Brasileiro zoou pacas o tal do padrão Fifa na Copa 2014. Numa boa, o torcedor deveria sentir um pouquinho de saudade daquela organização. Houve problemas, excesso de rigor, claro, mas pelo menos o consumidor de futebol era minimamente respeitado. Bem diferente do que continuamos testemunhando em Brasília. Falo do clássico entre Vasco e Fluminense no Mané Garrincha.
Horas antes da partida havia torcedor perambulando perdido do lado de fora. Famílias com criança no colo perguntavam onde comprar ingresso. A sinalização era praticamente zero. Um tricolor chegou a perguntar se havia voluntários para ajudar. Recaída da Copa. Em dia de jogo no Mané, a bilheteria é sempre improvisada em um contêiner ou em veículos no estacionamento. Detalhe: debaixo do sol, frio, chuva… Depende da estação do ano. O pai de família não tem sequer o prazer de comprar o bilhete em um guichê decente, bonitinho, que lhe dê autoestima. Deveria ser como ir ao cinema ou ao teatro. Que nada… O estádio mais caro da Copa 2014 é incapaz de oferecer uma bilheteria decente, organizada, de estender tapete vermelho para quem deseja pagar (caro) para alimentar o elefante branco. Manual de bom atendimento? O que é isso???
Antes de adquirir o ingresso, quem vai de carro paga caríssimo para estacionar em vaga pública. Impossível não ser abordado por flanelinhas que se apoderam do espaço. Alguns policiais — não vou generalizar — fazem vista grossa. Não repreendem o abuso. Os “cuidadores” de carro exigem pagamento antecipado. Intimidados, os motoristas sacam cinco, dez, quinze, até 20 reais da carteira a fim de evitar problemas na saída. Quando retornam, os “vigias” geralmente se mandaram. Afinal de contas, receberam antecipadamente para ir embora… antecipadamente.
Alguns torcedores famintos procuravam um cantinho para comprar bebida e comida no intervalo da partida. Muitos deram com a cara na porta de bares e/ou lanchonetes fechados. Foi assim, por exemplo, na arquibancada coberta. Setor do ingresso mais barato e menos cheio.
Por falar no bilhete, é inadmissível a cobrança de R$ 60 (ingresso mais barato) para um jogo de “pré-temporada” válido pela quinta rodada da primeira fase da Taça Guanabara — o primeiro turno do Campeonato Carioca. O tíquete mais em conta para Flamengo x Cabofriense neste domingo, no Maracanã, custou R$ 15 (meia). Resultado: mais de 40 mil ingressos comercializados.
Enquanto isso, no Mané Garrincha, paga-se caro para sentar em cadeiras sujas, sem limpeza, e o mínimo respeito a quem ocupará o assento vermelho. Dei uma conferida em várias cadeiras. Fiquei assustado. O sujeito que passe a mão, leve de casa um pedacinho de papel ou de pano para tirar a poeira. Ah, sem contar que é impossível conversar com o vizinho ao lado, fazer aquela resenha no intervalo. O locutor do estádio e a playlist da arena são nocivos ao ouvido. Simplesmente não dá para competir com os decibéis da poluição sonora.
Mas e o jogo? O torcedor deveria ter direito a reembolso. O gramado é um vergonha. Até aí nenhuma novidade. Você leu em janeiro no blog que o Governo do Distrito Federal deve mais de meio milhão às firmas responsáveis pela manutenção dos gramados do Bezerrão e do Mané Garrincha. Logo, isso ameaçava a realização da partida em Brasília. Mesmo assim, aconteceu na marra. E Brasília amargou mais uma vergonha nacional.
Os times do Vasco e do Fluminense não valem sessentão (R$ 60). São ruins. Mereciam uma promoção. Com um pouco de boa vontade, sensibilidade, teriam disponibilizado bilhetes populares a R$ 20, R$ 30, por exemplo. Seria justo para um começo de ano. Só que não.
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