato, o desempenho caiu para 64,9% com 11 vitórias, quatro empates e quatro derrotas.

Se levarmos em conta a classificação somente nas partidas em casa, o Flamengo tem a quarta melhor campanha atrás do Atlético-MG, Internacional e Fluminense. Como visitante, o time carioca ficou em primeiro lugar. Deixou para trás Internacional, São Paulo e Ceará.

Não tenho dúvida de que a campanha do Flamengo seria melhor com torcedores fungando nos cangotes dos técnicos Domènec Torrent e Rogério Ceni e de jogadores aparentemente preguiçosos, acomodados em boa parte da temporada. O distanciamento do time da torcida mais popular do país fez com que o melhor e mais badalado elenco do país perdesse a alma.

Média de público do Flamengo no Brasileirão 2019 foi de 55.025 pagantes por partida

Justamente a alma que faltou na derrota para o São Paulo. O futebol apresentado pelo time, que pisou no gramado do Morumbi dependendo de si para ser campeão, foi tenebroso. As falhas cruciais do goleiro Hugo Souza nos gols de Luciano e Pablo são inaceitáveis em futebol de alto nível. Ele teve dia de herói na estreia como profissional contra o Palmeiras, no Allianz Parque, mas quase virou vilão em mais uma exibição insegura contra o São Paulo. Havia errado, também, no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil ao dar a bola no pé de Brenner.

Hugo Souza não seria o único vilão de um time blasé numa noite decisiva. O time inteiro jogou muito mal. Rogério Ceni é incapaz de vencer o São Paulo. Tão freguês quanto o Flamengo. Restou aguardar pelo desfecho de Internacional e Corinthians via smartphone.

Com o time e a “nação” à espera do milagre, restou recordar o histórico texto de Nelson Rodrigues em que ele profetiza: “Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: — quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas, tremem, então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável”.

O Inter tremeu. Precisava de um gol contra o Corinthians. Poderia ter sido o pênalti desmarcado pelo VAR — e corretamente contestado pelos colorados. Aconteceu de tudo um pouco, no Beira-Rio. Bolas na trave, gols anulados, defesa incrível de Cássio, último chute para fora… No fim, o sobrenatural blindou o Flamengo. E o clube carioca é bicampeão.

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Marcos Paulo Lima

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