A classificação do Santos para a final da Libertadores contra o Palmeiras — a terceira na história da competição nacional — confirma uma decisão entre meninos no Rio, em 30 de janeiro, no Maracanã, velha casa de festas do alvinegro praiano. Tricampeão, o Peixe buscará o tetra embalado por uma molecada que nem completou 20 anos. O volante Sandry e o centroavante Kaio Jorge têm apenas 18 anos. Há 14 meses, eram campeões do Mundial Sub-17 com a Seleção Brasileira. Os antídotos alviverdes na caça ao bi são Patrick de Paula (21), Gabriel Menino (20), Danilo (19) e Gabriel Veron (18).
A temporada do Santos é fantástica. O clube sofreu desmanche depois do vice-campeonato brasileiro em 2019. Saíram o goleiro Everson, o zagueiro Gustavo Henrique, o atacante Eduardo Sasha e o centroavante Yuri Alberto. Antes, a joia Rodrygo, vendido ao Real Madrid. O técnico Jorge Sampaoli também deixou o clube paulista. O português Jesualdo Ferreira assumiu o time e veio o caos. Eliminação precoce no Paulistão e demissão do lusitano.
Fora de campo, mais bagunça: falta de dinheiro para honrar compromissos financeiros, lambanças como a tentativa de repatriar Robinho, condenado em primeira instância na Itália por estupro coletivo e até impeachment do presidente José Carlos Peres.
Corajoso, Alexi Stival, o Cuca, tomou as rédeas do Santos. Virou de tudo um pouco na tentativa de administrar o caos na Vila Belmiro. Teve sucesso fazendo um elenco limitado jogar bola. Escrevi aqui no blog, em setembro de 2020, que Cuca fazia o melhor trabalho da temporada entre os técnicos brasileiros. A classificação para a final da Libertadores é trabalho puro. Nem o surto de covid-19 nem a internação do treinador por causa da doença pararam o Santos. A caminhada na Libertadores é digna de aplausos. Eliminou LDU, aquele time que joga no fantasma da altitude, o copeiro Grêmio e o Boca Juniors — hexacampeão da Libertadores.
Atração fatal?
Os 8 títulos do Santos no Maracanã
- Campeonato Brasileiro 1962
Torneio Rio-São Paulo 1963
Copa Intercontinental 1963
Torneio Rio-São Paulo 1964
Campeonato Brasileiro 1964
Campeonato Brasileiro 1965
Campeonato Brasileiro 1968
Torneio Rio-São Paulo 1997
Por que Cuca conseguiu isso? Repito a explicação publicada aqui no blog em setembro…
Em vez de gastar saliva menosprezando, minimizando ou relativizando os feitos recentes dos gringos, Cuca deu relevância ao sucesso de Jorge Jesus. Rendeu-se ao trabalho de Jorge Sampaoli. Parece ter estudado e assimilado um pouquinho as ideias deles nos 11 meses em que ficou desempregado. Uma pitada de humildade nunca é demais para ninguém.
Enquanto alguns colegas esforçavam-se para diminuir os estrangeiros, Cuca reconhecia: “Acho o Sampaoli mais tático. Quando vai jogar contra o time dele no domingo, não adianta assistir ao jogo dele da quarta-feira. Não dá para amarrar o time dele, que não vai conseguir. O Jorge Jesus é diferente: ele tem uma filosofia de jogo e conseguiu fazer os jogadores do Flamengo terem harmonia com isso. Ele conseguiu fazer com que os jogadores tenham ambição de buscar a bola o tempo todo no ataque. O futebol cresce com a chegada deles, mas eles também foram ajudado pela montagem de elencos que tiveram, principalmente o Flamengo”, declarou, em maio de 2020, em entrevista ao programa Expediente Futebol do Fox Sports.
O Santos tem Marinho, o cara que desequilibra. Conta com os dribles do venezuelano Soteldo. Diego Pituca é um monstro no meio de campo. Lucas Veríssimo e Luan Peres dão segurança à defesa. Lá na frente, Kaio Jorge, 18 anos, é simplesmente o artilheiro do time na Libertadores.
Considerado azarado, o supersticioso Cuca segue dando provas de sua grandeza. Levou o Atlético-MG ao título da Libertadores em 2013. Brindou o Palmeiras com o Brasileirão 2016. Como diz o hino alvinegro, “agora quem dá bola é o Santos”. O sonho do tetra está vivo. O tri no Mundial também. Quem sabe Cuca finalmente enfrentará o Bayern de Munique. Em 2013, o Atlético-MG foi eliminado pelo Raja Casablanca nas semifinais. Antes, é preciso pensar no Palmeiras.
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