Das telas do cinema para a Copa Africana de Nações: Njiva Rakotoharimalala e o milagre de Madagascar

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A DreamWorks e muito menos aqueles pinguins malas do filme de animação (assista ao trailer abaixo) conseguiriam prever um final tão feliz quanto o da República de Madagascar nas Eliminatórias para a Copa Africana de Nações-2019. Posicionada em 106º lugar no ranking da Fifa, a ilha de 587 041 km² e 25 milhões de habitantes está classificada de forma inédita para uma competição de ponta — o principal torneio de seleções do continente, ou seja, a Eurocopa a Copa América da região. Detalhe: a seleção é a primeira a se classificar na bola. Só o anfitrião Camarões estava garantido. Na sequência, Tunísia, Egito e Senegal também carimbaram o passaporte. O sucesso de Madagascar na África lembra feitos recentes da Islândia no Velho Mundo. O país viking surpreendeu ao disputar a Euro-2016 (quartas de final) e a Copa da Rússia (fase de grupos).

O milagre de Madagascar acontece um ano antes da visita do papa Francisco ao país. O cardeal de Madagascar, Desiré Tsarahazana, anunciou que o bispo de Roma passará pela quarta maior ilha do mundo no ano que vem.

A saga de Madagascar começou em um mata-mata contra São Tomé e Príncipe. Na partida de ida, vitória por 1 x 0. Na volta, triunfo por 3 x 2. No placar agregado, 3 x 2. Madagascar teve acesso ao Grupo A das eliminatórias contra Senegal, presente na Copa da Rússia, Guiné Equatorial e Sudão. Os quatro países disputariam duas das 24 vagas para o torneio do ano que vem, de 15 de junho a 13 de julho, em Camarões. Uma já é do líder isolado Madagascar. A duas rodadas do fim, os bareas estão invictos — três vitórias e um empate.

Na estreia, Madagascar derrotou o Sudão por 3 x 1. No duelo mais difícil, arrancou empate por  2 x 2 com Senegal, um dos representantes da África na última Copa do Mundo. Fora de casa, derrotou Guiné Equatorial por 1 x 0. Na última terça-feira, o milagre: um novo triunfo por 1 x 0 sobre o mesmo adversário carimbou o passaporte da quarta maior ilha do mundo para a Copa Africana de Nações. Inédito na história da nação do Oceano Índico.

Madagascar disputou a primeira partida como seleção em 1947. Tentou a classificação para o principal torneio do continente 20 vezes até se tornar o 40º país a disputar a Copa Africana de Nações. O herói nacional, responsável pelo gol da vitória sobre Guiné Equatorial joga no Sukhothai, da primeira divisão da Tailândia. Ele tem um nome trava língua, quase impronunciável: o meia Njiva Rakotoharimalala (assista ao gol). É um dos poucos jogadores profissionais do elenco. O técnico é o ex-zagueiro francês Nicolas Dupuis.

“Há dois anos, niguém apostaria US$ 1 na nossa classificação para a Copa Africana. Nós conseguimos não somente uma vaga, nós formos a a primeira seleção classificada, depois do anfitrião Camarões, e precisamos de apenas quatro jogos para isso”, orgulha-se o capitão Faneva Ima, camisa 9 da seleção, depois da classificação. Aos 34 anos, ele defende o Le Havre, da segunda divisão do Campeonato Francês.

A classificação para a Copa Africana é inédita, mas, acredite, Madagascar tem títulos no currículo. O país foi bicampeão dos Jogos das Ilhas do Oceano Índico em 1990 e em 1993. Na época, obteve a melhor colocação no ranking da Fifa: 74º, em dezembro de 1992.

Nesta década, Madagascar deu os primeiros avisos de que finalmente realizaria o sonho de disputar a Copa Africana de Nações. Em 2015, terminou em terceiro lugar na Cosafa Cup, um torneio de seleções entre países do sul da África. No ano passado, caiu nas semifinais contra Zâmbia. Na decisão do terceiro lugar, perdeu para Lesoto.

A Madagascar Champions League, como é chamada a liga nacional do país, é disputada por 24 times divididos em grupos. A Copa do Brasil de lá é chamada de Copa de Madagascar. A Supercopa de Madagascar é outra competição da região. O CNaPS Sports é o recordista de títulos do país com sete troféus. Seis deles nos últimos seis anos, a contar de 2013.

Madagascar é um dos países mais pobres do mundo. Mais de 80% da população vive abaixo da linha da miséria. Quase metade das crianças menores de 5 anos sofre de desnutrição. O principal produto de lá é a baunilha. Em 2005, o governo anunciou a descoberta de petróleo, possivelmente a salvação econômica do país no futuro, reforçando a mineração, a exploração de pedras preciosas e o turismo.

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Marcos Paulo Lima

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