Aos 30 anos, ele acaba de levar o Paraná Clube de volta à Série A do Campeonato Brasileiro. Em um bate-papo por telefone com o blog, O técnico-torcedor Matheus Costa conta que tirou da cartola pelo menos três trunfos para encerrar a sequência de 10 anos consecutivos do time na segunda divisão: um livro de cabeceira sobre gestão, o paranismo na veia e a juventude de quem tem ambição de entrar de vez no mercado do futebol nacional.
Na conversa a seguir, Matheus Costa revela que o livro Liderança, do ex-técnico do Manchester United, Alex Ferguson, foi um dos seus maiores aliados na gestão de 38 jogadores. Na parte tática, recorreu às publicações de Pep Guardiola. A experiência como treinador nas divisões de base — onde começou a trabalhar aos 21 anos — e até a conturbada demissão de Lisca, quando Matheus Costa herdou o cargo e foi acusado de ser o pivô da crise—serviram de aprendizado para que ele se tornasse uma das maiores, senão a maior revelação de 2017 entre os treinadores do futebol brasileiro. O Paraná Clube não disputava a Série A desde 2007. Está de volta à primeira divisão graças ao sucesso de um comandante de apenas 30 anos!
O Matheus Costa imaginou nos seus melhores sonhos ser técnico de futebol com 30 anos de idade e classificar um time para a Série A do Campeonato Brasileiro?
Eu comecei muito cedo na carreira. Fui técnico das categorias de base com 21 anos. Quando a gente assume um desafio, quer fazer o melhor trabalho possível. Eu sempre pensei jogo a jogo, nunca a longo prazo. Planejei alcançar a maior pontuação possível. Começamos a brigar pela parte de cima da tabela e a partir do momento em que entramos no G-4, que foi em casa, contra o Londrina, começamos a trabalhar jogo a jogo para ficar não sair mais. A consequência disso foi o acesso. Isso veio de uma forma natural, foi de forma natural.
Você é o técnico mais jovem a subir um time para a Série A. Até que ponto é um orgulho?
Muitos comentam isso comigo. É a quebra de um paradigma um treinador com 30 anos ter uma oportunidade e fazer uma campanha de sucesso em um time como o Paraná Clube, um time que vinha passando dificuldades, estava há 10 anos na Série B, sempre brigando na parte de baixo da tabela, brigando para não cair. É um feito histórico.
E você se preparou para isso…
Passei por Fluminense, três anos no Inter, passei pelo Coritiba como observador e scout da base e do profissional e também trabalhei no Atlético-PR. Isso me deu suporte. Passei por diversas funções para que, quando surgisse uma oportunidade, estivesse preparado.
O fato de conhecer o Paraná desde a infância pesou na escolha da diretoria?
Eu me apresentei aqui no início do ano contratado como auxiliar técnico permanente. A direção e o elenco foram me conhecendo e surgiu a oportunidade de ser técnico do time principal. Eu sabia que dependia muito do resultado para me manter. É por isso que o planejamento foi jogo a jogo para atingir os pontos necessários. Eu estava sendo lançado e precisava dos resultados. Isso aconteceu. Tivemos cinco vitórias seguidas e entramos de vez no G-4. Passamos por alguns períodos de dificuldade, com duas derrotas, mas mostramos que nós tínhamos condição de subir e foi isso que nós fizemos.
“É a quebra de um paradigma um treinador com 30 anos ter uma oportunidade e fazer uma campanha de sucesso em um time como o Paraná Clube, um time que vinha passando dificuldades, estava há 10 anos na Série B, sempre brigando na parte de baixo da tabela, brigando para não cair. É um feito histórico”
Tem crescido o número de analistas de desempenho, de scouts, que viram técnicos de futebol. É uma tendência ou já é uma realidade?
Hoje, no futebol, você tem acesso a muitas informações. Essa função é recente, é mais um fator que pode ser decisivo durante um jogo. Quem teve essa oportunidade ou acesso a isso, tem facilidade para comandar treinamento, preparar a equipe, analisar os adversários, criar uma estratégia de jogo. Não é um fator determinante, mas ajuda bastante.
O técnico de futebol moderno precisa ter a gestão do grupo como aliada. Foi o seu caso?
Esse é um dos fatores mais importantes. A gestão de grupo é responsável por 50% do sucesso. Eu tive o prazer e o privilégio de ter sido auxiliar do Levir Culpi. Quando se fala em gestão de grupo, ele é uma das referências. Eu procurei sempre ser muito correto. Eu tenho um elenco de 38 jogadores e 11 jogos só. Administrar isso termina sendo muito difícil.
Foi complicado no Paraná?
Eu sempre procurei ser muito correto e coerente, passar a real para todos os atletas. Explicar por que está jogando, por que não está jogando, avisar que vai ter oportunidade ainda… Procurei ser correto e coerente do início a fim. Vendi a minha ideia e eles compraram. Tive muita convicção do que eu queria.
