Luis Enrique e a “desbarcelonização” da Espanha

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O início da gestão de Luis Enrique à frente da Espanha apresenta algumas curiosidades. Talvez, a maior delas seja o que vou chamar aqui de “desbarcelonização” da seleção. O primeiro indício é a presença de apenas um jogador do clube azul-grená nas duas convocações para jogos oficiais, ou seja, pela Nations League, a Liga das Nações. A outra é a ausência de jogadores do time catalão no amistoso em que a Fúria massacrou o País de Gales, por 4 x 1.

Nos tempos dourados da Espanha, ou seja, nas conquistas do bicampeonato da Eurocopa (2008 e 2012) no inédito título da Copa do Mundo (2010) os jogadores formados nas divisões de base do Barcelona representavam praticamente um time titular. Nomes como Piqué, Puyol, Alba, Busquets, Xavi, Iniesta, Pedro e Fàbregas eram praticamente intocáveis nas formações de Luis Aragonés e de Vicente del Bosque. O tempo foi passando, e eles saíram de cena.

A Espanha goleou o País de Gales por 4 x 1, no Principality Stadium, em Cardiff, sem jogadores do Barcelona na formação inicial. Luis Enrique fez seis substituições. Dos 17 nomes utilizados durante o teste, nenhum veste a camisa do Barcelona. Faz tempo que não acontecia. A última vez que a Espanha escalou atletas do time azul-grená havia sido em 30 de maio de 2012, numa goleada por 4 x 1 sobre a Coreia do Sul antes da Eurocopa.

Para se ter uma ideia, em 23 de junho de 2013, Vicente del Bosque escalou a Espanha com oito jogadores do Barcelona em uma exibição oficial na Arena Castelão, em Fortaleza, contra a Nigéria pela fase de grupo da Copa das Confederações disputada no Brasil: o goleiro Valdés, os defensores Piqué e Jordi Alba, os meias Xavi, Busquets, Iniesta e Fábregas, e o atacante Pedro.

Há várias maneiras de enxergar a ausência de jogadores do Barcelona. Uma delas, o baixo número de jogadores do país no elenco de Ernesto Valverde. Nesta temporada, há mais estrangeiros do que espanhóis no Barcelona. Convocados para a Copa da Rússia, Piqué e Iniesta deixaram a seleção.  Sergi Roberto e Jordi Alba são preteridos. Denis Suárez, Munir El Haddadi, Sergi Samper, El Haddadi e Carles Aleña precisam colecionar milhas no time principal. Por enquanto, Busquets é o único que interessa. Emprestado ao Borussia Dortmund, Alcácer é artilheiro isolado da Bundesliga, o Campeonato Alemão, com seis gols.

Luis Enrique tenta transformar uma Espanha marcada pelo excessivo número de trocas de passe — como vimos na Copa do Mundo da Rússia —, em uma seleção objetiva, vertical, faminta pela conciliação da posse de bola com a fome de fazer gols. Neste início de ciclo, a Espanha contabiliza 12 gols sob a batuta de Luis Enrique contra dois adversários fortes e um mediado: Inglaterra, Croácia e País de Gales. A média é de quatro bolas na rede por partida. O tiki-taka é um legado dos tempos áureos do Barcelona, mas o ataque espanhol vinha sendo pouquíssimo contundente.

Um último sinal dos novos tempos de “desbarcelonização”. Ex-técnico do clube catalão, Luis Enrique olha com mais carinho para jogadores do tricampeão da Champions League Real Madrid. A trupe de Julen Lopetegui, antecessor do atual comandante da Espanha, emplacou seis nomes na primeira lista do novo ciclo: Carvajal, Nacho, Sergio Ramos, Ceballos, Isco e Asensio.

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Marcos Paulo Lima

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