Uma nota na página 11 da edição de 24 de junho de 1988 da revista Placar, com foto histórica de Nilton Claudino, contava o drama do menino Jair Zaksauskas Ribeiro Ventura antes de um jogo no Maracaña ilustrada por . “O garoto Jair Ventura Ribeiro, 9 anos, estreou como gandula de olho na realização de um velho sonho: ser fotografado ao lado dos ídolos Bebeto e Leandro, do Flamengo. Nada demais, não fosse ele o filho de Jairzinho, o Furacão da Copa de 1970. Por causa da confusão de repórteres antes do jogo, Jair só conseguiu posar junto com Renato Gaúcho”, diz o texto.
Quase 30 anos depois, Jair Ventura transformou o Botafogo em um time de “gandulas”. Não tem bola perdida. É preciso ir atrás dela onde for. É preciso ir atrás da vitória, dos três pontos, da vitória, até o fim. Prova disso é o segundo gol de Rodrigo Pimpão na vitória desta quinta-feira no Nilton Santos sobre o Nacional, do Uruguai.
Com espírito de gandula, Jair Ventura pode protagonizar contra Renato Gaúcho as duas decisões do ano no futebol brasileiro. Uma é certa. Com a vitória por 3 x 0 no placar agregado sobre o Nacional, do Uruguai, o Botafogo enfrentará o Grêmio nas quartas de final da Copa Libertadores da América.
Mas o destino pode reservar aos dois um outro mata-mata valendo título, taça, volta olímpica. Se o alvinegro desbancar o Flamengo, e o tricolor gaúcho superar o Cruzeiro, Jair Ventura e Renato Gaúcho podem decidir o título da Copa do Brasil.
Jair Ventura, Renato Gaúcho e Fabio Carille são, até agora, os técnicos do ano no futebol brasileiro. Impressionante o trabalho do técnico do Botafogo. Na Libertadores, seu time é o exterminador de campeões. Deixou para trás Colo-Colo-CHI, Olimpia-PAR, Estudiantes-ARG, Atlético Nacional-COL e Nacional-URU. Na Copa do Brasil, eliminou outros dois campeões do mata-mata nacional — Sport e Atlético-MG. Nas quartas, encara o tricampeão Flamengo.
Aos 38 anos, em seu primeiro trabalho como técnico profissional, Jair Ventura mostra competência para gerenciar crises. Perdeu Montillo. Ficou sem Camilo. Perdeu a paciência com Sassá. Como se não bastassem as deserções, Jair Ventura administra egos. Gatito e Jefferson são dois goleiraços. Um é titular da seleção do Paraguai. O outro era número 1 da Seleção Brasileira até pouco tempo. Não é fácil, amigos, não é fácil…
Enquanto os eliminados Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG conta com elencos luxuosos, Jair Ventura administra a escassez do Botafogo. Remonta durante a competição, com pouco tempo para treinar, um meio de campo que era programado para funcionar com Montillo e Camilo no papel de maestros. O argentino se aposentou. Camilo foi para o Internacional.
É cedo para cravar que Jair Ventura já é um dos grandes técnicos do futebol brasileiro. A história do futebol é repleta de treinadores que funcionaram muito bem em um clube e depois disso desapareceram. Frank Rijkaard, por exemplo, só fez sucesso como treinador no Barcelona. Roger Machado foi brilhante no Grêmio, mas teve dificuldades no Atlético-MG.
Independentemente do futuro, Jair Ventura merece demais curtir o presente. Com experiência de quem foi gandula, transformou o Botafogo em um time de gandulas. Não tem bola perdida para o batalhão de “gandulas” comandados por Jair Ventura. Rodrigo Pimpão, por exemplo, alcançou Jairzinho e Dirceu e virou um dos maiores artilheiros do clube na história da Libertadores.
A campanha heroica nesta temporada é digna até de uma adaptação no hino do clube. Talvez ficaria bom assim: (…) não podes perder, perder pra ninguém que seja campeão da Libertadores (…). Parabéns, Jair Ventura! Parabéns, Botafogo de Futebol e Regatas!