Dois títulos consolidam um novo mercado para técnicos em fase de transição na carreira. O do São Paulo, em maio, no Campeonato Paulista, e o do Athletico-PR neste sábado contra o Red Bull Bragantino na decisão da Copa Sul-Americana. Aposentado da profissão de treinador, o coordenador de futebol Muricy Ramalho teve seu papel no fim do jejum tricolor de 12 anos sem título. O diretor técnico Paulo Autuori também na campanha do bicampeonato continental.
Esse mercado aproveitado por Muricy e Autuori se oferece para outros profissionais. Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari, por exemplo. Ambos não têm necessidade de ficar expostos à beira do campo brigando, respectivamente, para evitar rebaixamento do Grêmio e do Cruzeiro. A carreira os colocou em outro patamar. Eles acumularam glórias e fracassos suficientes para oferecer uma nova gestão aos departamentos de futebol. É, sim, um caso a se pensar.
Bicampeão da Libertadores com Cruzeiro (1997) e São Paulo (2005); e campeão mundial pelo tricolor no mesmo ano, Autuori é contraditório. Uma hora está no Botafogo ou no Athletico-PR e na outra no Atlético Nacional da Colômbia ou Ludogorets da Bulgária. Cidadão do mundo.
Quando você menos espera, ele abandona o cargo administrativo e volta a ser técnico e vice-versa. Imprevisível e versátil, aprendeu a transitar muito bem nos dois lados da moeda. Gostem dele ou não, é quem tenta domar a diretoria e o vestiário do Athletico-PR. Tem respeito. O responsável por sustentar o português António Oliveira enquanto deu; e pela escolha de Alberto Valentim para assumir o projeto de tornar o Furacão bicampeão da Sul-Americana.
Missão dada, missão cumprida. Valentim não fez nada demais. Longe disso. Os conceitos do treinador são mais do mesmo, mas bastaram para o clube bater a meta e, se possível, ir além caso supere o xará mineiro, em dezembro, na decisão da Copa do Brasil.
O gol do atacante Nikão na vitória por 1 x 0 no Estádio Centenário, em Montevidéu, reforça a consolidação do Athletico-PR como um dos gigantes do país. Foi campeão brasileiro em 2001 na penúltima edição do mata-mata. Vice na era dos pontos corridos em 2004 brigando pelo título com o Santos. Conquistou a Copa do Brasil em 2019. É bi da Sul-Americana.
Eu ou você podemos não gostar de Mário Celso Petraglia. Faz parte. É indiscutível, no entanto, o sucesso administrativo do clube. O Athletico-PR já poderia ser campeão da Libertadores. Em 2005, disputou a final contra o São Paulo. Impedido de mandar o jogo de ida na até então acanhada Arena da Baixada, e sem a permissão do Coritiba para atuar no Couto Pereira, foi obrigado a pedir asilo ao Inter, no Beira-Rio, sem os decibéis de sua apaixonada torcida.
Ciente do seu tamanho, o Athletico-PR começa a operar no modo Sevilla – o time espanhol que se tornou bicho papão na Copa da Uefa/Liga Europa e volta e meia está ali na Champions League tentando aprontar. Um dia desses, quem sabe, belisca uma final e até título maior.
O que podemos dizer hoje, com certeza, é o que diz o primeiro trecho do hino do bicampeão da Copa Sul-Americana: “Athletico, Athletico, conhecemos teu valor”. O Paraná, o Brasil e a América do Sul. Parabéns, Furacão!
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