Coman Coman: herói do Bayern foi lançado por Carlo Ancelotti no PSG em 2013. Foto: AFP Coman: herói do Bayern foi lançado por Carlo Ancelotti no PSG em 2013. Foto: AFP

Coman, a cria da base do PSG que virou herói do hexa Bayern e minou sonho do jogador mais caro do mundo Neymar

Publicado em Esporte

O projeto da Qatar Sports Investiment (QSI) investiu R$ 8,4 bilhões de 2011 a 2020 no projeto de levar o Paris Saint-Germain ao título inédito da Uefa Champions League, mas coube ironicamente a um jogador revelado pelas divisões de base do clube francês, que deixou o clube de graça rumo à Juventus e depois custou 21 milhões de euros ao Bayern de Munique, o papel de herói do hexa do clube alemão na final deste domingo, no Estádio da Luz, em Lisboa.

Ponta moderno, Kinglsley Junior Coman nasceu na capital Paris, em 1996. Tem 24 anos. Chegou ao PSG quando tinha 10 anos. Não é somente daqueles extremos de aprontar correria nos lados do campo no um contra um e cruzar para a área. Sabe fazer gol. Foram oito nesta temporada — 33 na carreira. O mais importante no segundo tempo da vitória por 1 x 0 sobre o Paris Saint-Germain. Coman estreou no PSG, em 2013, sob o comando do técnico italiano Carlo Ancelotti. Tinha 16 anos, 8 meses e 4 dias. Cedido à Juventus a custo zero no ano seguinte, foi emprestado por 7 milhões de euros ao Bayern de Munique e depois comprado pelo triplo pelo clube bávaro. O investimento está mais do que pago.

Volta e meia, a bola pune quem desperdiça pratas da casa. Coman não é o primeiro nem será o último equívoco do PSG. Destaque da França no Mundial Sub-17 do ano passado, no Brasil, o meia-atacante Adil Aouchiche acaba de trocar o clube francês pelo Saint-Etiénne. O time também deixou escapar recentemente Nkunku, Diaby e Kouassi. A política de apostar em medalhões reduz o espaço da molecada. O zagueiro Kimpembe era a única cria do PSG entre os titulares na decisão. Entrou no time quase a fórceps. Para isso, Marquinhos precisou ser deslocado para primeiro volante. O brasileiro deixou claro mais de uma vez que prefere atuar na defesa.

O Bayern conquista o título de maneira incontestável. Desbancou Chelsea, Barcelona, Lyon e PSG na fase eliminatória. Humilhou o time de Lionel Messi por 8 x 2 nas semifinais. Este resultado por si só resume a campanha invicta: 11 jogos e 11 vitórias, com 43 gols marcados. Favorito a melhor jogador do mundo em 2020, Lewandowski é o artilheiro com 15 gols. O time conquista pela segunda vez a tríplice coroa: Bundesliga, Copa da Alemanha e Champions League.

Escrevi no artigo publicado sábado na edição impressa do Correio Braziliense que é mais fácil ser campeão inédito na Libertadores do que na Champions League. A camisa pesa demais no principal torneio de clubes da Europa. Neste século, Once Caldas (2004), Internacional (2006), LDU (2008). Corinthians (2012), Atlético-MG (2013) e San Lorenzo (2014) conseguiram o feito. No Velho Mundo, somente o Chelsea conseguiu a proeza, em 2012, contra o Bayern.

Autor do gol do sexto título do Bayern, Coman deixou o PSG de graça rumo à Juventus, em 2014. Três anos depois, Neymar desembarcava no clube como jogador mais caro da história: 222 milhões de euros

No primeiro tempo da decisão, o PSG cometeu pecados inaceitáveis numa decisão. Neymar esbarrou na muralha Neuer. Que goleiro! Di María desperdiçou oportunidade incrível ao mandar a bola nos ares. Mbappé tremeu na cara do gol ao “recuar” a bola para Neuer na entrada da pequena área em vez de encher o pé estufar a rede. O time francês teve chances, mas vacilou.

Na Liga dos Campeões marcada pelo sucesso dos times alemães, o timaço de Hans-Dieter Flick minou o PSG no setor em que o PSG inexiste. Não adianta contar com Neymar, Mbappé e Di María na frente e não ter meio de campo. Thiago Alcântara, o filho do campeão mundial em 1994 Mazinho, auxiliado pelo excelente Goretzka, dominaram o setor na decisão. As alterações equivocadas de Thomas Tuchel na etapa final isolaram Neymar e Mbappé. Os dois fora de série conseguiram poucas conexões durante a partida. Mérito da proposta de jogo do Bayern. Inexplicável a ausência de Icardi na partida. A perda de Cavani para a falta final.

Neymar chegou longe. Contratado por 222 milhões em 2017, o jogador mais caro da história do futebol cumpriu 50% da missão dada pelo rico dinheirinho do Catar ao levar o time à inédita final da Champions League. Cobras como Ricardo Gomes, Raí, Ginola e Weah não conseguiram em 1995. Caíram nas semifinais diante do Milan de Fabio Capello. Dois anos depois de virar piada na Copa da Rússia, o craque deixou de ser menino. Perdeu como homem. Não ficou se jogando, não apelou, cumprimentou adversários na cerimônia da premiação. Esperava um pouco mais dele na partida, mas falta gente boa de bola em campo. Daniel Alves é Cavani, por exemplo, dariam mais qualidade ao PSG. Porém, o clube não quis renovar o contrato do lateral e do maior artilheiro da história do clube. O barato, às vezes, são caro.

Neymar tem o título conquistado pelo Barcelona, em 2015. O PSG continua sonhando com a glória inédita. Neymar e Mbappé continuarão fazendo parte desse projeto? Tudo dependerá dos movimentos friamente calculados de Lionel Messi no Barcelona e de Cristiano Ronaldo na Juventus. Ambos podem bagunçar o mercado em breve. Duas lições devem ser aprendidas pelo brasileiro: é preciso jogar para o time e nem sempre dá para resolver sozinho apostando no talento dele, Neymar, ou de Mbappé. O futebol moderno definitivamente é coletivo.

O Bayern repete o que fez o Liverpool no ano passado. O futebol coletivo supera a ausência de um figurão. Os últimos quatro países campeões da Copa do Mundo também funcionaram assim: Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018). Nesta Champions, Cristiano Ronaldo não conseguiu ser super-herói contra o Lyon. Messi foi humilhado pelo Bayern. A sociedade entre Neymar e Mbappé não funcionou diante do agora hexacampeão Bayern. O brasileiro Philippe Coutinho fez parte dessa história com a camisa 10. Começou a temporada como titular, mas aprendeu a importância de ser mais um na engrenagem do Bayern. Inclusive esquentando o banco de reservas quando necessário. Sem chilique.

 

Siga no Twitter: @mplimaDF

Siga no Instagram: @marcospaulolimadf