Ele foi o Rei da América em 1988, prêmio entregue ao melhor jogador do continente, quando defendia o Racing. Conseguiu ser eleito o jogador do ano na Argentina (1988) e faturou a Bola de Prata no Brasileirão (1985) quando defendia o Internacional. Um dos maiores ídolos do futebol uruguaio, Rubén Walter Paz Márques, o Rubén Paz conversou com o blog sobre futebol sul-americano. No sábado, às 17h, Flamengo e River Plate disputarão a final da Libertadores no Estádio Monumental, em Lima, no Peru. Faltou esse título no currículo do ídolo do Uruguai, do Racing e do Internacional, mas o senhor de 60 anos não desdenha da competição. Na entrevista a seguir, diz que o Flamengo é um dos times que ele aplaude de pé. Elogia o trabalho de Marcelo Gallardo na equipe argentina e não esconde a torcida pelo amigo Enzo Francescoli na decisão. O compatriota é dirigente do River, um dos trunfos dos atuais campeões da Libertadores. A seguir, ele também fala de Messi, da crise dos camisas 10, critica o excesso de “tatiquês” dos treinadores e manda Neymar se olhar no espelho.
Quem é ele: Rubén Wálter Paz Márques
Nascimento: 8/8/1959
Local: Artigas (Uruguai)
Principais clubes como jogador (meia): Peñarol (1977-1981), Internacional (1982-1986), Racing-FRA (1986-1987), Racing-ARG (1987-1989), Genoa (1989-1990), Racing-ARG (1990-1992)
Seleção: Uruguai (45 jogos, 12 gols)
Principais títulos: Campeonato Uruguaio (1978, 1979 e 1981), Campeonato Gaúcho (1982, 1983 e 1984),
Supercopa dos Campeões da Libertadores (1988), Mundialito (1980) e Sul-Americano Sub-20 (1977 e 1979).
Prêmios individuais: Rei da América (1988), Melhor jogador do Campeonato Argentino (1988), Melhor jogador do Mundialito (1981).
Flamengo e River Plate decidem o título da Libertadores. Quem leva?
Os dois merecem levar a Copa. O problema é que só um leva. E mudou o esquema. É um jogo só, complicou mais. É em campo neutro. Eu acho que o treinador que der mais tranquilidade aos seus jogadores sairá vitorioso. Fala-se muito em tática, claro, mas quem joga, quem faz o time são os jogadores, que têm de estar concentrados, tranquilos. É o jogo mais importante na vida deles.
Quem sentirá mais o peso do jogo?
Para o Flamengo, que está há 38 anos sem o título, muda muito. Para o River, não. É o atual campeão e vem de comer muito doce de leite (risos). O Flamengo mudaria de status para o torcedor. O último tinha o Zico, que era o ícone desse time. Por isso, é muito importante. Agora, são 90 minutos para ver quem é quem. Gostaria, como espectador, que os dois pensassem no adversário sem muita frescura de tática. Às vezes, isso impede que os jogadores mostrem as suas qualidades.
O seu amigo Francescoli é um dos dirigentes do River Plate. Qual é a importância dele nesse sucesso do Marcelo Gallardo à frente do clube argentino?
Numa entrevista, ele disse: “Deus me iluminou”. Acho que Deus iluminou ele e o presidente. Ele ganhou as eleições no clube e Francescoli é manager. Escolheram os homens certos. Gallardo estava jogando no Uruguai, se machucou, virou treinador do Nacional, foi campeão e se foi para a Argentina. Ele estava livre e o pegaram no momento certo. A história dele sempre foi de jogar bonito e ter qualidade. Atuava com Ortega, Saviola, só craque. Está consagrado como craque e como treinador. Só faltou a Copa do Mundo.
Qual é o time, hoje, que faz o Ruben Paz parar para assistir e aplaudir de pé?
No Brasil, o Flamengo está fazendo um trabalho bom. Treinador novo, ideias novas. Chegou ao vestiário, conheceu o trabalho do dia a dia e tudo aconteceu mais rápido que a gente pensava. Tem jogadores bons em todas as posições. Todos eles importantes. E a pontuação no Campeonato Brasileiro está confortável. Na Argentina, tem o River Plate. Está num momento bom, trabalho bom do treinador também. Isso é reflexo de um treinador há quase três anos no clube e com bom rendimento. O PSG tem dois times, um em campo e outro no banco. Barcelona é nível europeu. O homem está lá. Sem ele, o Barcelona cai 50% de produção. Na Itália, a Juventus agora com Cristiano Ronaldo. Gosto muito do Borússia Dortmund também.
