A crise na comissão técnico do Flamengo atinge em cheio um dos setores mais questionados na Era Rodolfo Landim: a preparação física é foco de crise desde o início do primeiro mandato dessa gestão.
Demitido corretamente pela diretoria neste domingo por ter dado um soco no centroavante Pedro depois da vitória de virada por 2 x 1 contra o Atlético-MG no sábado à noite, nos vestiários do Independência, em Belo Horizonte, Pablo Fernández terá um substituto escolhido por Jorge Sampaoli. Consequentemente, o método de trabalho com o elenco rubro-negro será alterado pela quinta vez em 20 meses. A décima desde 2019, quando o atual presidente assumiu.
No início de 2022, o técnico Paulo Sousa desembarcou no Rio de Janeiro com dois preparadores físicos a tiracolo. Antônio Gomez e Lluis Sala eram os responsáveis pelo fôlego do time para encarar o calendário pesado de competições. Sala desembarcou no Ninho do Urubu com status de especialista em trabalho de prevenções físicas com os jogadores. As atividades dele eram puxadas. Alguns jogadores resmungavam com frases como “quero um pulmão a mais” e “minha perna está igual a cimento”. O catalão aplicava os conhecimentos adquiridos no Liverpool, Sunderland e Ipswich Town. Quando parecia implementar o trabalho, o técnico Paulo Sousa saiu e elite foi junto.
Dorival Júnior herdou a prancheta e levou para o Ninho do Urubu um novo conceito. Indicado pelo treinador, Celso Rezende assumiu a responsabilidade da preparação física. O trabalho deu liga e apresentou resultados imediatos com as conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores. As críticas voltaram no fim da temporada e atingiram o ápice nas decisões contra Corinthians e Athletico-PR. O time começou a apresentar esgotamento e relaxou de vez depois das conquistas.
Com a saída de Dorival Júnior, o Flamengo decidiu dar 42 dias de férias ao elenco. O problema estourou nas mãos do técnico Vítor Pereira e do preparador físico escolhido por ele, Mario Monteiro — funcionário de Jorge Jesus na passagem do Mister pelo clube carioca. Em marcha lenta, o time fracassou na Supercopa do Brasil, no Mundial de Clubes, na Recopa Sul-Americana, na Taça Guanabara e na final do Campeonato Carioca. Vítor Pereira reclamou diversas vezes do condicionamento físico do elenco e rebateu ataques: “Não somos máquinas”.
Entra e sai
Técnico e preparadores físicos na Era Landim
- Abel Braga: Alexandre Sanz e Daniel Félix
- Jorge Jesus: Mário Monteiro e Marcio Sampaio
- Doménec Torrent: Julian Jiménez
- Rogério Ceni: Danilo Augusto
- Renato Gaúcho: Alexandre Sanz
- Paulo Sousa: António Gomez e Lluis Sala
- Dorival Júnior: Celso Rezende
- Vítor Pereira: Mario Monteiro
- Jorge Sampaoli: Pablo Fernández e Marcos Fernández
- Fonte: Levantamento do Blog Drible de Corpo
O preparador físico Mario Monteiro deixou o cargo reclamando das críticas pesadas ao trabalho feito por ele na segunda passagem pelo Flamengo. “É muito triste quando as pessoas não entendem p**** nenhuma do que estão falando e querem aparecer dando pitaco. Respeitem o profissionalismo de quem é especialista na área e trabalha na primeira liga profissional, equivalente à Série A daqui do Brasil, desde 1993”, desabafou.
Quando Jorge Sampaoli assumiu e recebeu relatórios sobre o condicionamento físico dos atletas, falou o queria da gestão anterior e ouviu o que não queria. O argentino atribuiu a falta de intensidade do elenco ao trabalho desenvolvido pelo estafe de Vítor Pereira. Mario Monteiro tomou as dores e rebateu: “Não concordo de jeito algum. Nós sempre treinamos com alta intensidade. E o Flamengo, acima de tudo, tem um departamento altamente qualificado com muita gente competente. Nós sempre monitoramos os nossos treinos. É uma forma de ele (Sampaoli) fugir às responsabilidades e estar sempre atacando o preparo físico”.
Na pausa de 10 dias para a última Data Fifa, informações nos bastidores indicavam descontentamento de parte do elenco com os treinos físicos puxados da comissão técnica de Jorge Sampaoli. A exaustão teria sido um dos motivos para a partida irreconhecível na goleada sofrida contra o Red Bull Bragantino, por 4 x 0, no estádio Nabi Abi Chedid. O Flamengo passou a ter evolução técnica, intensidade no início das partidas, mas continuava apresentando cansaço no segundo tempo.
Houve polêmica com a preparação física desde o início da Era Landim. Primeiro técnico na nova administração, Abel Braga reclamou de Alexandre Sanz, profissional contratado por Marcos Braz, e ouviu de volta de um interlocutor: “Ele saiu de instrutor de treino funcional na Praia da Barra para preparador do Flamengo”. Sanz voltou a chefiar o núcleo de preparação física na passagem de Renato Gaúcho pelo cargo e novamente sofreu duras críticas pela falta de fôlego do grupo na reta final da temporada de 2021.
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