Como Silvio Berlusconi fez do Milan o segundo time mais vitorioso da Champions League

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A morte do ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi nesta segunda-feira, aos 86 anos, é muito simbólica para uma das camisas mais pesadas do mundo. A vida do político se confundia com a de magnata da comunicação e dono do Milan. Foram 31 anos à frente do segundo clube mais vitorioso na história da Uefa Champions League. Das sete conquistas europeias do clube rubro-negro, cinco aconteceram na gestão do cartola e do fiel escudeiro Adriano Galliani. No ambiente nacional, a administração dele brindou o Milan com oito dos 19 títulos domésticos. O cordão umbilical só foi cortado em 2015, quando o time é vendido a um consórcio chinês.

“Hoje, depois de mais de 30 anos, eu deixo a posição de presidente do AC Milan. Faço isso com dor e emoção, mas com a consciência de que no futebol moderno, competir com os grandes clubes europeus e a nível mundial requer investimentos e recursos que uma única família não consegue sustentar”, escreveu Silvio Berlusconi na rede social quando oficializou a passagem econômica de bastão. “Nunca esquecerei as emoções que o Milan nos deu. Nunca esquecerei todas as pessoas que estão agradecendo por eu ter sido capaz de presidir este clube que ganhou tanto”, registrou, em 2015, na conta pessoal no Facebook.

Na Era Berlusconi, o Milan empilhou 30 títulos. Técnicos lendários como Arrigo Sacchi, Fabio Capello e Carlo Ancelotti ajudaram a sustentar uma gestão vitoriosa. Um dos títulos do time na Champions League teve goleada por 4 x 0 contra o Barcelona na decisão de 1994. O time catalão era comandado à época por Johann Cruyff e tinha, entre outros, o líbero Koeman, o volante Guardiola, o búlgaro Stoichkov e o baixinho Romário em uma fase extraordinária.

Três jogadores conquistaram o prêmio de melhor do mundo da Fifa inaugurado em 1991. O holandês Marco van Basten foi coroado em 1992. O liberiano George Weah assumiu o cetro em 1995. O brasileiro Kaká alcançou o topo na temporada de 2007. Craques como o italiano Paolo Maldini e o ucraniano Andriy Shevchenko bateram na trave e terminaram entre os melhores.

Fã de jogadores brasileiros, Berlusconi contratou uma porção deles para vestir a camisa do Milan. Dos cinco eleitos melhores do mundo, apenas Romário não vestiu o uniforme rossonero. Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Kaká foram sonhos de consumo realizados pelo dirigente. Capitão do penta do Brasil na Copa de 2002, Cafu também passou pelo Milan.

Uma história iniciada oficialmente em 24 de março de 1986. Berlusconi desembarcou no clube em um helicóptero e com uma firme promessa aos jogadores: construir uma Milan capaz de vencer na Itália, na Europa e no mundo, mestre do campo e mestre do jogo. À época, o time amargava sete temporadas de jejum no Campeonato Italiano.

A grande sacada para a guinada foi a contratação de três holandeses. Ruud Guillit, Marco van Basten e Frank Rijkaard viraram símbolo de um time vencedor ao lado de italianos como Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Roberto Donadoni. O Milan encerra a abstinência de títulos no Campeonato Italiano na temporada de 1987/1988 com três pontos a mais que o Napoli.

Antes de Berlusconi, o Milan tinha dois títulos na Liga dos Campeões da Europa nas temporadas de 1962/1963 e de 1968/1969. O jejum de 20 anos acabou em 1988/1989 em um 4 x 0 contra o Steaua Bucaresti da Romênia, no Camp Nou, em Barcelona, com dois gols de Gullit e outros dois de Van Basten. Ambos brilharam no ano anterior ao levar a Holanda ao título da Eurocopa.

Beslusconi profetizou um Milan capaz de conquistar a Itália, a Europa e o mundo. Faltava dominar o planeta. O primeiro dos três títulos chegou em 1989, quando a competição ainda se chamada Copa Intercontinental ou Copa Toyota. O time repetiu o título em 1990 e ganhou pela última vez em 2007 liderado pelo meia-atacante brasiliense Kaká.

Mentor da revolução do Milan, Silvio Berlusconi brigou por outros projetos. Em 1986, propôs o rompimento dos principais clubes da Europa com a Uefa pela criação de uma Superliga Europeia. Qualquer semelhança com o debate atual não é mera coincidência. Recentemente, o dirigente investia em um outro clube de futebol liderado pelo braço direito Adriano Galliani. O Monza era o novo Milan do empresário. O presidente é um dos herdeiros dele, Paolo Berlusconi. O time dos brasileiros Marlon e Carlos Augusto liderado pelo técnico Giovanni Stroppa encerrou a última temporada da Série A em 11º lugar.

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Marcos Paulo Lima

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