Como o futebol brasileiro foi de fábrica de brucutus a exportador de volantes modernos para a Inglaterra

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As transferências dos volantes Andrey Santos, Danilo e João Gomes para a Premier League nesta janela de inverno do mercado europeu consolidam uma guinada no futebol brasileiro. Houve um tempo em que torcíamos o nariz para os brucutus — aqueles volantes volantes botinudos, quase sempre posicionados entre os zagueiros, programados nos clubes e na Seleção Brasileira tão somente para matar jogadas, neutralizar os adversários, atuar como carrapato, cão de guarda, homem de proteção, cadeado do sistema defensivo. Há cada vez menos espaço para esse perfil de jogador nos conceitos pós-modernos do esporte mais popular do mundo.

Estamos na era dos volantes virados. Capacitados a fazer trabalhos sujos e limpos. Basta olhar para os volantes brasileiros em ação no Campeonato Inglês. Casemiro é completo. Em fase de adaptação depois de atuar no Porto e no Real Madrid, aos poucos ele vai tomando conta do meio de campo do Manchester United. Fred decepcionou, sim, na Copa do Mundo, mas é uma ferramenta importantíssima para o técnico holand6es Erik tem Hag nos Diabos Vermelhos não somente no papel de marcador, mas na função de construtor e até finalizador de jogadas.

Bruno Guimarães era um baita jogador no Athletico-PR. Evoluiu no Lyon e cresce ainda mais com a camisa do Newcastle. Teve altos e baixos quando esteve em campo na Copa, porém é um senhor volante. Tem leitura de jogo e QI para mudar partidas com criatividade e passes inteligentes. É nome para se consolidar na Seleção no ciclo para a Copa de 2026.

Revelado pelo Vasco, Douglas Luiz fez parte dos planos de Tite para a Copa. Ficou pelo caminho na lista final dos 26. Apesar disso, passa por um upgrade no Aston Villa. É mais um nome certo para ser acompanhado de perto pelo sucessor de Tite no começo do próximo trabalho.

O Liverpool conta com o excelente Fabinho. Outro senhor volante. Dispensa comentários. A exibição contra Camarões na terceira rodada da fase de grupos da Copa indicou a necessidade de usá-lo mais vezes, até mesmo ao lado de Casemiro se fosse necessário. Pior que era! Ele permaneceu no banco de reservas até mesmo quando o Brasil vencia a Croácia na prorrogação. O Fulham conta com Andreas Pereira, ex-Flamengo, chamado por Tite no início do ciclo anterior.

Se hoje exportamos volantes talentosos como Andrey Santos, Danilo e João Gomes para a melhor liga do mundo, devemos muito ao que Barcelona e Real Madrid fizeram nas décadas passadas deste século. O time catalão esfregou na cara da sociedade da bola um meio de campo extremamente talentoso formado por Busquets, Xavi e Iniesta. Na sequência, o Real Madrid empilhou títulos com um setor criativo formado por Casemiro, Toni Kroos e Modric. A reinvenção de Andreas Pirlo no Milan e na Juventus mudou conceitos no futebol brasileiro.

Os professores das divisões de base estavam atentos a esse movimento e começaram a fabricar volantes capacitados a se virar em mais de uma função. O futebol brasileiro perde Andrey Santos, Danilo e João Gomes, mas logo teremos substitutos no Brasileirão. O volante André do Fluminense, por exemplo, é ótimo jogador. Pode ser o próximo a pegar o rumo da Europa.

Ao contrário dos brucutus, os volantes modernos conduzem a bola de cabeça em pé, sem olhar para a bola. Geralmente têm bom passe, são bons na bola parada, chutam de fora da área, pisam dentro dela para finalizar, como fez Casemiro ao desequilibrar o duelo com a Suíça na Copa e desatar nós difíceis para o Real Madrid até mesmo em finalíssima de Champions League.

Que os volantes virados Andrey Santos, Danilo e João Gomes sejam felizes no Chelsea, Nottingham Forest e Wolverhampton, respectivamente. O trio fará falta, mas tomara que evoluam na Premier League. A Seleção Brasileira agradece na retomada do projeto do hexa.

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Marcos Paulo Lima

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