A divulgação da pré-lista dos convocados para a Copa da Rússia nesta semana mostrou o desapego dos técnicos aos heróis de títulos recentes das seleções. Pelo menos três técnicos ignoraram jogadores iluminados: Joachim Löw, Fernando Santos e Tite.
A Alemanha não teve o mínimo receio de deixar Mario Götze fora da lista dos 27 pré-convocados. O jogador do Borussia Dortmund foi o autor do gol do tetra na prorrogação da decisão de 2014, no Maracanã, contra a Argentina. Neste ciclo de Copa, lutou contra uma doença rara — uma miopatia metabólica responsável pela fraqueza nos músculos, fadiga. O efeito colateral é a demora na recuperação após exercícios extenuantes, como o futebol.
O problema de Götze foi associado a uma desordem na tireoide, quando hormônios não são produzidos em quantidade suficiente, ou a desajustes nas glândulas suprarrenais. A contar de 2011, Götze colecionou 10 lesões musculares diferentes. Sofreu críticas a respeito do estado físico e ouvia constantemente que estava acima do peso.
Lothar Matthäus chegou a dizer que Götze deveria se transferir para o futebol chinês se não conseguisse mais defender o Borussia Dortmund em alto nível. Ao tomar reconhecimento do diagnóstico, arrependeu-se: “É um grande golpe. O bom é que, agora, eles identificaram a causa, eles podem tratá-lo. Obviamente, você tem que julgar suas atuações recentes de forma diferente, sabendo disso”, ponderou.
Negociado pelo Borussia Dortmund com o Bayern de Munique, Götze não vingou no time bávaro. O técnico Pep Guardiola preferia escalar Thiago Alcântara. Três temporadas depois, Götze estava de volta ao Borussia Dortmund. Depois de ser repatriado, teve de ser afastado do elenco e deu início a uma batalha pessoal para voltar a jogar futebol. Havia marcado apenas dois gols em 16 jogos em 2016/2017. Nesta temporada, balançou a rede duas vezes em 32 jogos. Entrou em campo pela seleção na última vez em 14 de novembro do ano passado, no empate por 2 x 2 com a França. Quatro ano depois, o herói do tetra verá a Copa pela tevê.
Portugal também abriu mão do seu herói. Autor do gol que deu aos lusitanos o primeiro título da vida na final da Eurocopa de 2016, Éder não consta na lista final dos 23 convocados pelo técnico Fernando Santos. Mora na Rússia, onde defende o Lokomotiv Moscou, mas não disputará a Copa do Mundo. A temporada no clube foi apagada. Só quatro gols em 28 jogos, todos pelo Campeonato Russo. Passou em branco na Europa League e na Copa da Rússia. A última exibição com a camisa portuguesa aconteceu em março do ano passado.
Tite deixou o goleiro Wéverton fora da lista da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo. O herói da conquista da inédita medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 ao defender o pênalti cobrado por Petersen começou a era Tite como candidato a ser um dos três arqueiros na Copa da Rússia. Começou a perder espaço quando era o titular do Atlético-PR e jogou a oportunidade fora quando topou trocar o Furacão pelo Palmeiras para ser o segundo reserva, atrás de Jailson e de Fernando Prass. Ficou fácil para Tite optar por Alisson, Ederson e Cássio.
Último herói de um título da Seleção principal, o centroavante Fred também passou longe das convocações de Tite. Autor de dois dos três gols na conquista da Copa das Confederações de 2013, o centroavante não foi chamado por Dunga e muito menos por Tite depois do vexame verde-amarelo na Copa de 2014.
Entre as seleções que decidiram valorizar seus heróis está a Espanha. Autor do gol do título inédito de 2010, na África do Sul, o meia Iniesta disputará na Rússia a última Copa da carreira.