Os clubes, principalmente os brasileiros, torcem o nariz com a convocação da Seleção para os Jogos Olímpicos, mas no fundo, estão jogando para a torcida. Com raras exceções, os cartolas curtem, sim, a oportunidade de mais um balcão de negócios com tamanha visibilidade. Em tempos de pandemia do novo coronavírus, sem previsão para acabar, por sinal, eles precisam vender talentos para ajustar balanços financeiras arrochados pela crise sanitária. Há buracos nas contas. Um deles, a falta de bilheteria.
Não precisamos ir tão longe. Há cinco anos, em um mundo sem pandemia, a geração dourada dos Jogos Olímpios do Rio-2016 rendeu rico dinheirinho aos clubes justamente no período em que alguns personagens estavam cedidos justamente ao time comandado, à época, por Rogério Micale. Gabriel Jesus, por exemplo, foi vendido para o Manchester City quando estava em Brasília, na concentração. O clube inglês desembolsou à época 32,75 milhões de euros (R$ 121 milhões) pelo atacante e oficializou a transação.
Gabriel Jesus, inclusive, deu a primeira declaração como jogador do Manchester City de dentro da concentração verde-amarela. “O Manchester City é um dos maiores clubes do mundo, e estou muito feliz por assinar com eles. Tem muitos grandes jogadores e um treinador fantástico, que é o Pep Guardiola, com quem posso aprender muito”, afirmou em 3 de agosto, na véspera da estreia contra a África do Sul no Mané Garrincha. Antes, ele havia disputado amistoso contra o Japão, no Serra Dourada, em Goiânia, onde o estafe dele praticamente selou a transferência para Europa.
“Espero mostrar o meu melhor aos torcedores do City e eu acho que teremos um grande futuro juntos”, completou o atacante, que havia acabado de sacramentar o vínculo com a equipe comandada por Pep Guardiola.
O Santos também se deu bem com a conquista inédita da medalha de ouro. O Brasil levou o título em 20 de agosto de 2016. Seis dias depois do título, a Internazionale desembolsava R$ 108 milhões por Gabriel Barbosa, o Gabigol. O desempenho do atacante na competição pesou. Ele formou quarteto ofensivo com Neymar, Gabriel Jesus e Luan durante a competição.
Outros clubes se beneficiaram com a vitrine olímpica. Dez dias depois do ouro, o Atlético-MG ganhou R$ 25 milhões com a venda do lateral-esquerdo Douglas Santos para o Zenit São Petersburgo, da Rússia. Mais dois jogadores foram vendidos seis meses depois da conquista: o volante Walace trocou o Grêmio pelo Hamburgo e o lateral William, o Inter, pelo Wolfsburg. Mais à frente, Thiago Maia saiu do Santos para o Lille, em outro sinal da valorização.
A lista de André Jardine tem talentos que podem fazer muita diferença nas contas dos clubes. O Palmeiras sabe que pode ganhar um bom dinheiro com a venda do talentoso Gabriel Menino. O Red Bull Bragantino, que recruta talentos justamente para fazer negócios, tem Claudinho como excelente oportunidade de negócio. Matheus Henrique é um volante com mercado na Europa. Embora esteja pagando caro por Pedro, o Flamengo sabe que o jogador tem potencial para ser comprado por clube de ponta do Velho Mundo. Se brincar, ele pode inclusive se pagar e ainda deixar um bom troco na conta corrente do clube da Gávea.
Portanto, muito cuidado com os discursos dos dirigentes. Com raras exceções, a gritaria pode ser da boca para fora. Tão somente para dar satisfação a você, torcedor. Mas não se iluda. Se em 2016, sem pandemia, a Seleção olímpica foi um baita balcão de negócios para os clubes, imagine agora, com as contas devastadas pela pandemia do novo coronavírus.
A lista de André Jardine
Goleiros
Santos (Athletico-PR)
Brenno (Grêmio)
Zagueiros
Nino (Fluminense)
Gabriel Magalhães (Arsenal)
Diego Carlos (Sevilla).
Laterais direitos
Daniel Alves (São Paulo)
Gabriel Menino (Palmeiras)
Laterais esquerdos
Guilherme Arana (Atlético-MG)
Matheus Henrique (Grêmio)
Volantes
Bruno Guimarães (Lyon)
Gerson (Olympique de Marselha)
Douglas Luiz (Aston Villa)
Meia
Claudinho (Red Bull Bragantino)
Atacantes
Antony (Ajax)
Matheus Cunha (Hertha Berlim)
Malcom (Zenit)
Pedro (Flamengo)
Paulinho (Bayer Leverkusen)
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