Uma queixa totalmente fora de hora — ou quem sabe proposital — no julgamento de Gama x Brasiliense expôs publicamente, no início da madrugada desta quarta-feira, no Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal, uma das maiores mazelas do futebol candango: o amadorismo.
Depois de proclamar o resultado da audiência da confusão generalizada no empate por 1 x 1 entre Gama e Brasiliense, no último dia 12, no Bezerrão, pela nona rodada do Campeonato Candango, o presidente da 2ª Comissão Disciplinar do TJD-DF, Chucre Suaid, exaltou o esforço dos juízes auditores e reclamou a quem quisesse ouvir que eles não recebem um centavo para estar ali. Foi além. Resmungou que, antes, a Federação de Futebol do Distrito Federal compensava o esforço dos abnegados juristas ao menos com um jantar.
Enquanto descia apressadamente as escadas do TJD, na 915 Sul, uma fonte contou baixinho ao blog que a prática era comum na gestão de um ex-presidente da FFDF… Relatou inclusive que, em um passado não tão distante, alguns julgamentos terminavam em jantar, mesmo, no restaurante Xique Xique da 107 Sul, famoso na capital do país por servir pratos da culinária nordestina como, por exemplo, a carne de sol.
Em tempos de crise da carne, o julgamento de ontem mostrou que a carne é fraca. Após seis horas de audiência, o julgamento poderia perfeitamente ter acabado em uma cantina italiana, com direito a rodízio de pizza. Depois de um dos julgamentos mais longos da história do futebol candango, o sentimento, a cada voto, era de que pisavam em ovos na tentativa de passar a mão na cabeça dos jogadores e dos clubes protagonistas das imagens tenebrosas que rodaram o mundo. As cenas mais fortes da Batalha do Bezerrão foram exibidas em canais como CNN (Estados Unidos) e a BBC (Inglaterra). Em vez de punir os brigões com castigos mais severos, houve pena. Pena no sentido de compaixão. De respeito excessivo ao peso das camisas de Gama e Brasiliense no futebol de candango. Respeito aos influentes presidentes Weber Magalhães e Luiz Estevão.
Ao recomendar o pagamento da multa de R$ 33 mil ao Gama, e de R$ 11 mil ao Brasiliense, o relator Dr. Vinícius Henrique concedeu desconto de um terço do valor total, ou seja, R$ 100 mil e R$ 33 mil, respectivamente, alegando adequação à realidade financeira do futebol do Distrito Federal. Só faltou dizer: “Pobrezinhos do Gama e do Brasiliense, que não teriam dinheiro em caixa para pagar uma fiança mais alta”…
Saiu barato para o bolso e de graça para os dois clubes no que diz respeito, principalmente, a mando de campo. O Gama pegou cinco jogos de suspensão. Como terá no máximo mais quatro partidas como anfitrião neste Candangão — um na última rodada da primeira fase, e três na etapa de mata-mata, terá de cumprir a quinta partida de gancho no Candangão de 2018. Um dos auditores cobrou mais rigor: jogos no Bezerrão, mas com portões fechados. Porém, foi voto vencido. O alviverde, comandado pelo influente presidente Weber Magalhães, poderá mandar as partidas em qualquer estádio do DF, exceto no Bezerrão, sem perder o direito de vender ingresso. O blog apurou que o Mané Garrincha passa a ser a nova casa do Gama no restante do Candangão. O Brasiliense? O time do não menos influente Luiz Estevão não perdeu nenhum mando de campo.
Considerado responsável pelo início da confusão ao dar uma cotovelada em Dudu Gago, aos 43 minutos do segundo tempo, o centroavante Nunes foi penalizado com seis jogos de suspensão. O relator citou até o post de 14 de março do blog, em que mostrávamos o repertório de confusões de Nunes desde a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2003, contra o Palmeiras, no Pacaembu. Em tese, Nunes só voltará ao Candangão caso o Brasiliense chegue à decisão. Mas, sabe como é, né, nada que uma liminar, um efeito suspensivo não reduza a pena.
Todos os demais protagonistas da briga pegaram três jogos de punição. Como a maior cumpriu um no fim de semana, restam mais dois jogos de gancho para Eduardo, Dudu Gago, Roberto Pitio, Maringá e Paulinho Fernandes, todos do Gama; e outros três para Elcarlos, Fernandes e Gabriel, do Brasiliense. Todos foram enquadrados no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD): Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou a ética desportiva. O auxiliar do Brasiliense, Guto, pegou duas partidas de gancho.
No fim, todos sorriam de orelha a orelha. Só faltou Celso Russomano para dizer “Estando bem para ambas as partes”.
Os advogados dos dois clubes apertaram as mãos. Aprovaram o acordo e dificilmente recorrerão ao pleno.
Repito: em tempos de crise da carne, só faltou pizza com borda na salinha do TJD-DF.
Ah, ia esquecendo… No fim, queriam até reduzir a pena de Nunes de seis para três jogos.
Tarde demais. A Pizzaria estava fechada. O Xique Xique também.
E lá foram eles com fome para casa…