Fluminense mostra à América do Sul que ainda é possível dar concerto com um camisa “9” e um 10 à moda antiga

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Um dos debates arrastados e cansativos do século 21 é se dá para ter ao mesmo tempo em um time ou seleção um camisa 9 e um 10 à moda antiga. Os argumentos são de que não há mais espaço para um meia responsável apenas por dar cadência, sem responsabilidade com a recomposição, a marcação sem a bola. Vale o mesmo para o centroavante. O especialista em fazer gol necessitava ir além dessa missão. A demanda passou a ser por atacantes de mobilidade, disponíveis para deixar a área, cair pelas pontas, se movimentar em nome do sistema de jogo. O Fluminense contraria a moda.

A máquina tricolor goleou o River Plate por 5 x 1 em um concerto no Maracanã na noite desta terça mostrando à América do Sul que sim, ainda é possível ter um Ganso e um Cano ao mesmo tempo em um time. Ambos estão fechados com os conceitos de Fernando Diniz. Guardadas as devidas proporções, ambos lembram, com a camisa tricolor, a relevância que Juan Roman Riquelme e Martin Palermo tinham para o Boca Juniors na era dourada sob a batuta de Carlos Bianchi e depois Miguel Russo. Ambos arrasaram o Grêmio de Mano Menezes na finalíssima da Libertadores de 2007 por 5 x 0 no placar agregado – 3 x 0 na ida e 2 x 0 na volta.

Fernando Diniz não somente tem um 9 , que prefere usar o número 14 às costas, e um 10 para chamar de seus, como prova que é possível uni-los em campo, torná-los úteis ao mesmo tempo, numa época em que jogadores raros como Ganso e Cano parecem cada vez mais condenados pela modernidade do jogo à extinção.

O concerto tricolor diante de mais de 60 mil torcedores presentes no Maracanã e uma legião de fãs de camisas 9 e 10 sentadinhos na poltrona, lá em Buenos Aires, teve três gols do centroavante Cano. Um centroavante que os vizinhos tricampeões do mundo em dezembro, no Catar, mal conhecem. Prova disso é que o site Olé explicava em uma matéria pós-jogo a razão de jogador tricolor celebrar os gols exibindo a letra “L” em referência ao filho Lorenzo.

O que foi o passe de Ganso acionando Samuel Xavier em velocidade antes da assistência do lateral-direito para Cano apenas desviar a bola para o fundo da rede do River Plate? Magia de um camisa 10 que, até pouco tempo, ninguém conseguia reciclar. O meia joga e não deixa jogar. Auxiliar na marcação, reduz espaços, incomodar o adversário sem a bola nos pés. Só não fez gol porque quis enfeitar demais o lance e deu tempo para a defesa do River Plate se recuperar.

Argentinos também são apaixonados por camisas 5. Devem ter se encantado com a exibição de Alexander, um dos carregadores de piano no meio de campo. O cara da inversão de papéis com Marcelo, quando o lateral-esquerdo se desloca para a função de armador no meio de campo. Por falar em Marcelo, é preciso aplaudir de pé o lançamento dele para Arias no lance do primeiro gol. Milimétrico. Líder, acalmou Fernando Diniz no intervalo ao ver o técnico reclamando do árbitro. Demonstrou outros momentos de ascendência sobre o elenco e não deixou Fluminense perder a cabeça na noite inesquecível para uma torcida que tem amor ao tricolor.

Vida longa aos Gansos, Canos e Alexanders.

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Marcos Paulo Lima

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