Tal pai, tal filho. Aos 53 anos, Adalberto Machado foi prata da casa do Flamengo. Surgiu na Gávea nos anos 1980 como sucessor de Júnior na lateral esquerda. Atuou como a camisa rubro-negra em 183 jogos. Alguns deles, ao lado de craques como Zico, Andrade, Tita, Bebeto, Mozer, Leandro, Sócrates… Em 1985, fez dois gols na histórica goleada por 6 x 1 sobre o Botafogo, no Maracanã. Uma grave fratura na perna encerrou a carreira de Adalberto precocemente, em 1989, aos 25 anos.
O filho Rodrigo Moreno, de 26 anos, é quem dá sequência à carreira de Adalberto. O atacante do Valencia e da seleção da Espanha está próximo de realizar um sonho que seu velho não conseguiu: disputar a Copa do Mundo. Pupilo do técnico Julen Lopetegui, com quem foi campeão da Eurocopa Sub-21 em 2013, o carioca até pensou em defender a Seleção. Cresceu na Espanha junto com Thiago Alcântra (Bayern de Munique) e Rafinha (Internazionale), filhos do tetracampeão Mazinho, mas o trio escolheu rumos diferentes para a carreira. Thiago e Rodrigo optaram por defender a Espanha. Rafinha, campeão olímpicos nos Jogos do Rio-2016, o Brasil. Rodrigo fez até gol naquela Seleção de Oscar e Philippe Coutinho nas quartas de final do Mundial Sub-20 de 2011 e comemorou como se fosse espanhol.
A seguir, Adalberto conversa com o blog sobre o sucesso de Rodrigo Moreno no Valencia — terceiro colocado no Campeonato Espanhol. Na temporada de 2017/2018, ele marcou 12 gols. Cada bola na rede é importante para superar a concorrência de outro brasileiro naturalizado espanhol: o alagoano Diego Costa, do Atlético de Madrid, é o nome que pode deixar Rodrigo Moreno fora da Copa. Adalberto admite que ambos brigam, sim, por uma vaga entre os 23 convocados da Espanha.
O Rodrigo Moreno vive um bom momento no Valencia. O que explica isso?
Ele tem 12 gols na temporada, a melhor marca pessoal são 18 na época do Benfica (temporada de 2013/2014). Fazendo uma projeção, ele pode chegar a 20 gols na temporada atual. A diferença é basicamente que, nos primeiros anos no Valencia, ele atuava muito como jogador de lado. Tinha função tática de marcar lateral lá no fundo. Atuava em uma função diferente a cada três jogos.
As lesões e as mudanças de técnico também atrapalharam?
Sim, ele sofreu uma contusão no ligamento cruzado posterior do joelho na temporada de 2015/2016. Depois, lesionou o tornozelo. Na época, ele estava jogando bem com o (técnico) Nuno Espírito Santos. Houve algumas mudanças de técnico. Veio Gary Neville, depois o Cesare Prandelli. O Rodrigo fez bons jogos, mas alterava bons e maus momentos.
O Valencia tem atuado no 4-4-2 com o Marcelino Toral. Até que ponto ajuda o Rodrigo?
Na verdade, o Marcelino é o grande provocador dessa mudança na performance do Rodrigo. O Valencia vinha jogando no 4-2-3-1, no 4-3-3, mas nesta temporada tem atuado no 4-4-2, praticamente com dois centroavantes, o Rodrigo, que tem mais movimentação, e o Zaza. O Rodrigo passou a ser mais decisivo. Passou a fazer boas partidas até mesmo quando sai do banco de reservas. Tem sido assim, por exemplo, na Copa do Rei. Fez a diferença contra o Zaragoza. Na semana passada, voltou a marcar na vitória sobre o Las Palmas.
Faltam quatro meses para a Copa. Podemos dizer que dois brasileiros naturalizados espanhóis estão na briga por uma, quem sabe duas vagas na seleção da Espanha: o Rodrigo Moreno e o Diego Costa (Atlético de Madrid).
É verdade, há uma disputa sadia entre os dois. São dois grandes centroavantes. O técnico da Espanha conhece bem o Rodrigo. Ele foi jogador do Julen Lopetegui na conquista da Eurocopa Sub-21 de 2013. Era aquele time que tinha De Gea, Thiago Alcântara, Morata, Carvajal, Isco… O Rodrigo era o camisa 9 dele. Ainda tem muito tempo até a Copa, mas o treinador confia muito nele. Tanto ele quanto o Diego Costa são muito eficientes.
O que pode diferenciá-lo do Diego Costa tecnicamente?
Eu não gostava quando o Rodrigo era utilizado como a atacante de lado. Ele atuava pelas pontas para o Valencia não perder centroavantes como Alcácer, Negredo… Mas, hoje, eu entendo que a versatilidade favorece o Rodrigo. Ele sabe atuar centralizado e nas pontas.
O Rodrigo e o Thiago Alcântara são duas grandes perdas para a Seleção Brasileira…
Tanto o Thiago (filho do Mazinho) quanto o Rodrigo saíram muito jovens do Brasil, aos 11 anos. Quando eles começaram a se destacar aqui na Espanha, o Mazinho entrou em contato com o Rodrigo Paiva (ex-assessor da CBF) para ver se era possível dar uma chance a eles. A resposta foi que a CBF poderia desestimular os meninos que estavam atuando aqui. Achei correta a atitude, nada contra, mas alertamos que a Seleção perderia jogadores. Thiago e Rodrigo escolheram defender a Espanha e o Rafinha, irmão do Thiago, o Brasil. Foi até campeão olímpico nos Jogos do Rio-2016. Tanto que isso mudou…
O Rodrigo Moreno enfrentou o Brasil na semifinal do Mundial Sub-20 de 2011. Fez até gol. Como será em um possível reencontro na Copa da Rússia?
Pois é, naquele jogo de 2011 eu tive certeza do que o Rodrigo queria. Era uma semifinal de Mundial. O Rodrigo fez o primeiro gol da Espanha e comemorou de um jeito impressionante. Ali eu falei: ‘é, não tem mais jeito’. Costumo dizer que, em caso de um novo reencontro entre Brasil e Espanha, qualquer um que vença me deixará feliz (risos).
E o Rodrigo tem um diferencial: é um centroavante canhoto…
Centroavante canhoto tem seu charme. É só ver o Adriano, o Jô, são diferentes.
Você parou cedo, não conseguiu chegar à Seleção Brasileira. O Rodrigo completa você jogando em uma seleção como a Espanha, ou seja, é a sua realização?
Você disse tudo. Não consegui chegar à Seleção, não disputei uma Copa do Mundo, mas, realmente, eu me sinto realizado quando vejo o Rodrigo com a camisa da Espanha, Não consegui isso na minha carreira, mas sinto-me realizado vendo o meu filho com chance de atingir o que eu não consegui: jogar uma Copa do Mundo.
E o Rodrigo é Flamengo…
Na minha casa havia democracia (risos): quem não torcia pelo Flamengo não comia na minha panela e era obrigado a começar a trabalhar aos 15 anos. Lógico que isso é uma brincadeira, mas ele (Rodrigo) é Flamengo.
Por falar no Flamengo, o time começa a temporada sob o comando do Paulo César Carpegiani. Chegou a trabalhar com ele nos anos 1980?
Quando cheguei, ele estava saindo. É uma grande escolha. Tem o DNA do Flamengo, o perfil de treinador da casa. Isso combina com o Flamengo.