De Ronaldo a Lewandowski: centroavantes quebram jejum de 18 anos no prêmio da Fifa

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Centroavantes raiz como Lewandowski não ganhavam o prêmio desde Ronaldo Fenômeno, em 2002

 

A eleição de Robert Lewandowki melhor do mundo em 2020 é simbólica. Considerados fora de moda nos debates sobre a preferência pelo falso 9 na era dourada do Barcelona, de Pep Guardiola; e da da Espanha, de Luis Aragonés e Vicente del Bosque; os centroavantes ressuscitaram oficialmente na cerimônia desta quinta-feira do Fifa The Best, na Suíça. O polonês recoloca camisas 9 raiz, como ele, no trono que a classe não ocupava havia 18 anos.

Talvez, você não lembre. O último centroavante eleito número 1 do mundo foi o brasileiro Ronaldo. O Fenômeno arrematou os prêmios da Fifa e da revista France Football em 2002. Naquele ano, havia levado o Brasil ao pentacampeonato na Copa realizada no Japão e na Coreia do Sul. Marcou oito gols. Dois deles na final contra a Alemanha. Chegou ao Mundial como jogador da Internazionale. Conquistou a estatueta vestindo a camisa do Real Madrid.

Daquele ano em diante, o prêmio de melhor do mundo deu as costas aos centroavantes, os camisas 9 de origem em uma linguagem popular. Zagueiro, meias e atacantes de lado do campo, mais pontas do que homens de área, revezaram-se no poder.

Deu Zidane em 2003. Ronaldinho Gaúcho em 2004 e 2005. Cannavaro surpreendeu em 2006. Kaká assumiu o trono em 2007. Cristiano Ronaldo e Messi reinaram por 10 anos consecutivos de 2008 a 2017 e colocaram em xeque a necessidade de um time ter centroavante. Ambos são jogadores de lado, mas sabem perfeitamente atuar dentro da área no papel de falso 9. O meia Modric quebrou a dinastia em 2018, Messi recuperou o cetro em 2019 e, finalmente, um centroavante ostenta o posto de número 1 do planeta bola. Robert Lewandowski é a nova referência do esporte mais popular do mundo.

 

“Quando eu era um jovem jogador, lembro de ver Ronaldo e Romário jogando e eles foram grandes influências, grandes ídolos para mim. O Brasil sempre teve jogadores incríveis, e eles mostravam um futebol mágico. E eu, algumas vezes, jogava com a camisa 11 por causa do Romário, que eu vi inúmeras vezes em campo”

Lewandowski, em entrevista ao site da Fifa

 

Lewandowski é moderno. Longe de ser aquele centroavante paradão dentro da área. Não é um cone, como a torcida brasileira batizou Fred na Copa de 2014 oa manifestar a revolta com as atuações do centroavante da Seleção no Mundial disputado aqui. O polonês sabe sair da área. É jogador de movimentação. Busca tabelas. Arranca com a bola dominada quando isso é possível. Quando necessário, põe a bola embaixo do braço e decide partidas.

Não é por acaso que as inspirações dele são dois reis da área. “Quando eu era um jovem jogador, lembro de ver Ronaldo e Romário jogando e eles foram grandes influências, grandes ídolos para mim. O Brasil sempre teve jogadores incríveis, e eles mostravam um futebol mágico. E eu, algumas vezes, jogava com a camisa 11 por causa do Romário, que eu vi inúmeras vezes em campo”, disse em entrevista ao evento organizado pela Fifa.

O craque do ano fez 55 gols em 47 jogos. Deu 10 assistências. Teve participação direta em 65 gols do Bayern de Munique na temporada. Registrou média de 1,38 por partida. Ajudou o clube a arrematar Uefa Champions League, Bundesliga, Copa da Alemanha, Supercopa da Alemanha, e Supercopa da Europa. Resumindo: teve ano de Messi e/ou Cristiano Ronaldo numa temporada em que o argentino e o português foram jogadores comuns.

Curiosamente, Messi e Cristiano Ronaldo voltam a ser superados por um craque do Leste Europeu. O croata Modric quebrou a dinastia dos dois em 2018. Para mim, o português deveria ter sido eleito naquele ano. Nesta temporada, Lewandowski coloca a Polônia de Boniek — maior craque da história do país — em evidência. A nação arrasada na Segunda Guerra Mundial é também a terra do papa João Paulo II. Lewandowski é o personagem mais badalado do país desde que Karol Józef Wojtyła morreu, em 2005.

A religião chamada futebol tem um novo “papa” desde ontem, quando a fumaça branca saiu da chaminé da sede da Fifa, em Zurique. A nova referência dos fiéis ao esporte mais popular do mundo segue, agora, a liturgia de Robert Lewandowski. A doutrina dele é marcar gols. A ordem dos centroavantes do futebol mundial agradece pela ressurreição da camisa 9.

 

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