Adriano Correia Daniel Alves e Adriano Correia juntos na era vitoriosa do Barcelona de Pep Guardiola. Foto: AFP Daniel Alves e Adriano Correia juntos na era vitoriosa do Barcelona de Pep Guardiola. Foto: AFP

Entrevista: Adriano Correia | Parça de Daniel Alves em título contra Espanha fala sobre a final olímpica e passa carreira a limpo

Publicado em Esporte

Finalista do futebol olímpico nos Jogos de Tóquio, o capitão Daniel Alves contará neste sábado com a torcida de um perceiro que foi campeão com ele justamente em uma final contra a Espanha. Em 2003, o lateral-esquerdo Adriano Correia Claro, revelado pelo Coritiba e com passagem por Sevilla, Barcelona, Besiktas Ahtletico-PR e Eupen da Bélgica, conquistou o Mundial Sub-20 por 1 x 0, nos Emirados Árabes Unidos. Ele e Dani eram os laterais titulares do Brasil. Na entrevista a seguir ao blog, Adriano recorda o jogo decisivo.

Aos 36 anos, o paranaense de Curitiba disputou a última temporada do Campeonato Belga com a camisa do Eupen. Ele explica por que o país virou uma referência no futebol mundial a ponto de ter formado uma geração capaz de brigar por títulos na Euro e na Copa do Mundo. Adriano fala sobre a coleção de títulos ao lado de Lionel Messi no Barcelona, explica a negociação que não deu certo com o Flamengo e em tempo de Jogos de Tóquio, critica a falta de investimento no esporte olímpico brasileiro.

 

Você foi campeão do Mundial Sub-20 de 2003 com o Daniel Alves naquela final contra a Espanha. Quais são as lembranças da decisão?
Foi uma decisão difícil. Jogo fechado, truncado, compacto. Eles tinham uma seleção muito parelha com a nossa em qualidade técnica, física e tática. A partida foi decidida em um lance de bola parada, mas foi marcante. O meu primeiro título de expressão.

 

E qual é o seu recado para o Daniel Alves antes de outra decisão contra a Espanha?
O Daniel Alves tem lembranças positivas não somente daquele jogo contra a Espanha, mas de outras. Participou da final da Copa das Confederações de 2013. Pelo currículo e jogador, a figura que é nessa seleção, isso dá tranquilidade a todos para dar respaldo em uma final.

 

Rola uma invejinha saudável do Daniel Alves ao ver um amigo contemporâneo na final?
Admiro muito do Dani, sou muito feliz por ele estar ali aos 38 anos depois de tudo que ele ganhou e ainda ter essa motivação. Ele entra em cada jogo como se fosse estreia. Essa ambição mantém o nível dele. Faz a diferença. Lógico que eu gostaria de participar desse momento, o sonho de conquistar uma medalha olímpica, mas fico na torcida pelo ouro.

 

Você viu dentro do campo o Daniel Alves bater o escanteio na cabeça do Fernandinho no gol do título do Mundial Sub-20 de 2003. Passou pela sua cabeça que o Dani colecionaria 41 títulos na carreira e se tornaria o cara mais vitorioso do futebol?

Aquele escanteio foi histórico para a gente. Desbancamos a Argentina na semifinal e uma das favoritas na decisão (contra a Espanha). Conheci o Dani um ano antes do Mundial. Ele surpreendeu pela capacidade como jogador, atleta. Ele merece os 41 títulos na carreira e muito mais pela pessoa que é. Ajudou muito na minha chegada ao Sevilla e depois no Barcelona. Temos amizade fora de campo.

 

Você jogou muito tempo na Espanha. O que acha da geração olímpica, que tem seis jogadores da Euro-2020?
É uma nova geração´que vem forte, muito jovem. Há seis jogadores que disputaram a Euro e fizeram grandes jogos, boas atuações. Vem forte. É o futuro da seleção.

 

Por falar em Olimpíada, qual é o nível de satisfação do cidadão Adriano com o investimento do país no esporte? O que falta para o Brasil virar uma potência olímpica?

Insatisfeito. Falta investimento no nosso esporte, assim como temos no futebol. É preciso ter coerência em relação aos outros esportes. Temos talentos espetaculares que realmente sofrem muito para competir numa Olimpíada. Faltam patrocinadores, gestão do esporte, uma economia voltada para novos talentos. Estrutura para trabalhar. É inadmissível em um país como o nosso ainda termos atletas que contam com a ajuda de familiares para chegar numa Olimpíada. Sem subsídio para viajar, competir. É a parte em que falhamos. Podemos ser potência mundial sem corrupção, investimento na educação.

 

Depois das eras Branco, Leonardo, Roberto Carlos, Marcelo e Filipe Luís, o Brasil vive um dilema na lateral esquerda. Procura-se um dono para a camisa 6…
Há uma cobrança muito forte em cima dos novos jogadores, das novas gerações. O Brasil está em um caminho certo. Os que estão sendo chamados (Alex Sandro e Renan Lodi disputaram a última Copa América) podem dar qualidade nessa posição. Outro virão também, mas estamos bem servidos nessa posição.

