Três mulheres apitaram jogos oficiais no novo Mané Garrincha, mas Edina Alves Batista é um caso a parte. Ela é a primeira brasileira a ser dona do apito na principal arena do Distrito Federal neste sábado, às 17h, no duelo entre Flamengo e Avaí pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro. “Só fui a Brasília como assistente”, lembrou a paranaense de Goioerê na entrevista por telefone ao blog em maio deste ano, antes de partir rumo à França para a Copa do Mundo Feminina. Dessa vez, Edina comandará os assistentes Emerson Augusto de Carvalho, Neuza Ines Back e o responsável pelo VAR, José Claudio Rocha Filho.
Antes de Edina, cinco árbitras mediaram partidas oficiais no Mané Garrincha. Todas no torneio feminino dos Jogos Olímpicos do Rio-2016: Olga Miranda (Paraguai), Ri Hyang-ok (Coreia do Norte), Anna-Marie Keighley (Nova Zelândia). O duelo entre Avaí e Flamengo é o quarto dela nesta Série A. Esteve em campo na vitória do CSA sobre o Goiás por 1 x 0; no empate entre Atlético-MG e Fortaleza por 2 x 2; e no 0 x 0 entre Botafogo e Chapecoense. Trabalhou em três jogos da Série B e brilhou em quatro duelos da Copa do Mundo Feminina, a principal delas, a semifinal entre Inglaterra e Estados Unidos, no Groupama Stadium, em Lyon.
Formada em educação física, Edina jogou basquete e futsal antes de decidir ser árbitra. Em 1999, recebeu convite do pai de uma amiga para ser assistente em um jogo da categoria júnior. “Gostei muito e escolhi seguir a carreira”, contou ao blog.
“Quero mostrar serviço, ir bem nos jogos. Estão querendo dar oportunidade (para as mulheres) e temos que agarrar essas chances”
Edina Alves Batista, em maio durante entrevista ao blog
Simples, Edina Alves chama as pessoas com quem conversa de “garotinho”. Foi assim na conversa de maio com este blogueiro. Simpática, se inspirou em um polêmico conterrâneo antes de entrar na profissão. “Héber Roberto Lopes”, citou. Outra referência é o mineiro Sandro Meira Ricci, que foi filiado à Federação de Futebol do Distrito Federal. A lista de gratidão de Edina tem ainda Wilson Seneme, Manoel Serapião Filho, Alício Pena Júnior, o coronel Marinho, Ana Paula de Oliveira e José Roberto Wright.
Em março, Edina participou de um treinamento específico intensivo sobre a utilização do VAR em Doha, no Catar. Ficou maravilhada com a estrutura oferecida nos preparativos para a Copa do Mundo Feminina da França. “É uma ferramenta que veio para ajudar. Precisamos aprender a usar isso e a Fifa não está medindo esforços”, relatou.
Opinião
Ela tem correspondido cada vez mais. Quando ela começou na arbitragem no estado dela, era assistente, não era árbitra. Ela sentiu vontade de ser árbitra e era desaconselhada pelos dirigentes de arbitragem de lá. Apitava nos amadores, mas pela federação só bandeirava. Ela passa muita segurança e tranquilidade dentro do campo. Alguns jogadores, pelo fato de ela ser mulher, tentam tirar vantagem sobre ela e quebram a cara. Sem estardalhaço ou gestos teatrais, agressividade, ela sempre tem o jogo na mão na parte técnica e disciplinar. Tem leitura do jogo, inteligência para apitar, segurança na parte disciplinar, boa na parte técnica. Não é pelo fato de ser mulher que não tem competência. Mas, às vezes, ainda existe machismo, acham que o futebol é um esporte masculino.
Edson Resende, corregedor de Arbitragem da CBF
Antes de embarcar para a França, Edina só havia apitado jogos da Série B, mas vislumbrava a ascensão. “Quero mostrar serviço, ir bem nos jogos. Estão querendo dar oportunidade (para as mulheres) e temos que agarrar essas chances”. Na época, ela revelou a rotina diária: curso de inglês, duas horas e meia de treinamento físico, incluindo musculação e prevenção de lesão; e muito futebol. “Tenho que estar ligada. Quando não estou no estádio vejo pela tevê”.
Eleita a nona melhor árbitra do mundo em 2018, Edina foi a melhor das Américas no ranking da Federação de História e Estatística do Futebol — IFFHS na sigla em inglês. A referência dela no futebol feminino é… “Bibiana Steihaus. Tem história, tem que respeitar”, elogiou.
A árbitra de Avaí x Flamengo iniciou a carreira como bandeirinha. Natural da pequena Goioerê (564 km²) e 29 mil habitantes, jamais conseguiu apitar uma partida do Campeonato Paranaense. Arrumou as malas e embarcou rumo a São Paulo. Neste ano, quebrou tabu de 14 anos ao se tornar a primeira mulher a mediar uma partida da Série A do Campeonato Brasileiro desde Silvia Regina de Oliveira em 2005, no duelo entre Paysandu e Fortaleza.
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