Entrevista | Agnaldo de Jesus: técnico que lançou Rony no futebol profissional conta como o atacante do Palmeiras ganhou R$ 1 mil pela primeira vez na vida

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Aos 52 anos, o sergipano de Macambira José Agnaldo de Jesus tem alguns orgulhos na vida. Um deles é morar em Belém. “Terra da castanha, do açaí”, brinca na entrevista ao blog o ex-volante colecionador de títulos nas passagens por Paysandu e Remo, os maiores times do Pará. Antes da paralisação do futebol devido à pandemia do novo coronavírus, Agnaldo de Jesus tinha um ritual: assistir aos jogos do pupilo Ronielson da Silva Barbosa, o Rony do Palmeiras. Os olhos de lince do então coordenador da base e técnico interino do Remo não falharam em 2015, quando ele enxergou potencial no atacante nascido em Magalhães Barata, município de 9 mil habitantes localizada a 156km da capital do Estado. No bate-papo a seguir, Agnaldo conta por que promoveu Rony, que tinha 19 anos, ao time profissional. A aposta de risco não demorou a dar resultado. Ele conta como Rony ganhou R$ 1.000 pela primeira vez na carreira.

Você teve sensibilidade para promover o Rony da base ao profissional do Remo. Como foi?

Eu era coordenador da base e auxiliar do time principal. Como joguei muito tempo aqui, por sete anos, fui treinador, jogador campeão, eu tinha várias funções em virtude das dificuldades do clube. Em um dos treinamentos da base, vi esse menino Rony, nascido em Magalhães Barata (PA). Coincidentemente, o treinador saiu naquela época e eu assumi interinamente o comando técnico do time até a chegada de um substituto. Durante esse período, vi no Rony algo diferenciado em relação aos outros garotos.

Você conhecia o Rony, tinha alguma referência sobre ele?

Eu já conheci o Rony na base do Remo. A base não tem estrutura, tantas condições, mas eu ia a todos os treinamentos da base. Não fui eu que busquei o Rony lá em Magalhães Barata. Para ser honesto e sincero com você, eu o vi treinando na base. Dali puxei o Rony para integrar os quadros profissionais. Teve um outro rapaz que ajudou o Rony aqui, que é o Valter Lima. Colaborou muito com ele. É outro nome que não deve ser esquecido.

O que notou de especial no garoto de 19 anos?

A explosão, a força que ele tinha e a inteligência. Ele consegue juntar essas características. Além disso, a parte técnica dele era natural. Ele perdia a bola e automaticamente vinha recompor no meio de campo. Era dele mesmo.

Como era o menino Rony?

Queria vencer, cara. Tinha vontade, empenho. Ele é um menino humilde, simples, passava dificuldade, e eu integrei o Rony ao elenco principal. Se eu não tiro o Rony da base naquele momento, talvez ele estivesse rodando em times pequenos. Ali as coisas começaram a andar.

Alguma história dos tempos de Remo ilustra quem é o Rony?

Olha só como foi a estreia do menino. Em 2015, no meu primeiro jogo como técnico interino, convoquei o Rony para o banco de reservas. O presidente Zeca Pirão falou assim no hotel, nunca vou me esquecer: “Ei, moleque, se por acaso tu entrar no jogo e fizer um gol, eu te dou R$ 1.000”. A estrela do menino brilhou. Ele entrou no segundo tempo contra o São Francisco, de Santarém, e fez o gol do empate. Pela primeira vez na vida, ele viu R$ 1.000 nas mãos. Na época, ninguém ganhava nada na base. Ali nasceu aquele Rony que é hoje.

Hoje ele é jogador do Vanderlei Luxemburgo no Palmeiras. Qual é a sua projeção?

A minha perspectiva de que ele cresça ainda mais é enorme. Daqui (de Belém) ele foi para a base do Cruzeiro, arrebentou na Série B com o Náutico sob comando do Givanildo de Oliveira, ele voou na verdade. Foi para a China, voltou para o Athletico-PR, hoje está no Palmeiras. A tendência desse menino, se continuar na mesma pegada, ele vai para a Seleção Brasileira.

O que mais chama a atenção nele?

Ele é muito focado naquilo que ele quer, nos objetivos de vida dele. Ele é muito família. Veio aqui em Belém a um jogo beneficente agradecer por tudo aquilo que eu fiz por ele. Tudo por amor. É a minha obrigação. Não tem aquela história de dar com uma mão e querer com a outra. Nada. Quando se faz isso acaba a amizade. A minha função na época era trabalhar para revelar jogadores e ajudar o clube. Foi legal. Esse menino não se empolga, não é dessa onda de ostentar. Tem um coração muito bom. Torço para que as coisas se multipliquem na carreira dele.

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Marcos Paulo Lima

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