Gostaria, como espectador, que os dois (Jorge Jesus do Flamengo e Marcelo Gallardo do River Plate) pensassem no adversário sem muita frescura de tática. Às vezes, isso impede que os jogadores mostrem as suas qualidades
O futebol uruguaio não conquista a Libertadores desde 1988, quando o Nacional superou o Newell’s Old Boys na final. Por que um jejum tão longo?
Hoje, o futebol uruguaio é uma escolinha. Produz jogadores jovens com 15, 16 anos que nem chegam à primeira divisão e vão embora. Temos um exemplo. O Peñarol teve que vender jogadores muito importantes por problemas econômicos. E assim está o futebol uruguaio. Antigamente, os jogadores acumulavam mais tempo no clube. A sorte é que a seleção uruguaia está bem, tem belos jogadores e eles estão jogando bola.
Falando sobre torneios de seleções. A Europa conquistou as últimas quatro edições da Copa do Mundo. O que explica esse domínio sem precedentes?
Tenho muito contato com a Argentina. A AFA tem que arrumar a casa. Passaram não sei quantos treinadores pela seleção e aí está o problema. Tirando a final contra a Alemanha, que a Argentina chegou perto de ganhar por individualidade e não por conjunto. A Seleção Brasileira tem o mesmo problema. Três a quatro dias para reunir os jogadores e atuarem em outro sistema. O treinador manda a ideia e os jogadores chegam com outras, pois no futebol europeu, por exemplo, se marca homem a homem.
Acha que Argentina, Brasil e Uruguai ainda conquistarão a Copa do Mundo?
O Uruguai perdeu uma grande oportunidade em 2010. A Argentina e o Brasil estiveram perto também (em 2014). Os três tiveram chance de ser campeões. Os europeus estão trabalhando muito. A Inglaterra está apostando nas categorias de base que não são tão de base. A Itália também continua com potencial. Brasil e Argentina precisam consolidar seus treinadores. Acho que o Uruguai deveria arriscar um pouco mais.
Você foi jogador do Oscar Washington Tabárez na Copa de 1990, na Itália. Qual é a sua avaliação do trabalho dele à frente do Uruguai?
Eu fui jogador dele também na Copa América de 1989. Primeiro, jogamos em Goiânia e depois o quadrangular final, no Rio, onde perdemos com gol de Romário. Ele (Tabárez) pegou uma turma de jogadores que está em um nível impressionante. O que faltava para o Uruguai era organizar a casa. O nosso futebol precisa de dinheiro e apostar que os meninos comecem a jogar bem. Poder jogar amistosos é muito importante. Gostaria de ver Tabárez arriscar um pouco mais, como deveria ter sido feito em 2010. Falta-nos um golpe de sorte.
No Brasil, o Flamengo está fazendo um trabalho bom. Treinador novo, ideias novas. Chegou ao vestiário, conheceu o trabalho do dia a dia e tudo aconteceu mais rápido que a gente pensava. Tem jogadores bons em todas as posições. Todos eles importantes. E a pontuação no Campeonato Brasileiro está confortável. Na Argentina, tem o River Plate. Está num momento bom, trabalho bom do treinador também. Isso é reflexo de um treinador há quase três anos no clube e com bom rendimento.
A derrota para o Brasil na Copa América de 1989 é o seu maior trauma?
Gostaria de ter trazido a Copa para o Uruguai. Jogamos muito bem na Copa América e não mantivemos o bom futebol na Copa. Eu errei um pênalti contra a Espanha. Encontramos com a Itália, que era a dona da casa. Nós tínhamos uma seleção muito boa. Ficou a mágoa.
No que dependesse de você, quem seria o sucessor de Tabárez na seleção?
Neste momento, o ex-treinador da seleção sub-20, que, agora, comanda Honduras. Ele se chama Fabian Coito. Depois temos o Diego Aguirre, que treinou uma sub-20. Acho que ficaria entre esses dois, e a Federação teria que olhar para eles no momento.
Luis Suárez e Cavani formam a melhor dupla de ataque da história do Uruguai?
Em 2010, tinha o Forlán. Três jogadores, qualidade, gol. Talvez faltasse algo como um 10 tradicional. O Uruguai segue carecendo de um “aqui estou eu”. O cara que não fique esperando o que vai acontecer, o que vai fazer o rival, mas com personalidade, respeitado. Estamos falando de dois jogadores da qualidade deles. Temos hoje dois “animais”. Cavani e Suárez na frente, falta potencializar um terceiro jogador, o camisa 10.
Você era o camisa 10 do Uruguai na Copa de 1990. O camisa 10 clássico acabou?
