Ele passou por um dos maiores constrangimentos da carreira, em 9 de agosto de 2018. Minutos depois de eliminar o Vasco da Copa Sul-Americana, Pablo Eduardo Repetto Aquino dirigiu-se até a sala de conferências de São Januário para cumprir o protocolo da Conmebol: a entrevista pós-jogo. Porém, não houve perguntas. Ignorado, saiu sem graça.
Estava ali uma excelente oportunidade de conhecer a história de um dos amigos da família do craque uruguaio Enzo Francescoli. Técnico da Liga Deportiva Universitaria, popular LDU, adversária do Flamengo, nesta terça, às 21h30, no Estádio Casablanca, na altitude Quito (2.850m), pela terceira rodada da fase de grupos da Libertadores, Pablo Repetto queria ser como El Príncipe. Começou, inclusive, a jogar bola no mesmo clube de Enzo — a categoria juvenil do Montevideo Wanderers. Ia aos treinos de bicicleta com uma ideia fixa na cabeça: imitar Francescoli.
Pablo Repetto realizou o sonho do pai. Defendeu o Fênix, time do coração do coroa, mas depois de perambular pela sétima, sexta, quinta e quarta divisões, abandonaria o futebol cedo por causa de uma grave contusão. Versátil, atuava como volante e lateral. Durante uma vitória do Fênix por 3 x 0 contra o Salus, pela segunda divisão do Campeonato Uruguaio, cobrou um arremesso manual. Na sequência do lance, o ala entrou numa dividida e levou a pior. Fraturou a tíbia e o perônio. Ciente de que não alcançaria o status do ídolo Francescoli, passou por cirurgia, fisioterapia e decidiu pendurar as chuteiras. O ciclo como jogador estava fechado.
Começava a imersão de Pablo Repetto em outras duas profissões. Virou universitário e começou a estudar economia. Entretanto, a diretoria do Fênix não queria perdê-lo. Ofereceu ao ex-jogador o cargo de comandante da categoria sub-17. Repetto topou. Iniciava na nova carreira aos 26 anos. Evoluiu e começou a protagonizar milagres. O primeiro deles foi alçar o Fênix à primeira divisão do Campeonato Uruguaio na temporada 2006/2007.
O sucesso fez Repetto dar as costas para a economia. O resultado como treinador chegou rapidamente. Chamou a atenção de novos mercados internos e externos. Aceitou proposta do Cerro, do Uruguai. Em seguida, foi parar no Blooming, da Bolívia. Seis vitórias, sete empates e seis derrotas depois, estava demitido.
Recontratado pelo Cerro, Repetto entrou para a história do clube na edição de 2010 da Copa Libertadores da América. Em 11 de março daquele ano, levou o modesto time uruguaio à vitória por 2 x 1 sobre o Emelec, no Equador. O técnico do adversário era o argentino Jorge Sampaoli. O triunfo não classificou o Cerro para as oitavas, mas lavou a alma do jovem profissional e escancarou de vez as portas do mercado de trabalho.
Repetto passou pelo tradicional Defensor em 2010, quando conquistou o Torneio Apertura, e permaneceu até 2011. Quase fechou com o Banfield, da Argentina, e assinou contrato, em 2012, com o Independiente del Valle, do Equador. Desembarcou no lugar certo na hora certa. O trabalho de quatro anos deu frutos na Libertadores 2016.
Com uma campanha sensacional, o Independiente del Valle terminou a fase de grupos em segundo lugar, atrás do Atlético-MG. Na fase de mata-mata, desbancou o então campeão River Plate nas oitavas de final, o Pumas do México nas quartas e o Boca Juniors nas semifinais, com direito a triunfo no lendário La Bombonera. Só faltou passar pelo Atlético Nacional na decisão do título. A trupe de Reinaldo Rueda, ex-Flamengo, faturou a Libertadores.
O vice no torneio continental atraiu convites irrecusáveis e decisões erradas. A passagem pelo Banyas, dos Emirados Árabes Unidos, terminou com demissão. A oportunidade de treinar o Olimpia terminou por causa do Botafogo. O Glorioso, liderado por Jair Ventura, desbancou o tradicional time paraguaio nos pênaltis na fase eliminatória da Libertadores 2017.
Pablo Repetto assumiu a LDU em 4 de julho de 2017 com a missão de devolver o respeito ao clube campeão da Libertadores 2008 e da Sul-Americana 2009. Lá se vão quatro temporadas no clube e três títulos no currículo: o Campeonato Equatoriano em 2018, a Copa do Equador na temporada 2018/2019 e a Supercopa do Equador 2020. Portanto, o Flamengo que se cuide. Em 2019, o time rubro-negro perdeu de virada para a LDU sob o comando de Abel Braga, por 2 x 1. Ao nível do mar, o Flamengo ganhou por 3 x 1.
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