Escritor Livro do consagrado escritor brasileiro é um dos prediletos do técnico da Seleção. Foto: Divulgação Livro do consagrado escritor brasileiro é um dos prediletos de Tite

Como Paulo Coelho ajuda Tite na campanha do Brasil pelo nono título da Copa América

Publicado em Esporte

São Paulo — Perguntei a Adenor Leonardo Bachi depois da goleada por 5 x 0 sobre o Peru no último sábado, na Arena Corinthians, qual é o livro de cabeceira que inspira o trabalho dele na caça ao nono título da Copa América. Pilhado depois da alta voltagem do jogo válido pela última rodada do Grupo A, Tite extravasou o estresse acumulado na partida com um sonoro palavrão, riu e respondeu de bate-pronto: “Maktub, do Paulo Coelho, Maktub”, repetiu, deixando a sala de conferência rumo ao vestiário do estádio.

Levando em conta que Tite está pra lá e pra cá, o book de 190 páginas é uma boa opção. Maktub é uma palavra árabe que significa “destino, estava escrito, tinha que acontecer”. Foi o nome de uma coluna diária assinada por Paulo Coelho na Folha de S. Paulo.  Uma coletânea de textos curtos publicados de 10 de junho de 1993 a 11 de junho de 1994. Leitura rápida, inspiradora, encorajadora para quem lidera um elenco de 23 jogadores. “Maktub não é um livro de conselhos, mas uma troca de experiências”, define Paulo Coelho no prefácio.

O texto da página 13 tem muito a ver com a nova postura de Tite na Copa América. No Mundial da Rússia, o treinador resistia na hora de mudar a Seleção. Agarrou-se a Gabriel Jesus — que passou a Copa inteira sem marcar — do início ao fim quando Roberto Firmino pedia passagem. Escalou Marcelo contra a Bélgica depois de Filipe Luís domar o México nas oitavas.

Paulo Coelho escreve: “Diz o mestre: Quando pressentimos que chegou a hora de mudar, começamos — inconscientemente — a repassar uma tape mostrando nossas derrotas até aquele momento. (…) A experiência nos deu meios de superar estas derrotas e encontrar o caminho que permite seguir adiante. É preciso também colocar esta fita em nosso videocassete mental. Se só assistimos ao tape da derrota, vamos ficar paralisados. Se só assistimos ao tape da experiência, vamos terminar nos julgando mais sábios do que realmente somos. Precisamos das duas fitas”, encerra o texto.

 

“Podem dizer: ‘Pô, Tite, mais isso é autoajuda’. Pra mim, autoajuda é uma entrevista, é tudo o que eu faço na vida e tem algum propósito maior. O livro fala muito legal, ainda mais nesses momentos de pressão que a gente vive”

Tite, em entrevista à ESPN Brasil, em 2016

 

Tite deixou a resistência à mudança lá em Kazan, na Rússia, palco do maior revés da era Tite em 39 jogos à frente da Seleção. Tite contou depois da goleada sobre o Peru como sacou Richarlison e David Neres do time para as entradas de Éverton “Cebolinha” e Gabriel Jesus. “Chamei os cinco e disse: ‘cada um de vocês tem característica diferente. Mas o técnico tem essa responsabilidade, da escolha. Agora, preparam-se todos, porque não sei no próximo jogo quem vai começar. Cada um empresta uma virtude diferente”, respondeu a Cosme Rímoli, do portal R7.

Maktub não é novidade na bagagem do técnico da Seleção Brasileira. Porém, mas está claro que é uma obras preferidas da biblioteca dele desde que assumiu o cargo depois do fracasso do Brasil na edição centenária da Copa América, em 2016. Tite até presentou Filipe Luís com o livro ao explicar por que Marcelo — e não ele — seria o lateral-esquerdo titular da Seleção.

 

Livro inspira Tite desde que assumiu o cargo

 

“A página 55 dele (Maktub) tem uma mensagem muito bonita. Fala: `Assuma o seu caminho. Mesmo que precise dar passos incertos, mesmo que saiba que pode fazer melhoro que está fazendo. Se você aceitar suas possibilidades no presente, com toda certeza vai melhorar no futuro”. Podem dizer: ‘Pô, Tite, mais isso é autoajuda’. Pra mim, autoajuda é uma entrevista, é tudo o que eu faço na vida e tem algum propósito maior. O livro fala muito legal, ainda mais nesses momentos de pressão que a gente vive”, contou em 2016, numa entrevista aos colegas André Kfouri e André Pilhal na ESPN Brasil.

Três anos depois, Marcelo foi preterido na convocação. Filipe Luís é titular na Copa América e até falou sobre o presente no início da era Tite. “Ele demonstra ser uma pessoa extremamente justa. Ele me chamou, disse que tomou a decisão (de escalar o Marcelo), não tem como eu não respeitar, e disse que me respeitava e queria me dar um livro de presente. Eu já li. Isso me conquistou. Todo mundo quer jogar, mas não tem como reclamar, porque quem joga tem muita qualidade. A maneira como o Tite falou comigo me trouxe ainda mais para o lado dele. Quero muito fazer parte desse grupo”, testemunho, assim que o técnico assumiu.

 

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