É muito importante olharmos para a base. Muitos técnicos que tenho visto tiram as condições técnicas e a categoria de 10 que eles têm para fazer outros tipos de trabalhos táticos e não potencializar um jogador que pode ser o Messi do seu time. Falta mais qualidade tática de trabalho para não tirar a qualidade que o jogador tem desde criança.
O Uruguai segue carecendo de um “aqui estou eu”. O cara que não fique esperando o que vai acontecer, o que vai fazer o rival, mas com personalidade, respeitado. Estamos falando de dois jogadores da qualidade deles. Temos hoje dois “animais”. Cavani e Suárez na frente, falta potencializar um terceiro jogador, o camisa 10.
Quem é o melhor camisa 10 do futebol mundial na atualidade?
Hoje, continua sendo o Messi, sem dúvida. É difícil segurar aquela canhota. Há jogadores que, na base, foram grandes 10. Hoje, os treinadores só querem ganhar e esquecem que o trabalho da base é muito importante. Temos que potencializar esses jogadores.
Você é um dos ídolos do Inter. Foi tricampeão gaúcho em 1982, 1983 e 1984…
Minha relação é muito boa principalmente com a torcida. Cada vez que vou me sinto em casa. Tenho duas filhas que nasceram em Porto Alegre. Tenho amigos lá. Sempre estou indo a Porto Alegre. No mês de dezembro, o Andrés D’Alessandro promove aquele jogo da solidariedade. Fui convidado e estarei presente. Entrar no estádio novo é muito bom.
Quais são as maiores lembranças do Inter?
Passávamos mais tempo no estádio do que em casa. Havia os campos suplementares do lado, tínhamos contato com os treinadores do juniores, com os jogadores juniores como Dunga e Luis Carlos Winck, que jogavam na Seleção de juniores e depois passaram por nós. Eles cresceram com muito sacrifício. Por isso, digo que tem que trabalhar sério. Aproveitar as oportunidades. Tem uma turma enorme. Benitez, Mauro Galvão e outros.
Você é ídolo no Inter e no Racing. A relação é mais forte com qual dos dois?
O argentino tem uma paixão e eu sou supergrato. A gente nunca pensa que vai ser assim. Eu cheguei numa época que vinham da “B” e eu cheguei no momento em que tinha um time bom, treinador bom feito na casa. Fizemos um momento inesquecível. Ganhamos a Supercopa. Jogamos a Libertadores, voltamos a jogar outra final da Supercopa. Foram títulos importantes para um Racing que vinha machucado. Ficou marcado e eles me tomaram como ídolo e continua até hoje. O que aconteceu é meio parecido com o River, que estava na “B” e hoje está motivado. Foi um momento lindo aquele do Racing.
Neymar tem que acordar, olhar no espelho e dizer que é o melhor e que vai jogar bola. Ele é craque, mas era para estar mais maduro. Mostra o contrário.
D’Alessandro é seu maior fã. É quem mais se aproximou do seu estilo de jogo?
Eu acho que sim. Não lembro de mais ninguém. É difícil encontrar essa característica, visão de jogo, bate muito bem falta, canhoto, criador, faz gol. Tem, como dizem os argentinos, a “gambeta”. Leva o time nas costas. No futuro, será o camisa 10 que não veremos mais. Os treinadores da base não podem deixar morrer jogador como esse. Para marcar e correr tem um monte. Para criar, não.
Você chamou a dupla formada por Cavani e Suárez de “animais”. O que acha do Neymar?
Futebol tem que amar, gostar, jogar bola, gostar de concentrar como acontecia comigo. Nos treinos, procurar se aperfeiçoar. Ele tem tudo para ser o melhor com o Messi. Hoje, não sei o que está acontecendo. Se é uma briga interna com o clube, com o técnico, com a torcida ou com ele mesmo. Se ele gosta de futebol, tem que treinar para ser o melhor, dar alegria aos brasileiros na Seleção. Tem que jogar como era no Santos. Eu via alegria em um jogador diferenciado. Neymar tem que acordar, olhar no espelho e dizer que é o melhor e que vai jogar bola. Ele é craque, mas era para estar mais maduro. Mostra o contrário.
Seu maior título com a camisa do Uruguai foi o Mundialito de 1980, em casa contra o Brasil. O que recorda?
Competimos com europeus como Holanda e Itália. Jogamos uma grande final contra o Brasil de Sócrates, Zico, Júnior. O país passava por dificuldades na democracia. Foi muito importante ganhar esse título vestindo a camisa do meu país. Marcou muito, eu era muito novo (21 anos).
*Colaborou Enir Mendes
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