O Corinthians está nas semifinais do Campeonato Paulista com o equilíbrio do estilo Tiago Nunes e um futebol aquém do apresentado pelo melhor trabalho autoral dele — o Athletico-PR das conquistas da Copa Sul-Americana (2018) e da Copa do Brasil (2019). Não lembrou os times da era Carille ou aquele do Tite em 2015, mas foi seguro e eficiente na vitória sobre o Red Bull Bragantino. Jesualdo Ferreira não cumpriu a promessa e pode pagar caro por isso. No último dia 22, disse que está no Brasil para ganhar o Paulistão. Deu adeus ao torneio ao perder da Ponte Preta, na Vila Belmiro, por 3 x 1. Parte da culpa vai para a conta do atacante Marinho. Poderia ter saído como herói ao abrir o placar. Virou vilão ao receber cartão vermelho. Deixou o time com 10 e facilitou a virada da Macaca.
O Corinthians parte para a semifinal contra o Mirassol, em Itaquera, sem ter sofrido gol na retomada do futebol em meio à pandemia do novo coronavírus. Venceu o arquirrival Palmeiras por 1 x 0, o Oeste por 2 x 0 e repetiu o placar nesta noite, no Morumbi.
Decisivo, Ederson fez lembrar o velho Corinthians. Aquele do tempo em que os volantes assumiam papel decisivo no ataque. Era assim com Elias e Paulinho, por exemplo. Ederson agiu com a modernidade exigida dos jogadores da posição dele. Mais do que roubar a bola de Vitinho, teve ousadia para ir à frente abrir o placar com uma ajudinha do goleiro.
Mas o nome da noite é Jô. Aos 33 anos, o centroavante atuou no sacrifício. Fora de forma. Quem sabe fazer gol não desaprende. Amargava jejum de nove jogos sem balançar a rede. O último havia sido em 8 de setembro do ano passado, no empate por 2 x 2 do Nagoya Grampus contra o Kawasaki Frrontale pela Copa da Liga do Japão.
Acho o Red Bull Bragantino bem montado. Vai dar trabalho no Brasileirão. É competitivo. Na vitória sobre o São Paulo, comentei com um amigo que não confio no goleiro Júlio César. Bingo. Ele falhou no gol de Ederson. Cria do Corinthians, Júlio César sabe o peso de falhar com e contra uma camisa tão pesada. Foi bicampeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, bi brasileiro, campeão da Copa do Brasil, da Libertadores e do Mundial do outro lado da força. A falha dele implodiu o plano de jogo do promissor técnico Felipe Conceição.
O Corinthians enverga, mas não quebra. Era para ter sido eliminado contra o Palmeiras e venceu. Era para ter sido eliminado na vitória sobre o Oeste, mas ganhou uma forcinha do Palmeiras e avançou quartas. O favoritismo estava com o Red Bull e chega às semifinais.
O atual tricampeão está, sim, na briga pelo inédito tetra. Tiago Nunes mostrou que pode fazer bom omelete sem uma dúzia de ovos. Cássio, Fágner, Gil e Jô podem ser suficientes. Podem levar o Corinthians a igualar os quatro títulos consecutivos do Paulistanonas edições de 1916, 1917, 1918 e 1919. É preciso passar pelo Mirassol e por Palmeiras ou Ponte Preta.
Por falar na Macaca, a Ponte Preta soube explorar o combo de problemas do anfitirão Santos: salários atrasados, jogadores insatisfeitos, ações judiciais e um time que sofre com a mudança brusca de estilos após a saída de Jorge Sampaoli e a chegada de Jesualdo Ferreira, ou seja, profissionais com propostas totalmente diferentes. O adeus ao Paulistão não é absurda. A promessa de Jesualdo Ferreira, sim. Só ele via potencial no elenco para ganhar o Estadual. Iludiou os mais fanáticos santistas e a si. A realidade é o risco de demissão.
A Ponte Preta não é zebra nas semifinais. Chega a esta fase pela quinta vez no século. Alcançou a final em 2008 e em 2017 e deu adeus ao torneio em 2001 e em 2012. O Palmeiras é favorito, óbvio, mas o Mirassol, carrasco do São Paulo, está nas semifinais para provar que nem sempre é possível vencer com o peso da camisa. Muito menos de véspera.
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