Um complexo de vira-latas instalou-se no futebol brasileiro, principalmente, depois do 7 x 1. Com algumas exceções, técnicos brasileiros temem a invasão de colegas estrangeiros. Fizeram até campanha contra Reinaldo Rueda no ano passado. Outros tentam europeizar-se, comportar-se, por exemplo, como a maioria dos badalados donos de prancheta da Premier League. Por lá, na maioria das vezes, os técnicos trocam cumprimentos, apertos de mão. Alguns, sinceros. Outros, meramente protocolares após o pau quebrar (no bom e no mau sentido) dentro de campo e à beira dele. No fim das contas, mero jogo de cena diante de câmeras que transmitem a competição para o mundo inteiro.
Sim, estou falando sobre o episódio entre Fábio Carille e Diego Aguirre após a vitória do São Paulo por 1 x 0 sobre o Corinthians neste domingo, no início das semifinais do Campeonato Paulista. Particularmente, considero extremamente educada a postura de Fábio Carille — sobretudo após perder um clássico na casa do arquirrival. Mas o excesso de elegância do técnico do Corinthians custou caro. Ao tentar ser um “lord da Premier League”, ficou no vácuo e fez muito mal ao levar a mágoa, o ressentimento, para a entrevista coletiva. Em tempos modernos, lembrou colega de rede social que fica de biquinho porque não ganhou “Curtir” no facebook ou “Like” no Instagram.
Não que o episódio do Morumbi seja novidade na história do futebol. Isso acontece até lá, no nobre Campeonato Inglês. Você deve lembrar-se do episódio do ano passado envolvendo outros dois personagens. José Mourinho, do Manchester United, recusou-se a cumprimentar Antonio Conte, do Chelsea, após empate por 1 x 1 pela Premier League. Fez o mesmo com Mark Hughes após empate por 2 x 2 com o Stoke City, sob a alegação de que o colega de profissão o havia xingado e empurrado.
Fábio Carille e Diego Aguirre não chegaram a tanto. Entendo, o comandante do Corinthians só quis ser educado, gentil, mas pagou pelo excesso. Não ter entendeu que, no ano passado, deu um salto, subiu um degrau na carreira. Não é mais o auxiliar que assumiu o Corinthians por acaso. É o Carille, atual campeão do Paulistão e do Brasileirão. O reconhecimento foi construído com um belo trabalho. A marra de Aguirre ao ignorá-lo e até dizer que não conhecia o adversário — teria de ser considerada insignificante perto disso. Ao tentar cumprimentar Diego Aguirre, fez o que o coração mandou. Porém, pisou na bola ao levar o caso de falta de educação, de respeito, de profissionalismo — o que quer que seja — para a sala de entrevista coletiva. Esqueceu até que, horas antes, ofendeu Nenê, que havia chutado bola para longe.
O excesso de elegância de Fábio Carille, mais uma vez, deu cartaz para um técnico estrangeiro recém-chegado ao país. Exatamente como o excesso de deselegância de Jair Ventura na chegada de Reinaldo Rueda ao Flamengo. Lembram? Na véspera de uma semifinal de Copa do Brasil, o então técnico do Botafogo reclamou: “Não que eu seja contra os estrangeiros trabalharem aqui, mas estamos perdendo mercado já fora. Daqui a pouco, perdemos o interno. Então, do que adianta se preparar, estudar? Venho fazendo cursos sempre, me preparando. As pessoas têm que primeiro olhar para cá, para depois olhar para fora”.
Jair Ventura continuou… “Eu não vejo de uma maneira legal. Respeito a decisão (do Flamengo), ele é um grande treinador, acho que pode dar certo. Mas estou falando em nome dos treinadores, como jovem e brasileiro. Isso é muito ruim. Hoje, eu não posso trabalhar no exterior porque não tenho licença. E qualquer pessoa pode trabalhar no Brasil. Então, isso não é legal. Estão tirando o espaço dos outros que querem trabalhar também”, desabafou. Depois do discurso, pediu desculpas e até apertou a mão de Rueda e o abraçou antes do empate por 0 x 0 no jogo de ida.
Com todo o respeito a Fábio Carille e a Jair Ventura, encerro dizendo o seguinte: o excesso de elegância de um, e a deselegância do outro, só colocaram os estrangeiros em evidência… Dois episódios simplesmente desnecessários. Não havia a mínima necessidade de se apequenar tanto.