Se há um fio de esperança de dias melhores para o combalido futebol candango no cenário nacional, ele se chama Brasiliense. Afinal, é o clube mais rico e estruturado da capital. O atual bicampeão local. No entanto, dinheiro não aceita desaforo. Vice-campeão da Copa do Brasil em 2002 e semifinalista em 2007, o clube fundado em 2000 peca, há muito tempo, em um diferencial dos times de ponta na era moderna do esporte mais popular do mundo: gestão. Perder para o Botafogo na segunda fase do mata-mata nacional está dentro do previsto. Levar 7 x 1, a maior goleada sofrida em 22 anos, é inadmissível.
Inaceitável devido ao contexto na temporada. Em tempos de cobrança por profissionalismo extremo dentro e fora das quatro linhas, o Brasiliense se comportou como se fosse o Atlântida Esporte Clube, o time amador que deu origem ao eneacampeão candango. A diretoria demitiu o técnico Luan Carlos em 17 de fevereiro. O descontentamento com o trabalho dele é totalmente compreensível. A morosidade para substituí-lo, não. A responsabilidade de assumir o elenco foi jogada nas mãos de Alan George, treinador do sub-20, enquanto procurava-se um substituto. Alan George é competente, mas a missão delegada a ele é a reconstrução de uma categoria que havia sido abandonada pelo clube e está corretamente reativada. Time sem base não tem alma. É onde se aprende a amar o clube.
Roberto Cavalo foi anunciado como novo técnico do Brasiliense em 9 de março. Ele teve cinco dias para ensaiar o atual bicampeão do Distrito Federal para enfrentar um Botafogo liderado há praticamente um ano por Luis Castro. Eram 54 jogos de trabalho contra apenas um (90 minutos) do novo comandante amarelo. Cavalo só liderou o time em uma partida — a vitória por 2 x 1 contra o Santa Maria pela penúltima rodada do Candangão.
Paralelamente, o Brasiliense mandava buscar na filial Samambaia cinco jogadores para reforçar a matriz. Os nomes entraram no BID dois dias antes do duelo com o Botafogo. Dharllyson, Felipe Alves e Romarinho foram titulares. Lila e Wallace entraram em campo durante a partida. Por mais que haja carências no elenco — e certamente Cavalo as detectou — não há tempo de entrosamento. Muito menos chance de dar certo.
O resultado é a humilhação por 7 x 1. O segundo pior resultado de um time candango na Copa do Brasil. Em 1997, o Guará perdeu por 7 x 0 para o Internacional, no velho Mané Garrincha. Coincidentemente, o Lobo também havia buscado jogadores às pressas no Gama e em outros times da cidade a fim de ter em campo a melhor formação possível. A mania de improviso do futebol candango não funcionou há 26 anos nem nesta quarta-feira.
A exibição do Brasiliense não se compara à do Sergipe, eliminado na primeira fase pelo Botafogo no último lance de um jogo polêmico. Ao contrário do atual bicampeão candango, o Sergipe mostrou-se organizado, comprometido e resistiu bravamente dentro de casa. O Jacaré ainda teve o benefício de encarar o Glorioso fora do Rio, em Cariacica (ES).Logo, em um território bem menos hostil do que encontraria no estádio Nilton Santos.
A humilhação é preocupante porque o Brasiliense é, hoje, o principal time da capital na vitrine nacional. A referência local. E se o melhor apanha por 7 x 1 na Copa do Brasil, o que esperar do futuro de um futebol candango atolado, desde 2014, na Série D do Campeonato Brasileiro. Lá se vão 10 anos com representantes apenas na quarta divisão nacional. A Federação de Futebol do DF ocupa o 20º lugar no ranking das 27 do país, superior apenas ao Acre, Espírito Santo, Tocantins, Roraima, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amapá. Há quem ache ache bonito. Quanto pior, melhor. É preciso ter vergonha. Sem mais.
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