Edson Arantes do Nascimento estreou na Copa do Mundo aos 17 anos. Coisa de gênio. Aliás, gênios. Ricardo Eugênio Boechat também escreveu a primeira matéria da vida dele em um jornal impresso aos 17 anos no extinto Diário de Notícias, do Rio de Janeiro. E foi graças justamente a uma tabelinha com Pelé. A convocaçào para a pauta foi uma espécie de “Copa do Mundo” na vida de Boechat. Assim como o Rei na histórica partida contra a extinta União Soviética, Boechat mostrou que estava querendo jogo. De ser o camisa numa outra seara — o jornalismo. Detalhe: atuando em várias posições.
“A primeira oportunidade que tive foi graças ao Pelé, que estava embarcando para o exterior, para receber uma homenagem qualquer, e, naquela tarde, haviam sequestrado um cônsul suíço. A cidade (Rio) ficou um caos porque a polícia bloqueou tudo, quiseram fazer uma peneira fina em seis milhões de habitantes. Tinha que ir pro Galeão, aeroporto internacional, para pegar o embarque do Pelé, essa era minha missão”, contou em entrevista ao site Memória Globo, em 2000.
Só Deus sabe como Ricardo Boechat voltou com aquela pauta de esportes para a redação, mas o garoto cumpriu a missão de uma forma perigosa e, ao mesmo tempo, divertida. “O motorista foi de alguma maneira por contramão, canteiros, ruas secundárias. O fato é que nós chegamos ao aeroporto e só nós pegamos o embarque do Pelé. Fizemos uma fotolegenda para um texto muito curto acompanhado de registro fotográfico. Acabou sendo meu primeiro texto para o jornal e graças ao motorista consegui fazer uma nota exclusiva. Então, passei a fazer coisas para o Diário de Notícias, concluiu no depoimento.
Eu trabalho em jornal, mas sou apaixonado por rádio. Não consigo dar a partida no carro sem antes sintonizar as minhas preferidas. Uma delas, a BandNews. Quando precisava sair cedinho de casa para resolver alguma coisa — trabalho do fim da tarde para a noite — ouvia o “amigo de todas as manhãs”. Conheci Boechat em 2010, no cafezinho/lanchonete do Estádio Ellis Park, em Johanesburgo, na cobertura da Copa da África do Sul. Aguardávamos a estreia contra a Coreia do Norte.
Estava rolando uma resenha entre jornalistas da enorme equipe da Band sobre a Seleção Brasileira do Dunga e entrei na conversa. O papo era sobre o goleiro Julio Cesar, melhor do mundo na época, e o volante Felipe Melo, ambos jogadores revelados pelo Flamengo — time do coração de Boechat. Acho que ele pressentiu que ambos seriam os personagens daquela campanha na terra de Nelson Mandela.
Foi o dia em que estive mais perto de Boechat. Sentirei saudade dos comentários ácidos do amigo de todas as manhãs, mas principalmente das tabelinhas dele com Milton “Pitonisa” Neves, como ele costumava chamar o colega colunista de futebol da Band. Quantas alfinetadas e trocas de farpas por causa de merchan. Quantas provocações de Milton Neves ao rubro-negro assumido nas vitórias, empates e derrotas.
O apito final trilou de forma cruel. Valeu, Boechat! Com a devida permissão de Lamartine Babo, autor do hino do Flamengo, encerrarei o post fazendo uma adaptação para a última homenagem ao colega de profissão: “Foi o maior prazer vê-lo brilhar”.
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