A era Paulo Sousa terminou nesta quinta-feira de maneira melancólica. Contratado no fim do ano passado, o treinador deixa o cargo depois de 32 jogos com 19 vitórias, 7 empates, 6 derrotas e aproveitamento de 66,7%. Sob o comando dele, o Flamengo fez 59 gols (1.90) por partida e sofreu 29 (0,91). Amargou vice na Taça Guanabara, Campeonato Carioca e na Supercopa.
Deixa o emprego com o Flamengo na 14ª posição, o pior desempenho dele em ligas nacionais de ponta. Na passagem pela Itália, Paulo Sousa acumulou quinto e oitavo lugar à frente da Fiorentina. Comandou o Bordeaux na Ligue 1 e registrou 13º e 12º lugar. Um dos três técnicos do Queens Park Rangers na Premier League durante a temporada 2008/2009, participou da campanha do 11º lugar. Os outros dois comandantes foram Iain Dowie e James Magilton.
Paulo Sousa é mal treinador? Não acho. O desempenho na Fiorentina em um campeonato difícil como o Italiano não deixa mentir. A classificação da Polônia para a Copa do Mundo do Qatar também não. A vaga para o torneio ficou encaminhada na repescagem. Sob o comando dele, o Flamengo fez boas partidas. A etapa inicial do primeiro clássico do ano contra o Fluminense, o empate com o Atlético-MG na Supercopa, o empate por 0 x 0 com o Palmeiras pelo Brasileirão, o primeiro tempo do clássico contra o Botafogo, em Brasília, e a vitória por 3 x 0 contra a Universidad Católica.
Do ponto de vista do técnico, o trabalho não evoluiu por causa de fatores internos ligados à estrutura do clube, óbvio, mas a seguir o blog aponta 10 erros e um acerto de Paulo Sousa nos cinco meses de uma conturbada passagem pelo Ninho do Urubu. Uma verdade deve ser dita Poucas vezes se viu no Flamengo um técnico tão educado e equilibrado para suportar a impressionante pressão pela qual passou. Ele e Domènec Torrent.
Quando Paulo Sousa foi contratado, publiquei aqui no blog entrevista com Giacomo Cialdi, um colega jornnalista italiano que escreveu livro sobre as duas temporadas do técnico português na Fiorentina. Ele definiu assim o lusitano: “Ele não deixa ninguém colocar os pés na cabeça dele”. Em outra apuração, um amigo português alertou para dois aspectos do profissional escolhido à época por Marcos Braz e Bruno Spindel. “Não acho um grande treinador. E é muito conflituoso”, pontuou.
Por falar em atrito, o primeiro deles foi justamente com um dos líderes do time. Paulo Sousa desembarcou no Rio disposto a não ter política de boa vizinhança com um dos líderes do grupo. A tensão aumentou com as falhas do ídolo rubro-negro no Carioca e atingiu o ápice na entrevista depois do jogo contra a Universidad Católica e na surpreendente decisão de tirar Diego Alves da reserva na derrota para o Fortaleza depois de ele aquecer no gramado.
Em 5 de maio, mostrei em post publicado no blog a dificuldade histórica de Paulo Sousa para organizar o sistema defensivo dos clubes e seleção por onde passou. À época, ele ostentava o terceiro melhor desempenho no clube carioca, mas passava longe de convencer. Àquela altura, o time tinha média de gols sofridos maior do que a de concorrentes como Atlético-MG e Palmeiras. A polêmica começava no gol. O clube contratou Santos e ele preferia Hugo Souza.
Paulo Sousa tinha todo direito de fazer experiências, mas tudo tem limite e ele não respeitou alguns. Mostrei isso no post A polonização do Flamengo, quando Isla atuou no papel de zagueiro. Abusou de deslocar Éverton Ribeiro para o papel de ala-esquerdo. Abusou da sorte ao escalar Rodinei como ala-direito. Cansou de abrir Marinho na ponta-esquerda e desperdiçou o potencial do principal reforço do clube na ponta-direita, onde foi eleito Rei da América na Libertadores de 2020. Insistiu em posicionar Andreas Pereira de “10” para emular Arrascaeta.
Casou uma revolução tecnológica danado na chegada ao Flamengo. Pediu para a diretoria instalar telão em um dos gramados do Ninho do Urubu a fim de mostrar em tempo real os planos de jogo, posicionamento e os erros do time antes no processo de evolução da equipe. Antes de chegar, pediu livros para conhecer a história do clube mais popular do país. Fez propaganda enganosa ao prometer evolução a cada partida e minou a própria credibilidade com exibições ruins.
Agiu muito mal politicamente ao ensaiar discurso com Bruno Spindel e Marcos Braz na entrevista coletiva depois da vitória contra o Goiás para explicar que houve mal entendido na crise criada por ele depois da vitória contra a Universidad Católica envolvendo Diego Alves. Em uma cena constrangedora na sala de conferência, fez até piadinhas com os dois dirigentes na tentativa de simular a resolução do imbróglio e manter-se intacto no cargo.
Na tentativa de abafar o mau desempenho do time e ficar bem com a torcida, Paulo Sousa forçou clichês. Em uma entrevista, chegou a dizer: “Nossa torcida é soberana, eles têm todo direito de estarem ou não contentes”. Usou frase de efeito na conta pessoal no Instagram para dizer que “tudo em equipe é melhor”, afirmar que “não há desculpas que justifiquem uma tarde ruim” e que “não importa, o Flamengo tem de vencer, vencer, vencer”, escreveu.
Abusou de tirar o maior artilheiro do Flamengo no século de dentro da área. Posicionou o camisa 9 aberto na direita, testou o jogador no papel de camisa 10, circulando recuado, atrás de Pedro, e fez com que a arma mais letal do time passasse cinco partidas consecutivas sem balançar a rede. Gabigol errou muitas finalizações, mas também foi prejudicado pelas ideias nem sempre corretas do comandante português.
Paulo Sousa desembarcou no Flamengo convicto de que o melhor sistema tático para o time seria o 3-5-2 e suas variáveis. Mostrei em um post que a preferência pelo esquema tem a ver com a final da Champions League de 1996, quando ele era meia da Juventus. O lusitano insistiu o tempo inteiro com a linha de três tendo Filipe Luís como um dos três zagueiros e improvisos nas alas, mas vacilou ao não preparar paralelamente um modelo alternativo. Ele só flexibilizou abriu mão do que desejava quando começou a ficar com a corda no pescoço e passou a adotar linha de quatro nas últimas partidas como técnico rubro-negro.
A pá de cal da passagem de Paulo Sousa pelo Flamengo foi a entrevista desastrosa depois da derrota para o Fortaleza. Em vez de assumir a parcela de culpa no péssimo resultado diante de 63 mil pagantes no Maracanã, o técnico responsabilizou os jogadores, as decisões individuais erradas do time e uma atuação sem precedentes, com excesso de precipitações, pelo triunfo do Fortaleza na pior exibição do Flamengo sob o comando do técnico lusitano.
O legado de Paulo Sousa é a paciência para lidar com jovens jogadores revelados pela base do Flamengo. Apostou incondicionalmente em Hugo Souza. O goleiro se sentirá órfão do treinador. Elevou por um bom tempo o nível do futebol do atacante Lázaro. Consolidou João Gomes como peça-chave no meio de campo. Lançou nomes como o atacante Matheus França e o lateral-esquerdo Marcos Paulo. Deu moral a Matheuzinho na disputa com Isla e Rodinei.
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