Em queda de braço com Bolsonaro na crise do PSL, Luciano Bivar é o ex-cartola que disse ter comprado a convocação de Leomar para a Seleção Brasileira

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Em um país da memória curta como o Brasil, é sempre bom lembrar quem são alguns personagens que volta e meia ressuscitam no noticiário nacional. Em um cabo de guerra com o presidente da República Jair Bolsonaro na crise do Partido Social Liberal (PSL), Luciano Bivar é aquele ex-mandatário do Sport Club do Recife que revelou, em 2013, ter subornado membros da CBF pela convocação do volante Leomar para a Seleção Brasileira na gestão de Ricardo Teixeira. O técnico verde-amarelo era Emerson Leão. Além disso, participou do imbróglio do título da Copa União de 1987, a eterna batalha entre Flamengo e Sport pelo título do Brasileirão daquele ano. O cartola teria assinado documento sugerindo à CBF a divisão do título. O STF reconhece o time pernambucano como único campeão daquela tumultuada edição do Nacional.

Em fevereiro deste ano, Bivar foi acusado de envolvimento nas candidaturas-laranja do PSL, em Pernambuco. A nova crise da vez diz respeito à saída de Jair Bolsonaro e companhia do partida pelo qual foi eleito. Em entrevista ao blog da Andreia Sadi, o ex-cartola cravou a saída de Bolsonaro da legenda. “A fala dele foi terminal, ele já está afastado. Não disse para esquecer o partido? Está esquecido. Não vai alterar nada se Bolsonaro sair, seguiremos apoiando medidas fundamentais. A declaração de ontem (terça-feira) foi terminal, ele disse que está afastado. Não estamos em grêmio estudantil. Ele pode levar tudo do partido, só não pode levar a dignidade, o sentimento liberal que temos e o compromisso com o combate à corrupção”, afirmou Bivar.

Político, cartola, empresário do setor de seguros e com patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 14,7 milhões no último pleito, Luciano Bivar, 74 anos, foi presidente do Sport em quatro mandatos (1989-1990, 1997-2001, 2005-2006 e 2013). No último deles, em 2013, revelou — sem nenhum constrangimento — ter subornado membros da CBF, em 2001, para que o volante Leomar fosse convocado pela Seleção. O caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Na época, o procurador Paulo Schmitt abriu inquérito para investigar o suposto suborno. Na época, foi multado e suspenso por 180 dias.

Luciano Bivar assumiu o Sport pela primeira vez no período de 1989 a 1990. Retornou ao cargo de 1997 a 2001, quando teria subornado membros da CBF. “Você precisa ter cuidado com executivos de futebol, porque muitos chegam ao clube para realizar negócios e não para ajudar o clube. Nós até já utilizamos esse tipo de expediente. Empurramos o Leomar na Seleção. Pagamos uma comissão para ele jogar na Seleção Brasileira”, revelou em 2013, sem divulgar o nome de quem recebeu a propina. “Pagamos para ele jogar na Seleção, foi isso. O Sport contratou um lobista para vencer a imagem do Leomar e defender a Seleção”.

“Você precisa ter cuidado com executivos de futebol, porque muitos chegam ao clube para realizar negócios e não para ajudar o clube. Nós até já utilizamos esse tipo de expediente. Empurramos o Leomar na Seleção. Pagamos uma comissão para ele jogar na Seleção Brasileira. Pagamos para ele jogar na Seleção, foi isso. O Sport contratou um lobista para vencer a imagem do Leomar e defender a Seleção”

Luciano Bivar, em 2013

A prática foi considerada comum por Luciano Bivar. “Todo mundo faz isso. Se falarem com o (Luiz Felipe) Scolari hoje, ele vai falar que recebe ligações de empresários de jogadores do Catar, de toda a parte, mandam scout ou vídeo. O futebol brasileiro só vive em cima. O nome desse lobista é indiferente, e eticamente eu não poderia revelar o nome dele, se é que eu me lembro. Esse lobby existe todo dia”, reforçou o então cartola. Que mais uma prova da força de Luciano Bivar nos bastidores da política e do futebol? O irmão dele, Milton Bivar, tomou posse neste ano como presidente do Sport. O mandato vai até 2020.

Leomar disputou seis partidas pela Seleção Brasileira. Por sinal, foi o capitão do time na Copa das Confederações de 2001, no Japão e na Coreia do Sul. Quando soube do suposto suborno de Bivar, o volante Leomar tomou um susto. “Fiquei tão surpreso como todo mundo. Achei que estivesse na Seleção pelos meus méritos no Campeonato Brasileiro de 2000, quando o Sport ficou em quinto”, defendeu-se o ex-jogador do Sport em 2013. “Não estou chateado. Quem tem que ficar chateado é ele (Bivar) que criou a polêmica”, disse.

Jair Bolsonaro e Lulciano Bivar, presidente do PSL e mandatário do Sport em quatro mandatos

Emerson Leão também se defendeu. “Em primeiro lugar, eu não tenho nada a esconder. Depois, eu fico muito perplexo que um homem respeitado no Recife, que chegou a ser candidato à presidência da República, venha a público falar isso. Agora, uma pessoa que dá uma declaração como essa deve ser investigada pelo Conselho do Esporte e pela polícia. Caso isso se confirme, deve ser preso. Tanto quem pagou, como quem recebeu”, disparou.

Antônio Lopes era o coordenador da Seleção na época e também disse que não havia recebido propina de Bivar. “Até me assustei. Em muitos anos de carreira, ninguém teve a petulância de falar nada desse tipo contra a minha pessoa. Todo mundo me conhece e sabe que eu nunca admitiria. O presidente do Sport deveria ter coragem e revelar para quem ele deu dinheiro. Precisa falar quem recebeu essa propina. Delegado aposentado, Antônio Lopes acrescentou: “Eu não permitiria. Se o camarada oferecesse, eu daria voz de prisão”.

Luciano Bivar também é peça-chave na batalha jurídica entre Flamengo e Sport pelo título do Campeonato Brasileiro de 1987. Recentemente, o STF determinou o Leão da Ilha único campeão da Copa União, como o campeonato foi chamado à época. Entretanto, um documento assinado por 16 clubes, entre eles o Sport, com firma de Luciano Bivar, teria recomendado apedido à CBF para considerar dois campeões e dois vice-campeões. “Prevaleceu, afinal, a decisão de levar ao presidente da CBF o desejo, refletido em ofício, da vontade da unanimidade do Clube dos 13 de ver declarado pela confederação a condição de dois campeões e dois vice-campeões naquele Campeonato Brasileiro de 1987”, dizia a ata do extinto Clube dos 13.

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Marcos Paulo Lima

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