 

Você estava no Eupen, 12º colocado no último Campeonato Belga, e viu de perto a evolução do futebol belga. O que está acontecendo na Bélgica a ponto de a seleção deles chegar à Eurocopa e à Copa do Mundo como candidata ao título?
Tive o prazer de voltar à Europa. Joguei em uma liga que vem em evolução há alguns anos. Tem grandes jogadores em grandes equipes da Europa. Isso facilita muito para o treinador da seleção (belga). Há um grupo de trabalho em evolução. Jogadores mundialmente conhecidos e eles estão trabalhando forte na base e no profissional. A Bélgica é um país pequeno, mas teve visão para fazer acontecer.

 

Brasil Sub-20 campeão mundial contra a Espanha em 2003. Foto: Reprodução/www.melhoresdabase.com.br

 

Você voltou ao futebol brasileiro em 2019 para defender o Athletico-PR, mas logo voltou para a Europa. Por que não deu certo?
Eu tinha proposta para continuar na Turquia, mas passei por um momento delicado na vida pessoal com relação à minha mãe. Ela morreu no ano passado. Eu aproveitei novamente o Brasil em um clube com estrutura para eu trabalhar e dar continuidade à minha carreira. Não vejo que não deu certo. Recebi a proposta para voltar à Europa. Se eu tivesse uma nova oportunidade para voltar ao Brasil, retornaria sem problema nenhum. Agora, mais readaptado. Fiquei 15 anos fora do Brasil. Se eu voltar será totalmente diferente e poderei ter um desempenho melhor do que no Athletico-PR.

 

Você acumula passagens por ligas europeias organizadas. O choque de realidade foi muito grande no retorno ao Brasil? O que precisa melhorar aqui?
Vi melhoras quando voltei. Nós recebemos uma Copa do Brasil, Jogos Olímpicos… Eu gostaria de que o nosso futebol estivesse melhor em termos econômicos e de gestão. Acho que temos de melhorar. Os clubes não podem ficar reféns de agentes e empresários. Tem que ser implantada uma filosofia, uma metodologia dentro de cada clube para que não haja vaivém de treinadores. Não há paciência para esperar a produtividade do treinador. A cada troca de mandato há uma gestão diferente.

 

16 títulos conquistou Adriano Correia no Barcelona

  • Campeonato Espanhol: 2010–11, 2012–13, 2014–2015, 2015–16
    Copa do Rei da Espanha 2011–12, 2014–15, 2015–16
    Supercopa da Espanha: 2010, 2011, 2013
    Champions League: 2010–11, 2014–15
    Super Cup da Espanha: 2011, 2015
    Mundial de Clubes: 2011, 2015

 

Houve rumor de que você acertaria com o Flamengo em 2019. O que faltou para fechar?
A gente teve algumas reuniões, mas não chegamos a um acordo. Eu gostaria de ter acertado esse contrato, mas bola pra a frente. Temos vários amigos lá. O Flamengo e o Palmeiras são modelos no país em termos de gestão. Eu queria que esses times inspirassem outros para termos ambientes mais sólidos para trabalhar.

 

A sua passagem pelo Barcelona é um capítulo à parte…
Foi uma realização profissional estar no melhor clube do mundo, com os melhores do mundo, e evoluir com eles. Cresci muito com o Pep Guardiola. Cheguei depois de passar cinco anos e meio no Sevilla. Evolui como jogador e como pessoa, depois cheguei no Barcelona e fui polido dentro e fora de campo entre os melhores. Passei por uma fase inesquecível. Sou um abençoado por participar de uma era tão vitoriosa.

 

Qual foi a sensação de ter visto o amigo Messi finalmente ganhar um título pela Argentina. E contra o Brasil, no Maracanã?

A minha sensação como brasileiro não foi boa. Mas fiquei feliz pelo atleta e a pessoa do Leo. Aprendi muito com ele nesses anos no Barcelona. Faltava ganhar um título pela seleção e ele era muito cobrado por isso. Foi coroado. Não precisava ser no Brasil (risos).

 

Pensa em aposentadoria ou está fora dos planos?
Ainda não penso em aposentadoria, mas está chegando o fim da carreira. Fiz uma temporada muito boa na Bélgica (disputou 26 jogos). Estou mantendo a minha parte física. Decidi não renovar o contrato por causa da pandemia e da parte econômica e agora estou esperando ofertas na Europa e no Brasil para continuar a carreira.

 

O que pretende fazer quando parar?
Quero seguir no futebol. Ajudar a nova geração. Gosto de ensinar. Posso ser diretor, comecei curso de treinador e tenho o lado empresário também.

 

 

 

 

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