Alguma coisa acontece com as seleções da América Central nesta Copa do Mundo e o Brasil precisa acender o sinal de alerta para não ter surpresas desagradáveis na estreia contra o Panamá nesta segunda, às 8h (de Brasília), no Estádio Hindmarsh, em Adelaide.
Devastado por crises políticas, econômicas, sociais e catástrofes da natureza causadas por terremotos, o Haiti vendeu caro a derrota por 1 x 0 para a Inglaterra. A atual campeã da Eurocopa sofreu contra uma das seleções mais jovens da Copa do Mundo.
O Haiti entrou em campo com média de idade de 23,9 anos. Quatro delas sub-20: a meia Melchie Dumonay, a lateral direita Bethina Frere, a volante Dayana Pierre Louis e a zagueira Tabita Joseph têm 19 anos cada. A Inglaterra começou com média de 26,9.
Melchie Dumonay encantou o público. Quem vê a jogadora do Lyon divertindo a plateia talvez não saiba o quanto ela caminhou para chegar até ali. “Eu aprendi a jogar na minha vizinhança, descalça. E sem ser com as meninas, porque cresci em meio aos rapazes”, contou a meia-atacante em entrevista recente ao Le Parisien.
Descoberta em jogos mistos no país dela, foi enxergada com olhos de lince, pinçada e levada para a Academia Haitiana de Futebol para aprender a jogar calçada. Foram oito anos de aprendizado. Em 2018, ganhou da Concacaf o status de melhor jogadora sub-17 das Américas do Norte, Central e Região do Caribe.
Aos 14 anos, disputava o Mundial Sub-20 pelo Haiti. Estava claro que ela alçaria voos mais altos. Precoce, Melchie se profissionalizou na França e iniciou a trajetória no Reims antes de atrair a atenção do poderoso Lyon — octacampeão da Champions League.
A evolução do Haiti tem a ver com intercâmbio. Das 23 jogadoras convocadas, 19 deixaram o país. Seis estudam em universidades dos Estados Unidos, uma das mecas do futebol feminino. As outras 13 estão distribuídas em times da liga francesa, referência na Europa.
Seleções centro-americanas como o Haiti aprenderam a lidar com as dificuldades. Elas não mandam jogos no país. A República Dominicana deu asilo ao Haiti. Portanto, a Inglaterra era só mais uma montanha para escalou praticamente um Everest rumo à Copa.
A Jamaica também roubou a cena ao estrear na segunda Copa do Mundo consecutiva. Em 2019, perdeu todos os jogos na fase de grupos. Nesta, começou pontuando contra a França. Arrancou empate por 0 x 0 contra as favoritas do Grupo F. Uma das responsáveis pelo sucesso é Rebecca Spencer. A goleira do Tottenham desabafou depois de suportar a pressão da seleção europeia e manter as traves da Reggae Girlz intactas.
“Ainda não caiu a ficha. Estamos muito felizes por todas as jogadoras porque lutamos muito por isso. Escutamos muito lixo das pessoas, então merecemos demais. Defensivamente fomos muito bem. Tudo o que elas (França) tentaram, conseguimos defender”
Os perrengues de Haiti e Jamaica servem de alerta para o duelo do Brasil contra o Panamá. As adversárias foram submetidas a uma repescagem contra Trinidad e Tobago, Papua Nova Guiné e Paraguai para ter acesso à fase de grupos. Embora o técnico Ignacio Quintana tenha iniciado um jogo mental contra o Brasil ameaçando surpreender. as últimas impressões indicam a fragilidade do time. A Espanha goleou por 7 x 0 em amistoso recente.
Aparentemente, a glória do Panamá é ter superado o trauma das Eliminatórias de 2018. A geração de Lineth Cedeño, Karla Riley, Hilary Jaén, Yenith Bailey, Marta Cox e Wendy Natis deixou de ir à Copa da França em 2019 porque perdeu nos pênaltis para a Jamaica. Quatro anos depois, despacharam Papua Nova Guiné e triunfaram contra o Paraguai por 1 x 0. O gol de Lineth Cedeño foi uma espécie de libertação para a evolução do projeto.
O técnico Ignacio Quintana é querido por comprar as brigas das jogadoras, principalmente as reivindicações por igualdade de gênero. Dentro das quatro linhas, a técnica Pia Sundhage terá de lidar contra uma seleção trabalhada no 4-5-1 para atormentar a vida do Brasil. Exatamente como fizeram Haiti e Jamaica contra as potências Inglaterra e França.
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