Adenor Leonardo Bachi soltou uma daquelas frases de impacto em terceira pessoa na entrevista coletiva depois da vitória por 1 x 0 contra o Vasco no domingo passado, no Maracanã: “O Tite que tem que adquirir a cara do Flamengo e não o Flamengo do Tite, o processo é inverso”, afirmou o treinador rubro-negro.
Tite quis ser simpático. Jogar para a torcida. Mas como o próprio gaúcho de Caxias do Sul gosta de dizer, “o campo fala”. E falou muito na derrota de virada para o Grêmio por 3 x 2 nesta quarta-feira. No momento, o Flamngo precisa ter a cara do Tite. No mínimo aquela do Corinthians de 2011. A de 2015 é pedir demais neste momento. A tradição do Grêmio impões respeito, óbvio. O momento do time de Renato Gaúcho na temporada, não. Ele não contava com Luis Suárez. Não vencia havia quatro jogos. Era questionado no clube do qual é ídolo. Mas o Flamengo escolheu a partida, em Porto Alegre, para mostrar ao Tite a verdadeira face do elenco em um ano tenebroso. Foi assim com Vítor Pereira, Jorge Sampaoli — e Tite que se cuide.
O Flamengo saiu na frente com o belo gol de Everton Cebolinha e tomou a virada em 10 minutos com gols de meninos: Ferreira, de 25 anos, Nathan Fernandes (18) e André Henrique (21). Tite foi vítima do que passou a amar depois do vice na Copa América de 2021: os perninhas rápidas. Pontas, extremos capazes de acelerar a partida.
O Grêmio iniciou a partida com média de idade superior à do Flamengo. Renato Gaúcho apostou em uma formação com 29,1 anos. Tite mandou a campo equipe uma configuração é de 27,4 anos — até aí tudo bem. O time rubro-negro era mais jovem, porém cansado. A equipe carioca parece jogar com chumbo nas pernas. Isso é vantagem para qualquer adversário. O Portaluppi passou em 2021 pelo Ninho do Urubu. Sofreu com problemas físicos e clínicos durante o trabalho e foi demitido. Talvez tenha alertado para isso ao cochichar ao pé do ouvido de Tite antes do início da peleja na Arena do Grêmio.
Renato ganhou o duelo porque oxigenou o Grêmio com jovens no segundo tempo. Acelerou a partida com Ferreira, Nathan Fernandes, André Henrique e Cristaldo. O Flamengo atual tem trauma de pontas. Qualquer um capaz de partir para cima no um contra um ganha dos laterais rubro-negros Wesley e Ayrton Lucas, ambos incapazes de marcar minimamente bem. Do outro lado, Tite apostava em medalhões que parecem jogar carregando uma fardo, uma cruz pesada nas costas.
Entraram Everton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabriel Barbosa, Matheuzinho e Luiz Araújo. Apenas o último correspondeu. O ponta contratado na gestão de Jorge Sampaoli entrega o que a turma acima dos 30 não está conseguindo: energia. O ótimo preparador físico Fabio Mahseredjian deve estar assustado com o relatório do elenco. Há um caos na comparação entre a performance física individual dos atletas. Administrar esse processo em 12 jogos era o desafio da nova comissão técnica. Muito ciente disso.
Portanto, a derrota serviu para Tite entender que neste momento o Flamengo precisa, sim, ter a cara dele. A cara do Flamengo em 2023 é da derrota, da preguiça, da indolência, da falta de comprometimento com um resultado que poderia ter deixado o time a seis pontos do líder Botafogo. O favorito ao título tem uma partida a menos, claro, mas entraria em campo contra o Fortaleza pressionado lá na frente.
Tite precisa oxigenar o Flamengo com jovens. Se possível, buscando talentos no elenco sub-20 orientado por Mário Jorge. Precisa acreditar em meninos como Victor Hugo e se desapegar temporariamente de alguns jogadores incapazes de competir no momento. Na era Landim, meninos da base como Reinier, Matheus França, Rodrigo Muniz e João Gomes ajudavam a renovar o gás rubro-negro. O banco de Tite só tinha Luiz Araújo, Cleiton, Matheuzinho e Victor Hugo abaixo dos 30 anos entre os 12 reservas. É pouco, grave e explica a falta de pernas do Flamengo no segundo tempo.
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