Uma das obras táticas autorais de Adenor Leonardo Bachi, o Tite, foi consagrada há 20 anos, no Morumbi, em São Paulo: o 3-5-2 do Grêmio campeão da Copa do Brasil de 2001 em cima do Corinthians, de Vanderlei Luxemburgo. A escalação tinha: Danrlei; Marinho, Mauro Galvão e Ânderson Polga; Ânderson Lima, Eduardo Costa, Tinga, Zinho e Roger (Rubens Cardoso); Warley e Luis Mário. Tite fez muito com pouco. A conquista colocou o gaúcho de Caxias do Sul, definitivamente, na vitrine da nova geração de técnicos do futebol nacional.
Causa-me espanto a resistência de Tite em adicionar uma configuração com três zagueiros no repertório tático da Seleção. Ele domina o sistema 3-5-2. Afirmou, inclusive, que jamais alguém usará essa configuração de maneira tão perfeita quanto ele. O desafeto Luiz Felipe Scolari levou o Brasil ao penta, em 2002, com algo semelhante — o 3-4-1-2.
Thiago Silva forma linha de três zagueiros no Chelsea de Thomas Tuchel, atual campeão da Champions League. Eder Militão atuou assim em parte da temporada passada no Real Madrid, com Zinedine Zidane. Marquinhos também, com diferentes técnicos, no PSG. Lucas Veríssimo é uma das três torres de Jorge Jesus no Benfica. Se os beques escolhidos por Tite têm essa versatilidade, ele deveria usá-la como ferramenta na Seleção.
Em tese, potencializaria laterais como Daniel Alves e Guilherme Arana. Mais do que isso: evitaria que Vinicius Junior e Gabriel Barbosa marcassem laterais adversários como vimos no primeiro tempo da vitória de sexta-feira contra o Chile.
Questionei Tite duas vezes por que ele não testa na Seleção o que fez com sucesso no Grêmio de 2001. A resposta dele na véspera da estreia do Brasil na Copa América 2019 foi esta: “Seu eu tivesse tempo… Como técnico da Seleção, preciso de tempo. Aquele Grêmio teve uma organização muito grande e jogadores com transição muito rápida, com exceção do Zinho, mas que fazia funcionar toda a engrenagem. Eu não tenho tempo”, argumentou.
Voltei a questioná-lo nesta semana sobre a necessidade de o Brasil desembarcar no Catar com sistemas táticos alternativos como o 3-5-2 usado por diversas seleções na Eurocopa e times da Champions League. Dessa vez, Tite surpreendeu na resposta. “Três zagueiros, podemos, sim, ter essa possibilidade, não a descarto”, respondeu.
O 3-5-2 levou Argentina (Carlos Bilardo), Alemanha (Franz Beckenbauer) e Brasil (Luiz Felipe Scolari) ao título das copas de 1986, 1990 e 2002, respectivamente. As três seleções foram campeãs com o melhor ataque do Mundial: 14, 15 e 18 gols. Tite domina o assunto. Brilhou com o Grêmio na Copa do Brasil 2001. Por que não se inspirar no que soube fazer tão bem?
Coluna publicada na edição impressa deste sábado (4/9) do Correio Braziliense (página 10)
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