“A gestão de grupo é responsável por 50% do sucesso. Eu tive o prazer e o privilégio de ter sido auxiliar do Levir Culpi. Quando se fala em gestão de grupo, ele é uma das referências. Eu procurei sempre ser muito correto. Eu tenho um elenco de 38 jogadores e 11 jogos só. Administrar isso termina sendo muito difícil”
Algum livro de cabeceira o ajudou nesse semestre de trabalho?
Eu leio muito sobre coaching, psicologia do esporte… Ao longo dessa temporada eu li um dos livros do Alex Ferguson, que fala sobre liderança. Ele foi um manager, extremamente bem-sucedido no Manchester United. É curioso porque é um livro que não fala muito sobre questões táticas de futebol, fala muito sobre gestão. Li os dois livros do Pep Guardiola, que aí, sim, parte mais para estratégia, formas de jogar.
O fato de ser um treinador-torcedor também ajuda. Esse nome Matheus Costa era conhecido de longa data no Paraná, não é?
Todo treinador ou profissional de futebol teve um clube de infância na vida. Eu não escondo de ninguém que sou torcedor do Paraná. Por causa do clube, sou fanático por futebol. Fui atleta das categorias de base do Paraná. Joguei no futsal dos nove aos 19 anos e tive uma rápida passagem pelo futebol de campo também. Você acaba criando um vínculo de infância.
Ao longo dessa temporada eu li um dos livros do Alex Ferguson, que fala sobre liderança. Ele foi um manager, extremamente bem-sucedido no Manchester United. É curioso porque é um livro que não fala muito sobre questões táticas de futebol, fala muito sobre gestão.
Ainda assim, prestou serviços aos concorrentes…
Eu trabalhei nos rivais, tenho carinho por eles também. Quando você se torna profissional, tem que se dedicar ao local em que você trabalha, mas que bom que a minha primeira oportunidade como treinador de futebol foi no meu clube de infância, o Paraná.
Seu pai Niel é fanático pelo Paraná. Como ele reagiu após a volta do time para a Série A?
Depois das comemorações, e do momento em que baixou a adrenalina e a gente entrou no ônibus para voltar ao hotel, eu liguei para o meu pai para parabenizá-lo. Dediquei o acesso a ele. Ele chorava tanto ao telefone que não entendia uma palavra. Eu só disse a ele: “pode comemorar que o seu time subiu”. Não dá para descrever o que ele sentia.
Você foi acusado de ser o pivô da saída do Lisca após a eliminação diante do Atlético-MG na Primeira Liga. O que houve entre vocês?
Houve um período muito conturbado. Estávamos na Primeira Liga, enfrentando grandes clubes do Brasil e tínhamos acabado de eliminar o Flamengo. Houve toda aquela confusão (Lisca teria agredido um membro da comissão técnica, no caso Matheus Costa), e a diretoria tomou a decisão de demiti-lo. Houve muitas informações, algumas verdadeiras, algumas não, e era o momento de a gente se fechar. Só quem estava dentro do clube poderia demostrar a nossa força. Foi o que fizemos. Fomos eliminados pelo Atlético-MG, mas fizemos uma excelente partida e depois começamos uma sequência de vitórias e a volta para a Série A.
“Eu liguei para o meu pai para parabenizá-lo. Dediquei o acesso a ele. Ele chorava tanto ao telefone que não entendia uma palavra. Eu só disse a ele: “pode comemorar que o seu time subiu”. Não dá para descrever o que ele sentia”
O presente antecipado de Natal é a renovação com o Paraná para 2018?
A gente tinha uma conversa há um mês sobre renovação, mas, como a situação do time ainda estava muito indefinida, eu preferi deixar para o encerramento da Série B, esperar acabar. Num primeiro momento, eu preferi aguardar para termos uma segunda conversa. A gente joga no sábado contra o Boa e o desejo de permanecer existe.
Você foi um dos responsáveis pela contratação de um menino bom de bola nascido aqui em Brasília. O que pode dizer sobre o Ítalo, que trocou o Paraná pelo Londrina?
É um garoto que eu já observava quando estava em outros clubes. Ele chamou a minha atenção quando fez aquela partida pelo Gama contra o Santos na Copa do Brasil, lá na Vila Belmiro. O Fluminense estava monitorando. Quando eu fui para o Paraná, disseram: “Matheus Costa, você conhece um menino assim…” Falaram dele, lembrei e fortaleci a aposta nele. Ele veio, fez um excelente Campeonato Paranaense neste ano, mas depois teve uma lesão muito séria e ficou afastado por 60 dias. Quando ele voltou, disse a ele para ter paciência. Pedi para amadurecer e esperar uma nova oportunidade. Ele acabou recebendo uma proposta do Londrina e deixou o Paraná.
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