Um dos motivos dos fracassos de treinadores estrangeiros no Brasil é a imposição do modelo de trabalho — e a recusa em se se adaptar ao perfil do elenco. Doménec Torrent, por exemplo, caiu abraçado com suas convicções. As passagens de Roger Machado por Grêmio, Atlético-MG, Palmeiras e Bahia fizeram o técnico do Fluminense entender que, nem sempre, será possível jogar da maneira mais prazerosa possível. O ex-lateral-esquerdo contou mais de uma vez que, quando era jogador, detestava ver o adversário com a bola próxima da área do time dele. Daí a predileção por equipes que tenham posse — e não entreguem facilmente ao adversário.
O início do trabalho de Roger Machado no Fluminense mostra um profissional maleável. Há flexibilidade no discurso. Ainda é cedo para exigir gols como aquele do Grêmio — comandado por Roger — contra o Atlético-MG, no Mineirão, em 2015. Foram 23 toques rápidos na bola entre sete jogadores em um espaço de 23 segundos (assista ao vídeo abaixo). O lance começa nos pés de Rafael Galhardo na zaga e termina com finalização do meia Douglas. A beleza da trama foi reproduzida até fora do país.
Talvez, o Fluminense não reproduza aquela obra de arte do início da carreira de Roger Machado. Justamente porque o técnico amadureceu. Desembarcou nas Laranjeiras e percebeu que o início do projeto exige outros métodos, outra postura, um dupla face. Se houver tempo de trabalho, artigo de luxo em um futebol brasileiro que tritura treinadores, ele pode partir em busca das próprias convicções, de uma transformação ou até revolução à frente do tricolor.
O Fluminense do empate com o River Plate e a vitória heroica contra o Independiente Santa Fé, com um jogador a menos desde a expulsão de Egídio, sob muita pressão, milagres de Marcos Felipe, Kayky como válvula de escape e os veteranos Nenê e Fred decisivos, têm em comum a aposta no contra-ataque. O tricolor teve posse de bola de 33% no empate com o River, no Maracanã. Na vitória sobre o Santa Fé, essa estatística caiu para 27%.
Há muita dificuldade para assumir o controle de jogos grandes. No Carioca, a postura tem sido outra. A posse de bola foi de 57% contra na vitória por 4 x 1 sobre o Madureira. Antes, de 51%, no triunfo por 1 x 0 contra o Botafogo. Certo ou por vias tortas, o Fluminense tem uma face contra times teoricamente fracos; e outra postura contra o River, por exemplo.
Em 2015, entrevistei Roger Machado aqui no blog. Conversamos sobre aquele golaço coletivo do Grêmio, em 2015 (assista ao vídeo acima). O comentário dele sobre a jogada resume o pensamento do técnico.
“Foi resultado do que trabalhamos nos treinos, de um conceito de jogo. Aquilo é resultado das coisas que exijo do time: posse de bola, saída-apoio, ou seja, evolução apoiada por um companheiro; contra-ataque com poucos toques — o máximo que demos naquele gol foram dois toques; a troca de corredor, com a retomada da bola em um lado do campo e a conclusão do outro, mudando a zona de pressão; amplitude do posicionamento, com um jogador muito aberto; e superioridade numérica no ataque. Nosso gol foi em um quatro contra três”, disse.
O Fluminense dupla face tem êxito no Carioca e na Libertadores. Com a bola, é semifinalista do Estadual contra a Portuguesa. Sem ela, lidera o Grupo D da competição continental com quatro pontos. Está à frente do River Plate nos critérios de desempate.
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