Enderson Moreira está longe de ser mau técnico. Tem currículo à altura do que o Cruzeiro necessita no momento mais difícil em 99 anos de historia do clube. Foi campeão da Série B pelo Goiás em 2012. Levou também o America-MG ao título da segunda divisão. Colocou nome na história do time celeste na conquista da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 2007, comandando, entre outros, o meia Wagner e o atacante Guilherme.
O técnico do Cruzeiro tem bagagem para levar o Cruzeiro ao título, mas o trabalho definitivamente não dá liga. O time não evolui. Inerte, flerta com o drama vivido pelo Fluminense — rebaixado para a Série C em 1998. Não é fácil iniciar o campeonato com -6 pontos. Porém, esqueçamos por um momento o castigo imposto pela Fifa por causa da dívida com o Al Wahda dos Emirados Árabes Unidos referente ao volante Denílson. Hoje, o Cruzeiro teria 11 pontos. Subiria de 16° lugar, colado na zona de rebaixamento, para o 10° lugar, a três pontos do G-4.
O Cruzeiro até largou bem. Zerou rapidamente o prejuízo. Falta regularidade. Comprometimento inegociável com a vitória ou o empate na pior das hipóteses. Com as derrotas jamais. Enderson Moreira precisa se reinventar. Fórmulas do sucesso nem sem sempre são recicláveis. O estilo de jogo vitorioso no Goiás e no America-MG, provavelmente, não combinam com o momento do Cruzeiro. Enderson é adepto do futebol pragmático. A história do Cruzeiro cobra bem mais do que um time fechadinho na defesa, frágil na troca de passes é muito dependente de longos lançamentos — para não dizer chutões — para a frente.
A culpa não é somente de Enderson Moreira. O caos administrativo revelado pelo excelente trabalho jornalístico dos colegas Rodrigo Capelo e Gabriela Moreira tornou o Cruzeiro ambiente instável para qualquer treinador bem intencionado. Um time que conta com o goleiro Fábio, o zagueiro Léo, o volante Henrique e o centroavante Marcelo Moreno não pode ser considerado ruim. Há jovens valores mesclados com os veteranos, porém, inseguros. Reflexo do ambiente interno. Afinal, não há pressão da torcida nas arquibancadas. A camisa está pesando horrores. Os erros individuais também “sabotam” qualquer tentativa de reação. Ariel Cabral e Machado “ajudaram” a minar Enderson Moreira.
Nos bastidores, o presidente Sergio Santos Rodrigues tenta apagar um incêndio atrás do outro. Resiste bravamente às pressões para demitir Enderson Moreira. Dispensar para contratar quem? Eis a pergunta. Lisca Doido é uma boa alternativa, mas comanda o rival América-MG. A torcida aceitaria Givanildo Oliveira, profissional com histórico de grandes reconstruções de times na segunda divisão? Qual técnico medalhão toparia hoje, assumir o Cruzeiro? Marcelo Oliveira? Luiz Felipe Scolari? Ney Franco, que começou no clube, passou 11 anos lá e teve experiência da base ao profissional e foi campeão da Série B pelo Coritiba?
Não são decisões fáceis, mas algo precisa ser feito urgentemente. O caminho mais fácil — e sempre óbvio — é dispensar Enderson Moreira. Blindar o técnico e o elenco em meio ao caos costuma ser a escolha preguiçosa, ou seja, que não dá resposta midiática aos torcedores.
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